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sábado, novembro 23, 2024

“Pedacinho do Paraguai em São Paulo” rende prêmio e ensinamentos para jovem jornalista

Com a reportagem Um Pedacinho do Paraguai na zona oeste de São Paulo, a então estudante de Jornalismo Ana Carolina Neira foi a vencedora do 8º Prêmio Santander Jovem Jornalista, entregue em novembro de 2013 e realizado em conjunto com a Semana Estado de Jornalismo. A ideia surgiu no ano anterior, a partir de uma pauta sobre imigrantes que fez para a Esquinas, revista laboratório da Faculdade Cásper Líbero – onde se formou no ano passado.

Como prêmio oficial, Ana Carolina ganhou uma bolsa de estudos de seis meses na Universidade de Navarra (Espanha). Mas na prática, a gratificação vai bem além da oportunidade de estudar no exterior devido aos ensinamentos que colheu a partir das pautas. “Hoje sou mais atenta e preocupada com as questões sobre imigração, pois vejo pelo lado dos imigrantes. E após a matéria eu realmente me sinto na responsabilidade de fazer algo por eles, como cidadã e jornalista. Não sinto como se eu devesse algo em troca, mas acho que é o mínimo que eu posso fazer, sabe? É divulgar, dar voz a essas pessoas, cumprir o papel que minha profissão deve desempenhar na sociedade mesmo”.

A jornalista Ana Carolina Neira, vencedora do 8ª Prêmio Santander Jovem Jornalista, com reportagem sobre a comunidade paraguaia em São Paulo. Crédito: Arquivo pessoal
A jornalista Ana Carolina Neira, vencedora do 8ª Prêmio Santander Jovem Jornalista, com reportagem sobre a comunidade paraguaia em São Paulo.
Crédito: Nivaldo Silva/ NH Photos

Atualmente no núcleo online da revista Isto É e com passagem pelo portal R7, Ana Carolina parte para Navarra em agosto. Após o curso, pretende seguir carreira em jornalismo internacional e fazer pós-graduação ou mestrado em Relações Internacionais. Ela ainda é uma das autoras do livro “Memórias Abertas”, sobre os centros de tortura clandestinos utilizados durante a ditadura militar – apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no fim de 2013.

Na entrevista abaixo, a jornalista fala um pouco mais sobre a elaboração das pautas (incluindo a que rendeu o prêmio) e das influências que a experiência com os migrantes exerce até hoje sobre seu trabalho. A matéria premiada pode ser lida acessando este link.

MigraMundo: De onde surgiu a ideia de falar sobre a comunidade paraguaia na zona oeste de São Paulo?
Ana Carolina Neira: A ideia surgiu de uma pauta sobre imigração que eu tinha feito para a revista Esquinas, a revista laboratório da Cásper Líbero, onde me formei. Fiz uma pauta sobre imigrantes paraguaios, peruanos, bolivianos e haitianos para a revista em 2012 e foi assim que conheci o grupo, já sabia que eles tinham muitas histórias que merecem ser contadas.

Qual era sua percepção sobre o Paraguai e seu povo antes de fazer esse trabalho? E com a elaboração e finalização dele, mudou algo?
Sinceramente, não me lembro de ter concepções muito definidas sobre os imigrantes que viviam em São Paulo até fazer esse primeiro trabalho com eles em 2012. Eu tinha aquela visão genérica de que eram pessoas que, por diferentes motivos, vinham tentar a vida no Brasil, algo que poderia soar interessante para eles pela quantidade de imigrantes que já vivem aqui há anos. E tinha noção das dificuldades, afinal, não vemos imigrantes bolivianos ou paraguaios ocupando grandes posições nas empresas ou morando em bairros ricos. O que aconteceu após fazer as duas matérias é que eu passei a entender melhor como é a vinda deles, os motivos, como é criada essa rede de ajuda entre eles, a percepção de quem vem desses países sobre o Brasil e sobre São Paulo e, principalmente, as falhas do governo perante eles.

Quais foram os maiores desafios que você encontrou durante a elaboração da reportagem?
O maior desafio foi um dos clássicos para qualquer jornalista: transformar mais de 3 horas de entrevistas muito boas em 3 mil toques. Nesses casos eu acabo abraçando a causa do entrevistado, então a vontade que dá é de escrever sem limites, pois são muitas histórias. Fica aquela sensação de que eles merecem ser ouvidos em absolutamente tudo! Foi basicamente isso, porque de resto a praça era de fácil localização e os entrevistados foram muito gentis comigo. Ah, e a corrida contra o tempo, claro, pois eu tinha prazo para entregar o texto.

Que reação a comunidade paraguaia teve ao tomar conhecimento da sua pauta?
Na fase da pauta ficaram felizes por verem que jornalistas ainda tem interesse em contar histórias como as deles, o que facilitou muito o meu trabalho. Eles tiveram interesse em participar e ajudar em tudo. E com a conclusão e publicação, ficaram muito felizes e gratos por sentir que alguém estava dando voz aos problemas e demandas deles. Rolou um sentimento de que posso contar com eles para o meu trabalho como jornalista e de que eles podem contar comigo para fazer o papel social do jornalista. Acabei conhecendo até outros paraguaios, que eu nem conhecia, mas que vieram falar comigo após lerem a matéria.

O resultado dessa matéria tem algum tipo de influência sobre seu trabalho atualmente?
Tem, sem dúvidas. E não estou nem falando do prêmio ou da repercussão, mas apenas da matéria em si, pronta. Hoje sou mais atenta e preocupada com as questões sobre imigração, pois vejo pelo lado dos imigrantes. E após a matéria eu realmente me sinto na responsabilidade de fazer algo por eles, como cidadã e jornalista. Não gosto da ideia do jornalista que chega, aproveita as histórias de ida das pessoas (muitas vezes, tristes) e simplesmente vai embora, publica e segue a vida. Não sinto como se eu devesse algo em troca, mas acho que é o mínimo que eu posso fazer, sabe? É divulgar, dar voz a essas pessoas, cumprir o papel que minha profissão deve desempenhar na sociedade mesmo. No caso dos paraguaios foram pessoas solícitas, que me receberam muitíssimo bem, me ajudaram demais. Como eu poderia não me preocupar mais com eles? Além disso, o tema imigração me aproximou de refugiados também.

Você ainda tem algum tipo de contato com os paraguaios entrevistados para a matéria?
Tenho, com todos. Vários deles estão aqui no meu Facebook e fazem questão de manter contato, é bem legal.

Quando você parte para Navarra? E além dos estudos na Espanha, quais os planos para a carreira daqui em diante?
Viajo em agosto. Quando voltar pretendo seguir carreira em jornalismo internacional e fazer pós ou mestrado em relações internacionais.

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