Unir a pesquisa acadêmica à fotografia para documentar a migração boliviana para São Paulo, rebatendo estereótipos relacionados a ela e dando visibilidade ao tema tanto no Brasil como na Bolívia. Esses é o desafio escolhido pelo sociólogo e fotógrafo boliviano Eduardo Schwartzberg, que pretende exibir os resultados nos dois países em 2017.
Aproveitando a pesquisa sobre bolivianos em São Paulo que faz atualmente na USP (Universidade de São Paulo), Schwartzberg busca jogar luz sobre um tema que, embora bastante abordado no Brasil, ainda é pouco estudado na Bolívia em comparação com a migração boliviana em outros países.
Em entrevista ao MigraMundo, Schwartzberg explica de onde partiu a motivação para o projeto e também como a migração se insere no contexto boliviano – sendo inclusive apontada por ele como uma tradição do país natal.
MigraMundo: De onde veio a ideia para os projetos e há quanto tempo eles vem sendo desenvolvidos?
Eduardo Schwartzberg: Eu estou fazendo um mestrado em Estudos Culturais na USP. Minha pesquisa é sobre a migração dos bolivianos ao São Paulo, que é uma das mais características desta última década. E como também tenho formação na fotografia, eu achei interessante também fazer um projeto ligado ao meu projeto de pesquisa na universidade. O projeto já leva o primeiro ano de sua realização e vai finalizar em 2017.
Por que a escolha pela fotografia e pelo documentário para os projetos?Principalmente por minha formação na fotografia, já que trabalhei muitos anos fazendo fotojornalismo em meu país. Acho que as fotografias são um ótimo instrumento de interpretação da realidade quando a abordagem destas não se reduz ao estético, mas principalmente atende à densidade de seu conteúdo simbólico.
Quais têm sido as maiores dificuldades que você enfrenta para desenvolver o projeto?
Até agora [a maior dificuldade] foi conseguir o financiamento para a montagem da mostra fotográfica, bem como para o desenvolvimento do projeto. Como sou um imigrante novo em São Paulo [chegou em 2014], ainda não conheço bem os caminhos certos para isto.
Em uma matéria publicada na Bolívia sobre seu projeto (acesse aqui), você disse que a migração por meio de redes de parentesco é uma forma de resistência. Poderia explicar um pouco melhor esse pensamento?
A migração boliviana tem uma característica essencial. Ela é uma tradição. Isto acontece porque um quinto dos bolivianos está fora do país. As pessoas, principalmente das províncias da Bolívia, compreendem o migrar como um habitus de existência que se reproduz como uma espiral, com o objetivo de dar continuidade a esta pratica vivencial.
A migração, embora não seja estática, tem uma acumulação de experiências passadas. O migrante leva consigo um conhecimento acumulado sobre como migrar. Esse tipo de migração tem a caraterística de ter um tecido de relações de parentesco que permite uma migração certa.
E as relações são baseadas não somente no mercantil, mas também em amizade ou de reciprocidade, pelo qual dá um jeito para resistir a épocas de crise, assim como também a formas de exploração.
Na sua opinião, como tem sido nos últimos anos o tratamento que os bolivianos recebem na imprensa brasileira?
[A imprensa] Está sempre estigmatizando, somente mostrando um lado reduzido da comunidade e da experiência de ser imigrante. Os bolivianos que decidem migrar têm um espirito de trabalho muito forte e têm de passar o que na Bolívia se chama “direito e chão”. Mas a prática da mídia é representar a vulnerabilidade do trabalho irregular, sempre fazendo a referencia ao escravo.
Poderia explicar um pouco melhor o que seria o “direito e chão”?
Direito de chão é uma expressão muito conhecida na Bolívia e representa um habitus arraigado na cultura boliviana, na qual o novo sempre passa por um rito de iniciação, na que tem que fazer méritos para integrar-se ao grupo em diferentes espaços. Esses méritos podem variar, dependendo do espaço e classe de grupo ao que se quer integrar ou participar. É um rito pelo qual os mais velhos também já passaram.
Ainda falando sobre cobertura da imprensa, e na Bolívia? Como é abordada a temática da migração por lá, em relação aos emigrados e aos que chegam ao país?
Na Bolívia o que se conhece principalmente é o caso da migração à Argentina, pela quantidade de pessoas que vivem lá e também pela ingerência cultural que a Argentina exerce sobre a Bolívia. Faz poucos anos que existe uma abertura maior ao caso brasileiro. Um exemplo disto é que não existe um trabalho sério de pesquisadores bolivianos sobre isto. Um problema-chave é a diferença da língua entre Brasil e Bolívia.
O projeto deve gerar exposições no Museu da Imigração e em La Paz. E qual a expectativa para esse duplo lançamento?
O Museu da Imigração aceitou com interesse o projeto, principalmente porque será um arquivo importante para seu acervo daqui a um tempo, quando terá de mostrar as migrações que recebeu São Paulo neste novo século. Além disso, a exposição tem a intenção de mostrar um olhar contra hegemônico, mais amplo e profundo, que não fica na dualidade cartesiana ou binária.
Em La Paz também o projeto teve um grande recebimento, e expressaram interesse em apoiar o projeto, pagando os custos da montagem, concedendo uma sala de exposição e com a publicação de um livro.
Você é migrante no Brasil. Em que medida esse fato influencia nos projetos e na abordagem da temática migratória em cada um deles?
É uma grande diferença, porque eu vejo a partir de dentro e não de uma visão idealizada, que reproduz uma forma ou repete significados. Este posicionamento em dois níveis, tanto metodológico como de afinidade, nos permitem [os migrantes] uma sensibilidade diferente para falar sobre o tema.
CarÃssimo Rodrigo,Paz!Verdadeira e oportuna essa nova denúncia. Nós, da Fraternidade Leiga Charles de Foucauld, também estamos voltados à questão dos migrantes. Eles nos pertencem. Temos que ser solidários.Envio para vocês o programa de nosso Retiro de Nazaré, um momento que queremos entender a vida dentro de uma espiritualidade encarnada e voltada para os mais desafortunados da sociedade.Votos de felicidade.Abs.renato bicudo