Por Rodrigo Veronezi e Milene Miller
A advogada migratória Ingrid Domingues McConville, baseada em Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, atua na área de migração há 26 anos. Em entrevista para o MigraMundo, ela comentou as medidas recentes tomadas pelo presidente Joe Biden na temática. Segundo ela, em um momento conturbado como o atual em razão da pandemia, um plano migratório ambicioso parece inadequado.
“Excesso de promessas e mudanças provocam uma crise na fronteira (…) agora tem muita gente chegando, e isso, aliado à crise econômica, pode provocar uma divisão ainda maior na questão migratória”.
Sucessor de Donald Trump na Casa Branca, Biden foi eleito tendo como uma de suas promessas uma mudança na forma de lidar com a imigração nos Estados Unidos. Sua vitória foi vista por grupos migrantes diversos como uma sinalização de que os Estados Unidos se tornariam um país mais aberto e receptivo a imigrantes.
Alguns democratas partilham da mesma opinião. Um parlamentar do Texas disse ao jornal The Washington Post que “Biden está mandando uma mensagem terrível” ao espalhar um discurso pró-migração, mas sem fazer quaisquer mudanças na fronteira.
De fato, Biden enfrenta um duro embate. Se antes os democratas eram unidos contra Trump e suas medidas hostis aos imigrantes, hoje o partido encontra-se dividido: os mais progressistas o criticam pela situação atual da fronteira, e os mais moderados pedem por uma mudança gradual para evitar uma crise maior. Enquanto isso, os republicanos aproveitam para usar a situação na fronteira com o México para atacar os democratas.
Biden e os brasileiros nos EUA
Quanto aos brasileiros que vivem nos Estados Unidos ou que planejam migrar, as consequências são diversas, a depender das circunstâncias. De acordo com McConville, as medidas tomadas por Biden até agora não afetam, em geral, a maior parte dos brasileiros que vivem nos Estados Unidos, pois elas são mais voltadas para aqueles que atravessam a fronteira e que migram por motivos humanitários. Já os brasileiros que ficam indocumentados normalmente chegam de avião com visto temporário (como de turista ou estudante) e acabam permanecendo por tempo indeterminado, embora alguns também tentem o ingresso por meio da fronteira com o México.
É interessante notar que muitos brasileiros imigrantes não são favoráveis à política migratória de Biden. “Por incrível que pareça, a maior parte dos meus clientes são conservadores. Eles entendem como é a vida de quem vive de maneira irregular e não desejam que mais pessoas vivam ou venham para cá da mesma maneira”, observou McConville.
Vale notar que parte dessa rejeicao dos brasileiros à política de Biden esta intrisecamente ligada a outras questões que tambem dividem a população, como o aborto e causa L.G.B.T.Q, pautas defendidas pelos democratas e rechacadas pelos republicanos, sendo inclusive motivo pelo qual muitos latinos imigrantes apoiaram Trump na última eleição.
Além disso, brasileiros que vivem nos EUA, mas simpatizam com o governo Bolsonaro, que tinha Trump como aliado ideológico, dificilmente aprovarão qualquer política tomada por Biden, ainda que os favoreçam.
Na eleição presidencial de 2018, Bolsonaro foi o candidato mais votado também entre os brasileiros que vivem no exterior. No primeiro turno, o capitão reformado ficou com 61% dos votos dessa diáspora, contra 18% de Fernando Haddad e 8% de Ciro Gomes. No segundo turno, ele derrotou Haddad por 71% a 29%.
Nos Estados Unidos, a proporção foi ainda maior, com Bolsonaro ficando com 81,7% dos votos.
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