A espera terminou. Depois de mais de um mês de combates e de tensão em Gaza, em razão do conflito entre Israel e o grupo Hamas, um grupo de 32 brasileiros e familiares palestinos enfim deixou o enclave, Embora a autorização tenha sido dada na sexta-feira (10), o cruzamento da fronteira com o Egito, contudo, demorou mais tempo e só foi concretizado no domingo (12).
Da fronteira entre Gaza e Egito, os brasileiros repatriados foram levados para o Cairo, de onde partiu o avião presidencial que tem Brasília como destino final. A chegada à capital federal está prevista para ocorrer entre a noite desta segunda-feira (13) e a madrugada de terça-feira (14), onde serão recebidos pelo presidente Lula.
Duas pessoas, que integravam a lista original de 34 nomes, confeccionada após ampla consulta à comunidade em Gaza, desistiram da repatriação antes do embarque para o posto de Rafah, em Gaza. Embarcaram de volta ao Brasil: 22 brasileiros, 7 palestinos que têm RNM (Registro Nacional Migratório) e 3 palestinos que são familiares próximos. Dentre eles, 17 são crianças, 9 são mulheres e 6 são homens.
Segundo informações do Itamaraty, a inclusão dos brasileiros na lista da última sexta-feira em Rafah foi informada ao Ministro Mauro Vieira pelo chanceler de Israel, Eli Cohen, na tarde do dia anterior. Foi o quarto telefonema entre ambos desde os atentados de 7 de outubro em Israel, que desencadearam o mais novo conflito na região.
Antes, o governo brasileiro já havia conseguido a repatriação de 1.410 brasileiros de Israel e 32 da Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel e que vem experimentando uma crescente em violência.
O Itamaraty também informou que prepara o resgate de um segundo grupo com cerca de 50 pessoas em Gaza. No entanto, ainda não há uma data prevista para realização dessa operação.
Uma vez em território brasileiro, o grupo repatriado vai receber do governo federal abrigo, documentação e alimentação.
Processo moroso e pouco transparente
O processo de retirada de pessoas de Gaza é moroso e requer autorização de todos os países envolvidos na operação. São eles: Egito (que recebe quem deixa Gaza), Israel (que quer monitorar a uma possível evasão de terroristas do Hamas), dos próprios Estados Unidos e do Qatar, estes últimos como mediadores.
Além disso, a falta de critérios claros sobre o processo de liberação leva a uma série de questionamentos no Brasil acerca da demora, especialmente pelo fato de o país ter boas relações diplomáticas com todos os lados envolvidos.
“Os critérios das listas não estão claros nem mesmo para nossas autoridades. O que temos assistido é o Egito e Israel numa tentativa de se eximir da responsabilidade de apoiar na operação e tentar deixá-la a cargo do outro”, ressaltou Victor Del Vecchio, advogado e consultor em Direitos Humanos e Migrações, em entrevista ao MigraMundo na semana passada.
Del Vecchio também elogiou o Itamaraty quanto aos esforços para repatriar os cidadãos sob sua tutela (tanto brasileiros quanto palestinos em migração para o Brasil), assim como fez com os nacionais que deixaram Israel e Cisjordânia. Ele também não crê em retaliação por parte de Israel ao Brasil pelo fato do país ter costurado uma resolução considerada desfavorável a Tel Aviv no Conselho de Segurança da ONU, nem por Brasília não reconhecer o Hamas como grupo terrorista. O Brasil apenas reconhece como tal os grupos que são considerados terroristas pela ONU.
Orientações adicionais
Para os brasileiros que ainda estão em Israel e Cisjordânia, o Ministério das Relações Exteriores mantém a orientação de que todos aqueles que possuam passagens aéreas, ou condições de adquiri-las, embarquem em voos comerciais a partir dos aeroportos de Amã e Tel Aviv, que seguem operando.
Além disso, informa a chancelaria, os plantões consulares da Embaixada em Tel Aviv (+972 (54) 803 5858) e do Escritório de Representação em Ramala (+972 (59) 205 5510), com “WhatsApp”, permanecem em funcionamento para atender nacionais em situação de emergência. O plantão consular geral do Itamaraty também pode ser contatado por meio do telefone +55 (61) 98260-0610.
“O governo brasileiro volta a desaconselhar quaisquer deslocamentos não essenciais para a região”, ressalta o Itamaraty.
Desde o começo do conflito no Oriente Médio, em 7 de outubro, mais de 10 mil pessoas morreram no lado palestino e 1,4 mil no israelense, segundo dados divulgados pelas duas partes. Agências internacionais têm alertado para uma catástrofe humanitária imimente diante da dificuldade em fornecer insumos médicos, água e comida para as pessoas que estão em Gaza.
Cerca de 70% dos 2,3 milhões de residentes de Gaza fugiram de suas casas desde o início dos ataques. Alimentos, medicamentos, combustível e água estão escassos. Escolas administradas pela ONU foram convertidas em abrigos, já lotados, e muitas pessoas estão dormindo nas ruas.