Por Lívia Major
Tapumes que viram telas em branco. Prontas para receber a inspiração de diversos artistas. Gente do mundo todo que, além do talento, têm outra coisa em comum: a maioria são refugiados.
Lavi Israel é congolês e conta que sempre sonhou em viver da sua arte, mas não teve essa oportunidade em seu país de origem. Temendo as perseguições políticas e buscando reescrever sua história, ele migrou para o Brasil em 2015. Lavi é um dos 15 artistas convidados para fazer parte do projeto Cores do Mundo, uma iniciativa da ONG Estou Refugiado, que vem colorindo a cidade de São Paulo.
Luciana Capobianco, presidente da ONG, explica que o trabalho acontece em parceria com empresas que patrocinam e cedem o espaço. A mais recente realizada com a construtora Brookfield, que convidou a Estou Refugiado para transformar os tapumes de uma obra na Vila Leopoldina, zona oeste da capital.
“Foi um desafio, porque tratavam-se de 400 metros de extensão! Minha ideia foi dividir esse muro em diversas telas. E, para retratar a pluralidade do Brasil, pedi aos artistas que pintassem sobre vários países, assim conseguimos representar 32 nacionalidades, além de sete paisagens”, disse.
Lavi, por exemplo, ficou a cargo de representar o Congo, Camarões, Etiópia, Líbia, Mauritânia, Mali, entre outros. Para isso, fez pesquisas e chegou a um tema extremamente relevante nos dias atuais.
“O nome da minha pintura é ‘Grito por Dentro’, porque hoje o ser humano vive um momento de aflição interna por conta de injustiças, preconceito racial, guerras religiosas… as pessoas estão destruídas por dentro e não conseguem gritar, não tem voz. Acho que, eu como artista, posso mudar isso através das cores. Tentar conscientizar as populações da importância da diversidade e, ao mesmo tempo, trazer alívio e alegria”, afirmou o artista.
Dentre os 15 artistas participantes, 11 são refugiados e quatro nascidos no Brasil. Luciana disse que o objetivo dessa combinação era exaltar a importância da integração e, também, proporcionar momentos de troca.
“Tínhamos, por exemplo, uma artista venezuelana especializada em vitrais, a Maria Eva, e ela teve a possibilidade de conhecer outras técnicas, o que, sem dúvida, será de grande importância para o desenvolvimento de suas habilidades”, explica Luciana.
Além da arte
Além do trabalho de acolhimento e combate à xenofobia, o projeto visa fomentar a renovação urbana, incentivar a efervescência cultural e promover o desenvolvimento econômico, uma vez que os painéis se tornaram uma forma de divulgar esses talentos.
“hoje é uma exposição ao ar livre, mas aproveitamos as telas para produzir conteúdo nas redes sociais e, assim, destacar a produção deles. Sem contar que a construtora gostou tanto do resultado que pretende incorporar o mural à obra!”, comemora a presidente da Estou Refugiado.
O mural na Vila Leopoldina está localizado entre a Avenida Mofarrej e a Rua Othão. O projeto tem ainda uma série de tapumes finalizados no bairro de Pinheiros e a ONG Estou Refugiado planeja ampliar a ação para outras cidades. Para Lavi, foi uma oportunidade de se desenvolver como artista, treinar sua disciplina e ganhar experiência.
“Esse projeto me ajudou inclusive espiritualmente porque me deu forças para continuar a sonhar, ter esperanças de que, lá pra frente, podem acontecer outras coisas legais. Então só posso dizer obrigado”.