O ato de migrar, que deveria ser visto como um direito humano, cada vez mais se consolida como um risco ao qual um indivíduo se submete em busca de uma vida melhor. Risco esse que muitas vezes cobra a própria vida como preço.
É o que mostra o relatório Fatal Journeys (Viagens Fatais, em tradução livre), elaborado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM). Considerado o mais abrangente estudo global sobre mortes de imigrantes na terra e no mar, ele foi iniciado após a tragédia ocorrida em outubro de 2013 na ilha de Lampedusa, ao sul da Itália, na qual 366 imigrantes morreram em um naufrágio – e que continua a testemunhar novas mortes.
“Nossa mensagem é contundente: os imigrantes estão morrendo”, disse o diretor-geral da OIM, William Lacy Swing. “É hora de fazer mais do que contar o número de vítimas. É hora de engajar o mundo para deter esta violência contra migrantes desesperados”, completa Swing.
O estudo (em inglês), que tem pouco mais de 200 páginas, pode ser baixado por meio deste link. Desde o ano 2000, cerca de 40 mil imigrantes já morreram tentando chegar a um outro país – em média, oito pessoas morrem por dia em jornadas desse tipo.
O mini-documentário “Lost to the Deep”, feito pela Anistia Internacional e disponível abaixo, mostra um pouco da situação encontrada no Mediterrâneo, mais precisamente em Lampedusa. “Sobrevivência é uma loteria”, pode ser ouvido no vídeo por volta de 3min50.
Embora a situação no Mediterrâneo seja a de maior destaque no noticiário internacional, a publicação destaca ainda outros caminhos letais, como a fronteira México-Estados Unidos, a travessia entre Indonésia e Austrália e os migrantes que morrem no deserto do Saara. Cada capítulo do estudo se dedica a mapear e descrever a situação nesses locais.
“Fechar as fronteiras é impossível”
Embora governos de países desenvolvidos adotem uma tendência de tentar restringir ao máximo a imigração, especialistas e estudiosos do tema mostram que essa política é “impossível” de ser adotada.
“Fechar as fronteiras internacionais é impossível, e os migrantes continuarão chegando, apesar de todos os esforços para detê-los, a um custo terrível de vidas e sofrimento”, escreveu o relator especial da ONU François Crépeau, em uma carta aberta à Comissão da UE sobre Direitos e Liberdades Fundamentais. Para ele, falando mais especificamente da Europa, o continente deve apostar não no fechamento estrito, mas sim na abertura e mobilidade regulamentada.
Crépau reforça ainda que toda a União Europeia deve ajudar os países que mais recebem imigrantes, como Itália, Malta, Grécia e Espanha, na gestão das missões de busca e salvamento. Somente as operações na Itália teriam salvo cerca de 100 mil pessoas desde o início do ano. “Os programas de busca e salvamento não podem ser de responsabilidade exclusiva dos países da linha de frente”.
Conscientes do risco, migrantes não desistem de tentar
Os riscos são claros, mas eles não são suficientes para fazer com que milhares de imigrantes desistam de tentar chegar a um país no qual acreditam que podem ter uma vida melhor do que na terra natal.
Um exemplo é o relato de Alain Diabaza, da República Democrática do Congo (ex-Zaire), feito ao portal Opera Mundi em março deste ano. Cansado das condições precárias nas quais vivia, e com medo de lutar por melhorias sociais devido à repressão do governo de Joseph Kabila, no poder desde 2001, o jovem congolês foi para Angola para juntar dinheiro para o maior desafio de sua vida.
Atualmente na Espanha, Diabaza chegou ao país a nado, vindo do Marrocos. “Uma pessoa é capaz de morrer por uma vida digna”, afirma Diabaza.
Com informações da OIM, ONU, Opera Mundi e agências internacionais
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