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quinta-feira, abril 25, 2024

Quem é Amy Pope, nova diretora da Agência da ONU para Migração

Apoiada pela Casa Branca, a estadunidense Amy Pope foi eleita para suceder o português António Vitorino no comando da OIM. Ela disse que não representa as políticas migratórias dos Estados Unidos

Atualizada às 15h05 de 2.out.2023
Publicada originalmente em 16.mai.2023

A OIM (Organização Internacional para as Migrações) ganhou uma nova direção geral em 1° de outubro. A estadunidense Amy Pope sucedeu o português António Vitorino no comando da agência e se tornou a primeira mulher a comandar o órgão desde sua criação, em 1951.

“Sinto-me honrada e privilegiada por atuar como Diretora-Geral desta organização excepcional. A migração é uma força transformadora que pode facilitar a inovação, impulsionar o desenvolvimento e catalisar o empoderamento econômico. É uma das questões centrais atualmente, e estou ansiosa para trabalhar de forma colaborativa para enfrentar desafios e criar oportunidades para todos, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade”, disse a nova chefe da OIM, em comunicado à imprensa distribuido pela entidade.

A eleição aconteceu em meados de maio, quando Pope superou Vitorino, a quem estava subordinada. Durante a campanha, ela defendeu uma modernização da agência. Segundo ela, a organização precisava “sair do século 20 e entrar no 21”.

Embora a agência tenha sido criada na década de 1950, a OIM se tornou parte do Sistema ONU apenas em 2016.

Da Casa Branca para a OIM

Casada e mãe de duas filhas, Amy Pope graduou-se magna cum laude na Duke University School of Law com um Juris Doctor e possui bacharelado em Ciência Política (com honras) que obteve na Haverford College, na Pensilvânia.

Antes de ingressar na OIM, Pope atuou no Governo dos Estados Unidos como Assessora Sênior de Migração para o Presidente Joe Biden e como Assessora Adjunta de Segurança Interna da gestão de Barack Obama, ambos do Partido Democrata. Na Casa Branca, Amy Pope desenvolveu e implementou estratégias integrais para abordar áreas da migração, como a luta contra o tráfico de pessoas, o reassentamento de refugiados e pessoas em situação de vulnerabilidade e a preparação das comunidades para responder e adaptar-se às crises climáticas.

Pope entrou na OIM em setembro de 2021 e foi diretora-assistente para Gestão e Reforma da OIM. Segundo a agência, ela “implementou uma série de reformas orçamentais, de gestão e administrativas para optimizar a prestação de serviços no terreno e a gestão de riscos da OIM, melhorar os resultados da justiça interna e os resultados operacionais e reforçar a coordenação com o sistema das Nações Unidas”.

Com a vitória de Amy Pope, um nome dos Estados Unidos volta a chefiar a OIM, algo que desde a criação do órgão só tinha sido quebrado com o mandato de Vitorino, em 2018. A vitória do português foi apontada como um gesto da comunidade internacional de reprovação às políticas migratórias dos Estados Unidos, à epoca presididos por Donald Trump, cujo governo apoiava o candidato Ken Isaacs.

Para o pleito de reeleição, o português contava com apoio tanto da União Europeia quanto do Brasil. No entanto, retirou a candidatura após receber apenas 67 apoios, contra 98 de Pope, no primeiro turno da votação secreta, da qual 165 dos 175 países-membros da OIM participaram.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, comemorou a vitória de Pope para dirigir a agência da ONU para a Migração. Outros membros do corpo diplomático de Washington e o próprio Joe Biden fizeram campanha em prol da candidata.

“Como maior doador da OIM, os EUA apoiam a visão de Pope e esperam poder trabalhar com ela para implementar as reformas necessárias para criar uma OIM mais inclusiva e eficaz”, escreveu Blinken, em nota, na época da eleição da candidata apoiada por Washington.

Alinhamento com a Casa Branca?

A participação de Amy Pope em gestões anteriores do governo dos Estados Unidos e o apoio massivo que recebeu da Casa Branca foram questionados ao longo da campanha dela para dirigir a OIM.

O governo Biden tem sido criticado pela gestão das migrações, especialmente em relação à situação da fronteira com o México. Durante a campanha presidencial, o democrata tinha prometido uma abordagem diferente do antecessor, o republicano Donald Trump, o que não tem ocorrido na prática.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em fevereiro, Amy Pope disse que não representa as políticas migratórias dos Estados Unidos e defendeu maior atenção aos fluxos migratórios internos na África e na América Latina. Ela veio ao Brasil na época justamente como parte da campanha para dirigir a agência da ONU para a Migração.

“Não represento o governo dos Estados Unidos. Sou a candidata dos Estados Unidos, mas não represento suas políticas [migratórias]. Reconheço que cada governo tem o direito de estabelecer suas próprias políticas e de administrar suas fronteiras como preferirem. Nosso trabalho na OIM é sobre proteger os direitos e a dignidade dos migrantes”.

“A questão agora é saber se ela pode demonstrar algum tipo de independência em relação ao governo dos Estados Unidos”, disse Jeff Crisp, pesquisador do Centro de Estudos de Refugiados da Universidade de Oxford e ex-diretor de políticas do ACNUR (Alto Comissariado da ONU para Refugiados).

Definição de “migrante”

Pelos próximos cinco anos, Amy Pope será a responsável por uma agência da ONU que tem como missão responder por cerca de 281 milhões de migrantes internacionais, o equivalente a 3,6% da população global. O contexto é bastante turbulento, em meio a políticas cada vez mais restritivas à migração em todo o mundo, a despeito da existência de um Pacto Global para a Migração, cujo objetivo é o de fomentar uma mobilidade humana ordenada, segura e regular.

O Co-Diretor do Centro de Migração da PRIO (Peace Research Institute Oslo), Jørgen Carling, publicou um vídeo no Twitter no qual questionou tanto Vitorino quanto Pope a respeito do conceito de migrante. Para ele, ambos não fazem uma devida defesa do assunto, sob receio de contrariar outra agência da ONU envolvida com o tema, o ACNUR (Alto Comissariado da ONU para Refugiados).

O pesquisador, inclusive, cita a definição cunhada por um ex-diretor da OIM, William Lacy Swing (2008-2019), como algo que deveria ser defendido por ambos, que “todo refugiado é um migrante, mas que nem todo migrante é um refugiado”.

“Ainda espero que as eleições possam dar-nos uma direção geral com integridade para defender “migrantes” como um conceito significativo”, disse Carling.

Com informações de OIM, Folha de S. Paulo, Devex, El Diario e PassBlue

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