Um dos vestibulares mais concorridos do Brasil, a Fuvest – que dá acesso a vagas na Universidade de São Paulo – propôs o tema “Refugiados ambientais e vulnerabilidade social” para a redação do processo seletivo de 2023.
Para desenvolver o tema, os cerca de 28 mil candidatos que compareceram ao exame no domingo (9) contaram com o apoio de textos de Graciliano Ramos e Ailton Krenak, foto do livro Êxodos, de Sebastião Salgado, e reportagens com dados e informações sobre o assunto.
A íntegra da prova deste domingo pode ser consultada no site da Fuvest.
“Com a proposta, a Fuvest espera que os candidatos reflitam a respeito dos deslocamentos forçados por desastres ambientais, como também por aqueles causados pelas mudanças climáticas, que afetam principalmente grupos sociais mais vulneráveis e causam crises humanitárias”, disse a organizadora do vestibular, por meio de nota.
A escolha do tema representa uma mudança em relação às redações de vestibulares anteriores da Fuvest, que davam preferência para temas mais amplos e abstratos. A opção por um tema social surpreendeu professores que costumam comentar a prova e também vestibulandos.
A questão migratória não é uma novidade como tema de redação em vestibulares. Em 2012, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que serve como processo seletivo para diversas universidades brasileiras, teve como tema o “Movimento Imigratório para o Brasil no Século XXI”. Mais recentemente, a UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) também trouxe a questão do refúgio como tema na redação do vestibular 2019.
Contribuição para visibilidade do assunto
Para a pesquisadora da RESAMA (Rede Sul-americana para as Migrações Ambientais) e do Move-Lam (Observatorio Latinoamericano sobre Movilidad Humana, Cambio Climático y Desastres), Zenaida Luisa Lauda Rodriguez, a consideração do tema para a redação constitui uma grande contribuição para a visibilidade e conscientização a respeito do assunto.
“A reflexão trazida pela Fuvest deve servir como oportunidade para chamar a atenção sobre esta temática, não apenas da população em geral, mas principalmente dos tomadores de decisão, autoridades de todos os níveis de governos e gestores públicos. Isto com o objetivo de olhar para ações tanto de resposta a possíveis cenários de aumento de desastres, como também de antecipação, prevenção, planejamento territorial e de resposta aos eventos mais silenciosos e lentos. Este planejamento deve ser realizado de forma ampla e participativa, com participação do poder público, academia, setor privado e empresarial e sociedade civil”.
Como elementos silenciosos que levam a grandes deslocamentos, a pesquisadora cita secas, a elevação de nível do mar, o desmatamento, a erosão do solo, o aumento de temperaturas, entre outros. Ela também considerou acertada a proposta da Fuvest de vincular a discussão sobre o deslocamento forçado à vulnerabilidade social.
“De fato, são este tipo de eventos, mais silenciosos, gradativos e menos publicitados, que podem tornar grandes territórios inabitáveis, afetando principalmente à população mais vulnerável e fragilizada. Isto devido à sua baixa capacidade de resposta aos impactos de estes eventos, à falta de recursos econômicos e materiais, e à ausência de políticas públicas eficazes voltadas principalmente para as populações de mais baixa renda”.