Por Milene Miller
Colaboração para o MigraMundo, de Nova York
Bwinika Joseph, mais conhecido como James, fugiu de seu país, a República Democrática do Congo, há 4 anos. Por ser ator e produtor de mídias na TV, James sofreu repressão ao produzir e atuar em programas que, segundo ele, “apresentavam um ponto de vista que não agradaram certas pessoas poderosas”.
Como se não bastassem os constantes conflitos armados, a censura das mídias (80% das redes de TV nacionais pertencem ao governo) é mais um fator que leva milhares de congoleses a cruzar as fronteiras internacionais em busca de refúgio.
“Campo-modelo”
James deixou sua terra e sua família em busca de segurança no campo de refugiados de Nakivale, localizado no sudoeste de Uganda, próximo às fronteiras com Ruanda e Tanzânia. O assentamento existe há 70 anos e abriga mais de 100 mil refugiados, muitos dos quais nasceram, cresceram e viveram vidas inteiras ali.
Ou seja, Nakivale está longe de ser um lugar provisório. É, na verdade, uma grande comunidade, autossustentável e multicultural, formada por pessoas de diversos países como Etiópia, Somália, Ruanda, Sudão, entre outros.
Embora Uganda tenha recebido elogios da comunidade internacional pela sua recepção de mais de 1,4 milhões de refugiados, e Nakivale seja apresentado ao mundo como um exemplo de assentamento, os desafios enfrentados pelos refugiados ainda são muitos.
A localização isolada, aliado ao transporte caro, torna difícil a integração de seus moradores com os locais e a busca de emprego fora do assentamento. Além disso, como em qualquer comunidade de refugiados, estresse emocional e traumas são comuns, em especial dentre os recém-chegados, que são crescentes. A necessidade de suporte psicológico é frequentemente negligenciada pelas agências internacionais e pelo governo local.
Tucheke Movies Production
Foi pensando nisso que James resolveu utilizar suas habilidades cinematográficas para lançar sua própria produção de mídia, a “Tucheke Movies Production” (T.M.P) (acesse aqui a página da produtora no YouTube). O objetivo é de ajudar os refugiados a lidarem com seus traumas, ensinar novas habilidades e conscientizar a comunidade através de produções de filmes e documentários.
James já produziu dezenas de workshops, 5 curta-metragens e mais de 20 produções diversas. Ao todo, desde 2016 já envolveu 4.000 participantes, todos habitantes de Nakivale. E em sua maioria, jovens.
“O principal objetivo da minha produção é lembrar às pessoas de que elas podem começar algo novo em suas vidas, até nos momentos mais tristes. Os refugiados participam como atores, aprendem a operar uma câmera e assim se sentem úteis, voltam a sonhar, a ter uma visão positiva da vida, além de aprenderem uma habilidade que pode servir para seu próprio sustento”, explica James.
Em um ambiente com tanta diversidade étnica, religiosa e cultural, James acredita que a arte é uma maneira divertida de unir e educar as pessoas.
“Eu procuro escolher temáticas que tenham a ver com o nosso dia-a-dia. Por exemplo, nós estamos encontrando desafios em relação à distribuição de alimento, não sabemos se teremos suficiente nos próximos 15 dias. Por isso, decidimos fazer um filme sobre a importância de racionar e distribuir comida”.
Outros curta-metragens produzidos por James abordam temas como abuso sexual e prevenção de DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis). Os filmes são exibidos em telões para a própria comunidade.
Manter esse projeto, no entanto, exige um esforço especial por parte de James. Questões de financiamento estão no cerne das dificuldades enfrentadas pela produtora – assim como ocorre com outras ações sociais mundo afora.
“Aqui eu sinto ter meu pedaço de liberdade e felicidade. Mas as condições não são fáceis, principalmente financeiras. Os equipamentos são caros e não temos fundos. Mas a minha produção é a minha terapia.”
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