Desde a declaração da Organização Mundial da Saúde sobre a pandemia de Covid-19, e o conselho de que “todos os países devem encontrar um bom equilíbrio entre a proteção da saúde, a minimização das perturbações econômicas e sociais e o respeito aos direitos humanos”, os estados começaram a tomar medidas para diminuir a propagação do Coronavírus.
Observou-se, especialmente através da cobertura da mídia, que apesar de todo o mundo ser afetado por esta pandemia, o vírus atinge com mais força as comunidades mais vulneráveis, especialmente as mulheres. Organizações de direitos humanos e de mulheres, ativistas e jornalistas ao redor do mundo estão conscientizando a população sobre o impacto da pandemia nas mulheres e como a violência doméstica aumentou durante a quarentena, já que mulheres e meninas podem estar presas com seus agressores. A situação das mulheres migrantes é ainda pior, pois muitas delas são indocumentadas e têm direitos fundamentais, como o acesso à saúde, negados.
Existem organizações locais especializadas em dar apoio as mulheres migrantes, ajudando-as a acessar serviços locais, aprender línguas locais, ter acesso a apoio psicológico para superar traumas, oportunidades de aprender novas habilidades, encontrar emprego, organizar-se e capacitar-se. Além disso, elas criam um espaço seguro onde as mulheres podem encontrar e superar a solidão. Muitas delas executam seus projetos com mínima ajuda governamental.
Após o surto de Covid-19, essas organizações tiveram que fechar suas instalações, pois a maior parte de seu trabalho é feita através da interação social e começaram a realizar algumas de suas atividades em casa. Algumas delas conseguem manter alguns serviços usando a Internet. Nesta oportunidade, conversamos com pessoas e organizações que trabalham com mulheres imigrantes na Itália para ouvir quais são as dificuldades que estão enfrentando e também como estão construindo resiliência durante este período incerto.
ONGs das migrantes na Itália
Casa di Ramia é um centro intercultural de mulheres em Verona, bem conhecido como um espaço seguro onde mulheres de diferentes origens se encontram para criar, aprender e desenvolver uma variedade de projetos. É também um lugar onde muitas organizações de mulheres locais usam como base para suas atividades. Principalmente, é um lugar onde as mulheres podem se ouvir e apoiar umas às outras.
“Este é um espaço do município de Verona, da área de serviços sociais e igualdade de oportunidades; porém, é administrado como um espaço informal, não há necessidade de qualquer documentação para ter acesso. É um local de encontro criado principalmente para suprir a necessidade das mulheres de se encontrarem, fazerem coisas juntas, pensarem juntas, confrontarem-se e construírem uma linguagem comum”, explicou Elena Migliavacca, coordenadora do espaço.
Antes da quarentena, a Casa di Ramia, que abriu suas instalações em 2005, oferecia um programa diário de atividades para mulheres, jovens e crianças com aulas de italiano e inglês, grupos de narração, aulas de dança tradicionais, coral, apoio pós-escolar, aulas de costura e muito mais.
Muitas mulheres que frequentavam atividades naquele local criaram seus grupos e agora utilizam o espaço para organizar seus eventos e criar projetos colaborativos. Algumas mulheres compareciam apenas para fazer amizade e se sentirem em casa.
Na quarentena, alguns grupos conseguiram continuar algumas de suas atividades à distância usando a Internet. Mas o impacto de ter esse espaço fechado é enorme. Muitas mulheres estão agora isoladas, enfrentando dificuldades financeiras e correndo o risco de serem vítimas de violência doméstica.
Para as organizações de mulheres migrantes, a quarentena representa a incerteza do financiamento, a falta de sustentabilidade dos projetos e poucas possibilidades de dar apoio às mulheres necessitadas. “O impacto dessa quarentena é terrível porque estes espaços de encontro são essenciais para o apoio mútuo. Esta situação de isolamento é dura. Tentamos resistir, mas não podemos fazer muita coisa”, explicou Elena.
Ciente da situação de vulnerabilidade de muitas das mulheres que participaram das atividades da Casa di Ramia, Elena está entrando em contato com organizações de caridade, como a Cáritas, para fornecer pacotes de alimentos para as mulheres que estão em dificuldades financeiras.
Ela também mencionou que, embora seja em pequena escala, alguns grupos de mulheres da Casa di Ramia estão resistindo e criando formas de continuar apoiando umas às outras e continuam algumas de suas atividades online.
Resiliência inspiradora
Durante os anos 70 e 80 sob o regime militar totalitário de Augusto Pinochet no Chile, as mulheres criavam Arpilleras – bordados e quadros de retalhos de cores vibrantes – que serviam como uma forma de compartilhar as dores sobre seus maridos, pais, familiares e amigos que eram mortos, torturados e desaparecidos.
Essa técnica serviu para documentar e denunciar as opressões durante um regime que não permitia a liberdade de expressão. Ajudou a registrar a capacidade de resistência das mulheres para vencer o sofrimento, a perda e o desespero. Em seguida, tornou-se um movimento que inspirou grupos de mulheres na América Latina e, posteriormente, inspirou mulheres em outros lugares. O bordado de Arpilleras é utilizado hoje também como ferramenta para denunciar a violência de gênero e outras formas de opressão.
Motivada por mulheres de seu país de origem, Peru, Vitka Olivera de la Cruz iniciou um grupo de Arpilleria. Vitka é advogada com especialização em estudos sociais.
Ela trabalha no serviço público e presta assessoria, apoio jurídico e administrativo a migrantes e é uma das mulheres que desenvolvem projetos na Casa di Ramia. Com esse grupo de Arpilleras, através do bordado as mulheres estão criando narrativas.
“Nós usamos nossas cores vivas, com todas as histórias em que podemos trabalhar, usamos retratos ou outras coisas. Por exemplo, na Casa di Ramia, representamos a casa como uma árvore, e enquanto estamos trabalhando nessa história, as mulheres começam a lembrar suas próprias histórias e a se expressar, passo a passo. Elas também começam a se reconhecer, por exemplo, para representar a cor de sua pele, você precisa encontrar o tecido adequado a essa cor. Então, construímos isso com alguns textos, alguma música e poesia da América Latina”, Vitka explicou.
Quando a quarentena começou na Itália, ela pensou que seria uma pena terminar essa atividade, pois as coisas estavam indo bem, então ela continuou fazendo o workshop usando o WhatsApp. A inspiração para manter a oficina de Arpilleria por WhatsApp veio quando ela viu que sua filha que está cursando o ensino médio, com as escolas italianas fechadas, está tendo de aulas on-line.
“Lembrei-me que venho da América do Sul e que nós inventamos tudo”. Então, eu disse para o grupo: Se vocês estiverem de acordo, podemos manter as aulas através do WhatsApp. Depois disso, começamos a compartilhar vídeos, fotos, e até dançamos. Eu coloquei algumas músicas e as 5 mulheres que estavam online naquele dia dançaram.”
Seguindo a dinâmica do workshop antes do encerramento, o grupo se reúne na WhatsApp todas as sextas-feiras, das 10:00 às 12:00 e Vitka também dá alguns trabalhos de casa para o grupo.
“Por exemplo, trabalhamos com medo, e todos começam a dizer quais são os seus medos. Algumas delas disseram que têm medo de algum animal; outras disseram que temem o vazio. Elas devem desenhar esses medos e também desenhar como superar esses medos. E no dia do nosso encontro, eles apresentam todos os desenhos, enviando as fotos.”
Vitka envia vídeos ensinando o grupo a bordar, e elas enviam vídeos mostrando seu trabalho. O grupo de Arpilleras é misto, com mulheres italianas e migrantes, que se apoiam neste momento difícil.
“Elas se sentem capazes, e suas habilidades estão aumentando. Começamos a discutir questão relacionadas ao momento que enfrentamos. Também falamos sobre coisas que achávamos que não éramos capazes de fazer e que agora estamos fazendo. Tentamos descobrir por que achávamos que não éramos capazes de fazer. Quem nos disse que não éramos capazes? Nós trabalhamos a auto-estima.”
Esse grupo de Arpilleras planeja apresentar seu trabalho em uma conferência sobre auto-cura e cura comunitária em outubro na Universidade de Verona. Elas também pretendem criar pequenas roupas com um projeto de empreendimento social local que trabalha com projetos inovadores.
“A idéia das Arpilleras do Chile e no Peru terminou bem porque elas começaram a vender seus produtos, foram a museus. Eu vou adorar se conseguirmos fazer isso. Acabamos de começar, mas essa é a aspiração. Criamos algumas bonecas, cada uma do nosso país de origem. Vamos continuar fazendo essas bonecas. Tive a ideia de fazer ainda mais bonecas e criar uma exposição, para falar do nosso trabalho na Casa di Ramia, como um ponto de encontro para as mulheres”.
Falando sobre a motivação primária do grupo Arpilleras Vitka disse: “Antes de mais nada, este projeto serve como uma distração para o pensamento de que não vamos conseguir sair deste período ruim. Eu faço piadas e digo sobre coisas que aconteceram no Peru. Nossa maneira de exorcizar as coisas no Peru é fazer piadas sobre a situação. Uma das mulheres bordou o Coronavírus (risos). Com algumas histórias que lhes contei, elas perceberam que muitas outras dores estão acontecendo”. E ela concluiu: “Eu me inspirei no que acontece no meu país. Nós temos muitos problemas, mas continuamos lutando”.
Desafios para proteger migrantes durante a pandemia
Na Itália, a estimativa é de que existem 600.000 migrantes indocumentados. Esta situação aumenta a violação dos direitos humanos, dificuldades de acesso aos direitos fundamentais como a assistência à saúde, exploração no trabalho e dificuldades financeiras. Nesse momento existe uma campanha na Itália – Sanatoria Subito (Anistia agora) pressionando o governo italiano pela anistia dos migrantes indocumentados, pois eles são os mais vulneráveis ao vírus e ao impacto que ele cria.
Um número significativo de mulheres migrantes na Itália são trabalhadoras informais, e o desemprego neste grupo é elevado. Depois da pandemia, a situação se agravou. A Associazione Stella é uma organização sediada na Casa di Ramia que oferece apoio à empregabilidade de mulheres migrantes, ajudando a construir currículos, busca de emprego e oportunidades de treinamento. Eles também organizam treinamentos de empregabilidade ajudando as mulheres migrantes a entender como funciona o mercado de trabalho na Itália, informando e preparando-as para enfrentá-lo melhor. Antes da pandemia, seus serviços começaram a ser afetados devido à falta de financiamento e podem não continuar após o fechamento.
Vedrana Skocic, coordenadora da Associazione Stella explicou que os financiadores estavam pedindo requisitos que eram quase impossíveis de serem atendidos, pois eles dependem de pequenas doações. Será uma perda significativa, pois as mulheres que participaram do projeto estavam realmente necessitadas.
Vedrana disse que a maioria das mulheres são trabalhadoras informais com baixa renda, e muitas estão desempregadas, desesperadas por um emprego. Para a Associazione Stella a quarentena representou o fechamento completo das atividades, pois as mulheres que participavam do projeto são carentes de coisas como dados para seus telefones, portanto, é impossível planejar qualquer ação online.
“No último treinamento de empregabilidade que organizamos, percebi que algumas mulheres não tinham os dados para acessar em seus telefones algumas informações que eu estava dando a elas. Então agora, elas são incomunicáveis. Nosso alvo são mulheres com muitas dificuldades financeiras, então os dados da Internet são o último pensamento/urgência delas. Portanto, não faz sentido organizar algo online para as nossas mulheres. Nós criamos um grupo WhatsApp, e eu escrevi para esse grupo, mas apenas algumas mulheres responderam”, explicou Vedrana.
Mesmo para as mulheres que têm acesso à Internet, agora seus filhos também precisam usá-la como estão em casa, frequentando aulas on-line; por isso, têm prioridade no uso da Internet. Vedrana sublinha o fato de que elas falarem sobre suas experiências de trabalho quando frequentam os treinamentos de empregabilidade é um trabalho duro e muitas mulheres acham isso um desafio.
Agora com seus filhos em casa, fazer isso online é problemático, pois elas precisam de tempo e espaço para se concentrar em falar sobre suas experiências. Antes da pandemia, as mulheres migrantes estavam desesperadas por um emprego e encontravam muitas dificuldades.
Agora a situação delas é mais difícil “Elas se sentem isoladas em casa”. Muitas são mães solteiras com seus filhos, sem renda e sem os pequenos trabalhos informais que costumavam fazer. Elas não sabem o que fazer. A mídia bombardeia com informações, mas elas ainda estão confusas porque muitos delas não falam italiano.”
Vedrana acredita que uma das possíveis ações para reduzir a situação de vulnerabilidade das mulheres migrantes neste momento pode ser os vales que o governo quer implementar. Ainda assim, ela não tem certeza de como isso vai funcionar. Ela também acha que é crucial começar agora a refletir e discutir como as coisas serão organizadas após a quarentena “Não podemos acordar um dia e ter que resolver todas essas questões. Precisamos começar a pensar nas soluções agora”.
Ela sugere que algo que as mulheres podem fazer se tiverem acesso à Internet enquanto estão em quarentena, é usar o site da WhomeN para avaliar suas habilidades transversais. WhomeN é um projeto da UE que visa reconhecer as competências transversais das mulheres em risco de exclusão social.
Solidariedade para mulheres migrantes
Algumas organizações de mulheres migrantes estão usando sua rede para encontrar apoio para as mais vulneráveis e colaborando com outras organizações para enviar pacotes de alimentos para as mulheres necessitadas.
Le Fate Onus desenvolve projetos com mulheres e crianças, principalmente comunidades migrantes em Verona. Elas prestam serviços como aulas de italiano e ajudam as mulheres a ter acesso aos serviços locais para si e seus filhos. A organização também oferece cursos de artesanato e projetos para aumentar as oportunidades de emprego dentro do setor de artesanato para mulheres migrantes. Oferecem apoio psicológico às mulheres durante a gravidez, às vítimas de violência doméstica e ajudam as mulheres em dificuldades financeiras.
Cristina Cominacini, coordenadora do Le Fate, explicou que a quarentena criou um impacto significativo em seus serviços, pois a maior parte de suas atividades depende do contato físico. Eles fecharam seus escritórios e os funcionários estão trabalhando em casa.
“Além de não saber quando, quanto e como vamos ser pagos pelo trabalho que estamos fazendo, é complicado organizar atividades online porque nem todas as mulheres têm um PC ou uma boa conexão de internet. Não é a mesma coisa, para o relacionamento e para as coisas que você pode fazer”.
Le Fate está tentando ajudar as mulheres que freqüentaram suas atividades, estando em contato o máximo possível, escrevendo e ligando para elas. Além disso, alguns educadores da organização estão ajudando as crianças a se organizarem com seus estudos, já que as escolas italianas estão ministrando aulas online. Cristina explicou que eles estão ajudando as mulheres a entender como funciona o sistema de aulas on-line para que elas possam apoiar melhor seus filhos. Le Fate também está ajudando mulheres que estão enfrentando dificuldades financeiras. “Nós podemos reabastecer no Banco de Alimentos todos os meses, então distribuímos as compras para quem precisa. Neste mês também recebemos um fundo de 1500 euros da Mag (uma sociedade mútua) com a qual nascemos, e colaboramos muito. Eles pensaram que muitas das pessoas que seguimos perderam seus empregos ou não têm proteção porque estão trabalhando ilegalmente. Assim, podemos fazer uma pequena contribuição econômica tanto para as mulheres quanto para as famílias”, explicou Cristina.
“Estão se sentindo sozinhas”. Apoio às vítimas de tráfico e exploração sexual na Itália durante a pandemia
Um relatório de 2017 sobre o tráfico de pessoas através da rota central do Mediterrâneo da Organização Internacional das Migrações (OIM) estima que 51% das vítimas do tráfico de pessoas no mundo são mulheres. A exploração das mulheres é principalmente sexual (72% dos casos). O relatório revelou um aumento da chegada de migrantes e daqueles que buscam proteção internacional na Itália a partir de 2016.
A OIM estima que cerca de 80% das mulheres e meninas nigerianas que chegam à Itália por mar em 2016 são provavelmente vítimas de tráfico para exploração sexual na Itália ou em outros países da União Européia. O relatório também chamou a atenção para o aumento significativo e preocupante das adolescentes vítimas de tráfico.
A Associazione Iroko Onlus é uma organização de ajuda às vítimas do tráfico e da exploração sexual em Turim. Eles oferecem mediação cultural e linguística, assessoria jurídica e administrativa, apoio na busca de moradia e emprego, acesso à educação e serviços de saúde. Também desenvolvem diferentes projetos de formação e preparação das mulheres para a integração no mercado de trabalho.
A Iroko também promove atividades de networking, participando de diversas conferências e reuniões. A quarentena criou um impacto significativo no trabalho dessa organização, tornando difícil o contato com todas as mulheres a quem dão apoio.
Ruby Till, responsável de comunicação da Iroko, nos disse que muitas mulheres que conhecem perderam seus empregos e agora estão lutando para pagar suas contas. Ela explicou que muitas delas não tinham um emprego antes. Agora é muito mais difícil de encontrar porque a maioria dos serviços e indústrias estão fechados.
As visitas médicas estão paradas, exceto em casos de urgência e risco de vida. Ruby explicou que, embora a organização tenha conhecimento dos problemas que muitas mulheres que elas ajudam estão enfrentando durante a pandemia, o apoio da organização, neste momento, é limitado.
“Temos recebido denúncias de violência doméstica, mas, além de dirigi-las à polícia, não há muito que possamos fazer. Também temos recebido reclamações de outras organizações que nos pedem assistência para as mulheres que elas acompanham. Elas também estão em dificuldade. Está muito mais difícil trabalhar em rede. Há histórias de aumento da violência doméstica, mas não podemos mais acompanhar os casos como antes”.
Durante a quarentena, a Iroko disponibilizou um voluntário para dar apoio educacional as mulheres migrantes que têm dificuldades para acompanhar seus filhos com as aulas on-line. Ruby explicou que a organização está disponibilizando esse ajuda porque muitas crianças não falam italiano como língua materna, e algumas mães não frequentaram o ensino básico, então elas encontram complicações para apoiar seus filhos. Para as mulheres que estão enfrentando dificuldades financeiras, a organização está planejando distribuir cestas básicas e máscaras. Ruby acredita que neste período é essencial ajudar as mulheres que perderam o emprego, dando-lhes um auxílio financeiro para pagar suas despesas. Muitas mulheres também precisam de assistência com a gestão de seus filhos. Além disso, é imperativo garantir que elas recebam as informações corretas em sua língua ou em uma língua que elas conheçam.
Por esta razão, Iroko está preparando uma campanha de informação, usando todos os seus canais de mídia social para informar as mulheres sobre o que é o Covid-19 e como se proteger e o que fazer se elas ficarem doentes ou saírem de casa.
Além disso, ela afirma que algo precisa ser feito para enfrentar a violência doméstica durante este período. “As mulheres precisam ter algum tipo de palavra chave que possam usar para pedir ajuda em casos de violência doméstica, onde não tenham outra forma de escapar da pessoa que usa violência.”
Antes da quarentena, toda semana ela estava na rua conversando com mulheres que se prostituíam para entender suas necessidades e fornecer ajuda. Agora que todos estão forçados a não sair, ela trabalha em casa, em um projeto de uma rede de organizações que trabalham contra o tráfico de mulheres e a exploração sexual em Verona, com a Cooperativa Azalea
“Eu ligo para elas para perguntar como eles são, como se sentem. As mulheres se sentem sozinhas e me contam todos os seus problemas. A maioria não tinha comida em casa. Então, eu envio todas as informações para a minha coordenação, e eles as enviam para a Cáritas para lhes fornecer comida em casa. Agora elas conseguem receber comida em casa. Algumas têm problemas de saúde, e a coordenação entra em contato com os serviços de saúde para dar-lhes apoio de saúde”, explica Sandra.
Um dos principais problemas que afetam as mulheres nesse momento é a falta de mobilidade e socialização “A maioria delas se sente sozinha. Graças a Deus agora temos Facebook, telefone, televisão e luz 24 horas. Assim, elas podem se comunicar com o mundo externo usando a internet e o telefone”, diz Sandra e explica que todas as garotas que ela apóia têm Facebook. Aqueles que não têm Facebook têm o telefone, então ela consegue se comunicar com elas.
Sandra acredita que nestes tempos difíceis a comunicação é muito importante: “Ligar para elas, mostrar que alguém está cuidando delas é muito importante. Algumas não querem falar comigo, mas eu tenho tento superar essa barreira. Eu sempre digo se elas quiserem discutir algo para me ligar”.
Ela também acha que uma medida realmente importante é fornecer-lhes alimentos, já que a maioria está enfrentando dificuldades financeiras.
“É muito importante planejar o envio de alimentos para elas em casa. A maioria delas enfrenta o problema de não ter dinheiro para pagar o aluguel da casa. Como ninguém está fora, elas não estão se prostituindo, então, como vão pagar o aluguel e outras contas como gás, eletricidade? Se houver dinheiro para ajudá-las a comprar comida, será muito bom”.
Além deste trabalho, Sandra também lidera um grupo de mulheres em colaboração com a estilista Margaret Enabulele, onde elas ensinam corte e costura e artenasato.
Antes da quarentena, elas costumavam se encontrar todas as semanas, e agora se encontram online: “Estamos fazendo artesanato em casa, através do WhatsApp, para que eles não se sintam sozinhas. Nós ensinamos a elas como fazer suas máscaras. Estamos fazendo um monte de coisas online.”