Diálogo promovido para aproximar poder público e imigrantes mostra que caminho ainda é longo, mas deverá ser percorrido
Com colaboração de Cristina de Branco
Foto de Waldor Botero
Artistas e coletivos culturais imigrantes de São Paulo estiveram reunidos com a Secretaria Municipal de Cultura no último dia 11 na Galeria Olido, região central da cidade. O objetivo do encontro, que teve mediação da Coordenação de Política para Imigrantes (CPMig) da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), era aproximar a pasta da Cultura e os imigrantes que já atuam com produção cultural.
Estiveram presentes brasileiros e imigrantes de 13 nacionalidades, individualmente ou representando coletivos culturais: Grupo Folklorico Kantuta Bolívia, Latam Esquad, Bolívia Cultural, PAL (Presença América Latina), GRIST (Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem Teto), Visto Permanente – Acervo Vivo das Novas Culturas Imigrantes, Equipe de Base Warmis – Convergência de Culturas, Muxima na Diáspora, Microcine Migrante, MiLuta, Surprise 69, BibliASPA, La Puerta del Sol, ACFBB (Associação Cultural e Folclórica Bolívia Brasil), entre outros.
A reunião teve início com a apresentação do Núcleo da Cidadania Cultural pela secretaria e seus programas – Programa VAI, agente comunitário de cultura, Pontos de Cultura, Programa Aldeias, parcerias e articulações. “A nossa proposta é apresentar o que já existe”, disse Harika Maia, coordenadora do VAI, que classificou o encontro como um “primeiro passo para a aproximação” dos artistas, agentes e coletivos culturais imigrantes à secretaria.
A postura desagradou parte dos imigrantes presentes, que pautaram o desconhecimento por parte da secretaria dos projetos realizados pelos coletivos e agentes culturais imigrantes e dos resultados já obtidos. Outro grupo queria primeiro acompanhar a apresentação proposta pela Secretaria de Cultura para depois se manifestar.
“Vocês só recebem se for do jeito de vocês. Para fazer algo sobre nós, para pensar na gente, temos que estar dentro, é para sentarmos juntos e não vocês aí de fora”, disse o ator e cineasta haitiano Patrick Akon, que estava entre os imigrantes descontentes com a pauta proposta pela secretaria.
Durante a apresentação dos programas da Cidadania Cultural foram referidos várias pontuações interessantes à questão cultural imigrante: não existe Ponto de Cultura que desenvolva atividades voltadas às comunidades imigrantes, nem geridos por imigrantes; não existem também agentes comunitários de cultura que sejam imigrantes, e a primeira presença imigrante nos projetos selecionados pelo VAI foi registrada em 2010.
Ainda sobre o VAI, programa de maior proximidade imigrante à pasta da Cultura, também foi constatado que, apesar da sistematização de dados sobre a presença imigrante de proponentes e inscritos selecionados ter começado a ser realizada a partir de 2015, foi apenas em 2016 que a palavra “imigrante” foi incluída no regulamento do Programa. Apesar disso, neste ano, o número de projetos imigrantes aprovados diminuiu em relação à 2015 – apenas um projeto de proponente imigrante foi selecionado no VAI I.
Questionando alguns dos requisitos burocráticos de acesso aos programas apresentados, Jennifer Anyuli, imigrante colombiana, integrante do Microcine Migrante e do coletivo MiLuta, ressaltou que os imigrantes não cabem nas definições de marginalidade e de periferia estabelecidas pela pasta. “Vocês nem se dão conta de que, querendo incluir, acabando também excluindo, excluindo os imigrantes e refugiados de muitas ações da Secretaria de Cultura”.
Para Guilherme Otero, da coordenação de políticas para imigrantes, o diálogo entre a pasta da cultura e os imigrantes ainda está muito atrasado. “O diagnóstico é muito claro, não avançou”.
Próximos passos
Apesar do distanciamento ainda evidente entre secretaria e coletivos imigrantes, a reunião terminou com encaminhamentos que podem gerar uma maior proximidade entre os dois lados em um futuro breve.
– No dia 21/07, às 18h, no auditório da SMC, será realizada uma capacitação voltada a imigrantes para o Edital dos Agentes Comunitários de Cultura;
– SMC e SMDHC irão levar as discussões deste encontro aos respectivos gabinetes, propondo uma agenda conjunta e propositiva com a presença dos secretários;
– Coletivos e artistas presentes aprofundarão o debate e organizarão pautas e demandas para apresentar às Secretarias.
[…] Publicado no site MigraMundo […]