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quinta-feira, março 28, 2024

Rohingyas sofrem com perseguição, deslocamento e apatridia no Sudeste Asiático

Para entidades internacionais, risco de um desastre humanitário é iminente na fronteira entre Myamnar e Bangladesh

Por Rodrigo Borges Delfim
Em São Paulo (SP)

Eles já foram considerados pela ONU como a “minoria mais perseguida do mundo”. Um título nada glorioso que dá uma ideia do sofrimento vivido pelo povo rohingya, no sudeste da Ásia.

Minoria muçulmana concentrada no Estado de Rakhine, oeste de Myamnar (antiga Birmânia), os rohingya vivem em situação de segregação social no país (são cerca de 1,1 milhão, representando 1,9% da população de Myanmar). Muitos birmaneses alegam que eles são uma etnia implantada durante a colonização britânica, que trouxe milhares de trabalhadores muçulmanos de Bangladesh. Já os rohingya dizem ser indígenas do Estado de Rakhine, anteriormente conhecido como Arakan – um dos mais pobres do país.

Uma lei de 1982 retirou do povo rohingya o direito à nacionalidade birmanesa, tornando-os apátridas. Dessa forma, ficam impedidos de ter acesso a serviços públicos (saúde, educação, etc.) e de ter mais de um filho por casal, entre outras restrições. Também são submetidos a trabalhos forçados.

Crise sem precedentes

Essa situação causa episódios constantes de violência e a saída de milhares de rohingya de Myanmar. No vizinho Bangladesh já são cerca de 400 mil vivendo em campos de refugiados.

Novas pessoas que chegam encontram dificuldade para encontrar espaço no superlotado campo de refugiados de Kutupalong, Bangladesh.
Crédito: Vivan Tan/ACNUR

A violência no norte de Myanmar vem aumentando desde outubro de 2016 e ficou ainda mais grave após 25 de agosto, quando 150 rebeldes rohingyas atacaram 20 delegacias de polícia. O grupo rebelde Exército de Salvação Arakan Rohingya assumiu a autoria dos ataques.

A partir daí, aumentou a repressão contra os rohingya. Indivíduos que chegaram a Bangladesh contaram ao Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) em Bangladesh que casas queimadas, estupros, torturas, assassinatos, detenções ilegais e desaparições forçadas são práticas recorrentes. Desde 25 de agosto, 270 mil já cruzaram a fronteira bengali, se juntando aos milhares que já vivem nos campos de refugiados, segundo a agência da ONU. Ainda há centenas de milhares de deslocados em campos dentro do Estado de Rakhine.

Para entidades internacionais que atuam na região, o risco de um desastre humanitário é iminente.

“Isso é uma verdadeira crise”, diz Mohammad Abul Kalam, Comissário de Repatriação e Assistência para Refugiados em Cox’s Bazar, Bangladesh. “O número de pessoas mais do que duplicou nos campos. O acampamento de Kutupalong está além de sua capacidade. Famílias inteiras chegaram, cada espaço disponível está ocupado. Não tenho certeza de quanto tempo podemos aguentar isso”.

A fala de Kalam é endossada por Pavlo Kolovos, coordenador-geral de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Bangladesh. “Não víamos nada nessa escala por aqui há muitos anos. Nossas equipes estão vendo grupos de pessoas chegando abandonadas e extremamente traumatizadas, sem terem tido qualquer acesso a cuidados médicos. Muitas das pessoas que chegaram tinham necessidades médicas graves, como lesões causadas por violência, ferimentos gravemente infeccionados e complicações obstétricas avançadas. Sem uma ampliação do suporte humanitário, os potenciais riscos de saúde são extremamente preocupantes”.

Refugiados Rohingya que fogem para Bangladesh precisam urgentemente de assistência médica e humanitária.
Crédito: MSF

A gravidade da situação já gera críticas da comunidade internacional contra Aung San Suu Kyi, líder de fato de Myanmar e vencedora do prêmio Nobel da Paz em 1991. Ela é acusada de silenciar sobre os rohingya. E nas raras vezes em que se pronuncia sobre o tema, repete os argumentos oficiais da junta militar presente no país – segundo eles, os rohingya vivem ilegalmente em Myanmar.

Com informações de Folha de S.Paulo, ACNUR, Médicos Sem FronteirasBBC Brasil

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