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sexta-feira, março 29, 2024

Seminário Vozes e Olhares Cruzados destaca a presença feminina nas migrações

Por Rodrigo Borges Delfim
Twitter: @rodrigobdelfim

Com belas histórias, emoção e momentos de descontração, a quarta edição do seminário Vozes e Olhares Cruzados destacou, debateu e levou à reflexão sobre o papel e a atuação da mulher na temática migratória, que cresce em importância a cada dia.

Com o tema “Rostos femininos das migrações no Brasil”, o seminário, organizado anualmente pela Missão Paz, foi acompanhado por cerca de cem participantes no auditório da instituição, em São Paulo. Outras 8.000 pessoas no Brasil e no exterior acompanharam o evento por meio da transmissão ao vivo da web rádio Migrantes.

Como é ser mulher e migrante no Brasil?

Os trabalhos foram abertos com a participação de migrantes e refugiadas de cinco países – Síria, Bolívia, República Democrática do Congo, China e Guiné-Bissau. Durante a mesa, cada uma contou um pouco sobre sua trajetória, dificuldades que encontraram e ainda enfrentam no Brasil.

Mulheres migrantes foram as protagonistas do Vozes e Olhares Cruzados de 2015. Crédito: Rodrigo Borges Delfim
Mulheres migrantes foram as protagonistas do Vozes e Olhares Cruzados de 2015.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo

Atualmente funcionária da Cáritas no Rio de Janeiro, a congolesa Mireille citou a violência sexual sofrida pelas mulheres na terra natal e o desconhecimento dos brasileiros sobre a situação. “Muita gente sequer sabe onde é o Congo, quanto mais se tem guerra ou não. Mas tem muita gente morrendo lá, mulheres sendo violentadas”.

Vinda de Guiné-Bissau há cerca de um ano, Sábado aproveitou o seminário para fazer um apelo por ela e sua filha, Sabrina, de apenas 11 meses. “Até agora minha filha não conseguiu vaga em creche ou escola. Se ela conseguir vaga, eu posso trabalhar”.

Vivendo há dois anos no Brasil e com português fluente, a síria Dana chegou sozinha ao país e conta que nem todos entendem o porquê dela usar o hijab, veú adotado por mulheres muçulmanas e que deixa apenas o rosto à mostra. “Já sofri preconceito no trabalho por causa do véu. Tenho de explicar o porquê de usar e que cobrir o cabelo não interfere em nada no meu desempenho profissional. Uso o véu em respeito à minha religião.”. Dana lembrou que chegou a abolir o hijab por seis meses, mas que não se sentiu bem e voltou a usá-lo.

Apesar das dificuldades de adaptação, todas as mulheres na mesa agradeceram pela acolhida e apoio recebidos no Brasil.

Na mesa de abertura, migrantes e refugiadas contaram um pouco da experiência que já viveram no Brasil, Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo
Na mesa de abertura, migrantes e refugiadas contaram um pouco da experiência que já viveram no Brasil,
Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo

“Quero agradecer pela tolerância que os brasileiros têm aqui. Graças a Deus estou aqui em São Paulo e não na Europa. Fico feliz em viver em meio a pessoas tão tolerantes”, disse Dana, que ficou feliz ao ver pessoas na rua dizendo para ela Salaam aleikum (saudação em árabe que significa “Que Alá esteja com você”).

Com 24 anos vivendo no Brasil, a boliviana Vilma lembra as dificuldades enfrentadas quando chegou ao país – chegou a passar fome, frio e a ficar indocumentada. Mas também agradeceu o apoio recebido e que a ajudou a se estabelecer no país. “A pessoa precisa ter uma mente muito forte para superar, mas venci a angústia de ter deixado meu país. Tem de dar para poder receber, tem de provar para conseguir. Tudo isso com humildade e respeito”.

Com muito bom humor, a chinesa Lo Hsiu contou que deixou o país natal há 42 anos para não ter de servir ao Exército e brincou com as dificuldades que viveu. “Demorei 15 anos para aprender o português. Aqui tudo era estranho para mim, as pessoas comem com garfo e faca, até para ir no banheiro tem diferença em relação à China”. Para ela, o único ponto negativo do Brasil é a violência. “Meu marido foi assaltado na semana passada”.

Ao final da mesa, o padre Paolo Parise, que dirige a Missão Paz, reforçou a importância e o papel do encontro. “Este é o DNA do Seminário, deixar os migrantes falarem por si e o que sentem”.

Outras atrações do evento

A segunda parte do seminário começou com a apresentação do grupo teatral Cia. de Artesãos do Corpo, que apresentou um compacto de uma peça ainda em construção sobre migração, que deve ficar pronta até dezembro.

Seminário teve prévia de peça de teatro sobre migração. Espetáculo completo fica pronto em dezembro. Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo
Seminário teve prévia de peça de teatro sobre migração. Espetáculo completo fica pronto em dezembro.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo

Em seguida, foi feita a divulgação de um estudo feito pela Missão Paz sobre os haitianos atendidos pela entidade entre janeiro e julho deste ano, período que coincide com o auge do fluxo de migrantes enviados do Acre para outros Estados.

Também foram divulgadas a nova edição da revista Travessia (número 75), com o dossiê Migração e Religião, e o lançamento do livro Migração, Trabalho e Cidadania, editado pela Educ, a editora da PUC-SP.

Exposição Somos Todos Imigrantes também marcou presença no seminário. Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo
Exposição Somos Todos Imigrantes também marcou presença no seminário.
Crédito: Rodrigo Borges Delfim/MigraMundo

No seminário também marcou presença a mostra Somos Todos Imigrantes, a mesma que foi exposta no MIS (Museu da Imagem e do Som) da capital paulista, feita pelo fotógrafo Chico Max com imigrantes que passaram pela Missão. O trabalho deve ser exposto na estação Luz do metrô de São Paulo logo no começo de 2016.

 

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