Por Lya Maeda
Começa nesta quarta-feira (01/04), às 14h, a primeira edição d0 USPMUN (USP Model United Nations), uma simulação das Nações Unidas e de outros organismos decisórios criada por alunos da USP e aberta a universitários de todo o Brasil.
Os debates, que vão até domingo (05), acontecem no prédio da FEA (Faculdade de Economia e Administração), na Cidade Universitária, zona oeste de São Paulo. A programação está disponível no site oficial do USPMUN.
Com participantes de diversas regiões do país, o USPMUN foca seus debates em assuntos polêmicos e trará reuniões simuladas de organizações e tribunais como a Organização Mundial da Saúde, a Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Organização Internacional do Trabalho (OIT, na sua sigla em português), tendo esta última a temática de Migrações e Trabalho Decente.
O USPMUN e as Simulações de Fóruns Internacionais
O “Model United Nations”, comumente conhecido como MUN, é uma técnica de aprendizagem amplamente difundida no exterior e ainda pouco conhecida no Brasil. Envolvendo conhecimentos teóricos de Direito Internacional e Relações Internacionais e articulando habilidades de retórica, negociação e política, as simulações de organismos multilaterais são uma ferramenta de ensino transdisciplinar na qual o aluno recebe uma representação de certo país pertencente a determinado fórum ou comitê e deverá posicionar-se perante o tema proposto durante os dias de evento como se fosse diplomata de tal localidade. Este método vem se propagando largamente em território nacional através de iniciativas de estudantes universitários, que organizam tais fóruns simulados periodicamente, ganhando cada vez mais adeptos e parceiros.
A divulgação nas próprias simulações, bem como por redes sociais e mesmo por amigos com afinidades com o tema são de enorme importância para tais eventos. Caroline Ramos, aluna de Direito na PUC-RS, acabou descobrindo o USPMUN em outra grande simulação universitária, o UFRGSMUN, ocorrida em Porto Alegre no final do ano passado, e destaca a necessidade de tais mecanismos informais de propaganda, mesmo para aqueles que não têm na sua grade curricular estímulos para participação, como no caso de uma amiga sua que cursa jornalismo e estará participando da simulação como delegada na OMS.
Debatendo trabalho decente e migrações internacionais
Um dos temas trabalhados nos cinco dias de evento será Migrações e Trabalho Decente, debatido dentro da Organização Internacional do Trabalho. Sendo algumas das principais preocupações que envolve a população migrante, a efetividade e garantias dos direitos humanos e trabalhistas de migrantes internacionais serão discutidos por mais de trinta universitários, delegados de representações de grande impacto no tema, como Espanha e China, cujos posicionamentos tradicionais deverão ser articulados pelos alunos-representantes de maneira a problematizar a questão e tentar orientá-la de maneira objetiva.
Os delegados depreendem grande esperança no evento. Muitos participam pela primeira vez de uma simulação da ONU, enquanto para outros a atividade já é considerada um hobby. Victor Nascimento Miyano, aluno do Instituto de Relações Internacionais da USP, representante dos Emirados Árabes Unidos, está participando de sua primeira simulação universitária e tem como expectativa “conhecer melhor sobre os tópicos, no sentido de sair do senso comum, encarar os dois temas com mais seriedade e, por fim, de usar as informações adquiridas no contexto brasileiro, que nos afeta mais diretamente”.
Já Lucas Madeira Bortoletto, representante dos empregadores estadunidenses no comitê, participa do seu sexto MUN e entende este como “um dos debates mais antigos que tem na política internacional, mas que nunca se tornou ultrapassado, principalmente agora em que novas ondas xenofóbicas e crises econômicas voltaram a tona”. Ansioso pelas discussões, ele completa: “Para mim, tanto a imigração como o trabalho decente andam juntos, porque a maioria dos trabalhadores que sofrem com péssimas condições trabalhistas são os imigrantes, uma vez que essa mão de obra é propositalmente mal remunerada para abaixar o preço do produto final e gerar maior competitividade no comercio internacional. Estamos em um momento em que esses problemas têm de ser resolvidos, porque não se pode mais arrastar o mundo e a economia internacional em questões que degradam e exploram o ser humano”.
Raquel Altoé, uma das diretoras do comitê, tem como expectativa que os delegados saiam com um olhar mais crítico sobre a ligação entre migrações internacionais e trabalho decente. “Espero que eles percebam que a culpa não é só do setor de empresas, que o governo e até mesmo a população acaba tendo muito interesse nesse mal trato aos imigrantes, e também pensem em ações concretas para mudar a realidade. Afinal, nós só simulamos aqui, mas preparamos pessoas que podem fazer disso realidade num futuro breve”.