Depoimento pessoal do artista italiano Sergio Ricciuto Conte, cedido para publicação no MigraMundo; um relato que ajuda a mostrar o tratamento que o migrante recebe no Brasil
Por Sergio Ricciuto Conte (texto e ilustração)
De São Paulo (SP)
Sou estrangeiro.
É a Polícia Federal que julga minha “idoneidade de estar”.
Se ela não quer, não fico.
Já fiz fila com a papelada na mochila e o policial armado puxando meu braço para moldar o fluxo.
Várias vezes me senti um criminoso, e várias vezes percebi meu querer ficar como um erro grave.
Somos tratados como casos de segurança. Simplesmente por sermos de fora.
Veja bem, italiano até que sofre menos por causa de um tal de racismo inverso: policial dá um sorrisinho quando saca que nasci perto da cidade da avó dele.
Recentemente, um monte de sacanas de tudo quanto é partido, de toda religião, time, banda, grupo sanguíneo, cor e tamanho saiu na lista dos corruptos. Milhões de reais roubados, milhões de oportunidades tiradas do povo.
Destes caras ninguém nunca foi puxado pelo braço por um policial armado, nunca foi tratado como criminoso.
Gente, se você sai e volta ao Brasil com uma quantia superior a R$ 10 mil tem que declarar, eles vão cobrar impostos e tudo num “climão” que faz você se sentir o pior traficante do mundo.
Momentos tensos, que se você não cuidar da sua autoestima, podem até te deixar culpabilizado pra sempre.
E os caras roubando milhões numa boa.
“Veio”, você e eu estamos de saco cheio, não é? Faça algo meu… Quem que seja, faça alguma coisa!
O depoimento de Conte se torna ainda mais importante em meio ao debate sobre a nova Lei de Migração no Brasil. A lei atual – o Estatuto do Estrangeiro – vê qualquer pessoa que não seja brasileira como uma ameaça à soberania nacional e é inconstitucional em sua maior parte. Já a proposta que está sendo debatida no Congresso enxerga o migrante como sujeito de direitos e recoloca a legislação brasileira em concordância com a Constituição.