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quarta-feira, março 27, 2024

Travessia de migrantes em Darién bate recorde e já ultrapassa dados de 2022; ONU pede ação conjunta

ACNUR e OIM destacam que situação em Darién representa a necessidade urgente de garantir direitos e de expandir as vias regulares para pessoas refugiadas e migrantes

Em apenas sete meses, o total de migrantes que atravessaram a região de selva de Darién, entre a Colômbia e o Panamá, já atingiu o total registrado ao longo de 2022. A travessia é considerada uma das mais perigosas e letais do mundo e já vem recebendo a alcunha de “Selva da Morte”.

Segundo dados oficiais, 248.901 pessoas cruzaram a pé a selva de Darién nos primeiros sete meses deste ano, superando o total registrado em 2022, quando 248.284 migrantes se arriscaram no trajeto. Em 2021, foram 133 mil.

Os venezuelanos são a primcipal nacionalidade representada nesse fluxo, respondendo por 55% do total. Em seguida aparecem cidadãos do Haiti (14%) e Equador (14%). A gama de origens, no entanto, é bem mais ampla e contempla pessoas da China, Colômbia, filhos de pais haitianos nascidos no Chile e no Brasil, afegãos, nepaleses e outros.

A previsão é que até o fim deste ano 400 mil migrantes tenham passado pela região.

Um grupo de refugiados e migrantes caminha em direção à cidade de Canaan, no extremo sul do Panamá, depois de atravessar a região de Darién. (Foto: Nicolo Filippo Rosso/ACNUR)

Como é a travessia por Darién

O trecho usado por migrantes leva de quatro a seis dias para ser cruzado a pé, entre o povoado de Acandí, na Colômbia e Bajo Chiquito, no sul do Panamá.

O percurso na selva inclui muita umidade, cadeias de montanhas, travessias de rios com fortes correntezas e animais perigosos. Os migrantes enfrentam ainda o cansaço, fome e sede.

Os Estados Unidos são o destino final dos migrantes que se arriscam nessa rota, que no total pode levar até dois meses até a fronteira com o país da América do Norte. No entanto, o custo dessa travessia é alto. São numerosos os casos de mortes ou desaparecimentos, enquanto outros que saem com vida são obrigados a viver posteriormente com problemas de saúde, tanto físicos como mentais.

De acordo com o Missing Migrants Project, da OIM (Organização Internacional para as Migrações), ao menos 137 migrantes morreram ou desapareceram ao tentar atravessar a região de Darién no ano passado. No entanto, a agência da ONU ressalta que o número real pode ser maior, pois há casos que sequer chegam a ser relatados.

Como se não bastasse as condições naturais do meio ambiente e do corpo humano, na região ainda tem a presença de paramilitares, grupo armados e tráfico de drogas e de pessoas.

Pedidos de rotas mais seguras e regulares

Em comunicado conjunto, o ACNUR (Alto Comissariado da ONU para Refugiados) e a OIM destacaram que o alarmante número de pessoas que atravessam o Darién destaca a necessidade urgente de expandir as vias regulares para pessoas refugiadas e migrantes, proteger as vidas e os direitos dos migrantes em situação de vulnerabilidade.

“A perigosa travessia pela selva de Darién não é apenas um testemunho do desespero e da determinação daqueles que buscam uma vida melhor, mas um lembrete sombrio da urgência de atualizar nossos sistemas de migração. A urgência dessa situação não permite delongas: é nosso dever coletivo, e não apenas do Panamá, fornecer soluções humanas e sustentáveis que evitem tragédias futuras”, disse a diretora regional da OIM para a América Central, América do Norte e Caribe, Michele Klein Solomon.

As duas agências da ONU pediram ainda o fortalecimento dos sistemas de reconhecimento da condição de refugiado e encontrar outras alternativas de proteção na região, além de promover a estabilidade nos países de origem, destino e retorno nas Américas.

“Vários fatores interconectados, que vão desde o acesso limitado a direitos fundamentais e serviços essenciais até o impacto da violência e da insegurança, continuam a levar as pessoas a situações de deslocamento. Estamos intensificando a assistência humanitária e de proteção para atender às necessidades urgentes de pessoas refugiadas e migrantes, principalmente fornecendo apoio crítico em áreas como alimentação, abrigo e assistência médica, pois seus direitos e bem-estar estão em jogo”, afirmou o diretor do ACNUR para as Américas, José Samaniego.

Barreiras em rio

No entanto, governos da região vem adotando medidas que vão na contramão do que pedem as agências da ONU. Na última quarta (2), uma pessoa foi encontrada sem vida e presa à barreira de boias flutuantes instalada por autoridades do Estado do Texas no rio Grande, que separa os Estados Unidos do México. A ação tem como objetivo bloquear a passagem de migrantes.

Além de criticada por entidades internacionais, a instalação das boias provocou embates dentro dos Estados Unidos. O próprio Departamento de Justiça do país se posicionou de forma contrária à barreira e processou o estado do Texas, argumentando que as boias representam ameaças à navegação e segurança pública.

Uma carta conjunta de mais de 60 organizações também foi enviada aos legisladores estaduais na última terça-feira (1º), pedindo o fim de “estratégias violentas de fronteira” e a remoção das boias do rio Grande, de acordo com a ONG de direitos humanos Border Network for Human Rights.

Com informações da ONU News, ACNUR, OIM e G1

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