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sábado, novembro 23, 2024

Turcos no Brasil se mobilizam em prol de vítimas de terremoto e ignoram perseguição de Erdogan

Turcos que vivem no Brasil sofreram perseguições recentes por parte do atual governo turco. Mas a comunidade agora foca em aliviar as dores geradas pela tragédia

Atualizado às 11h15 de 9.fev.2023

Tão logo chegaram as primeiras notícias do terremoto que atingiu a Turquia e a Síria, na madrugada de segunda-feira (6), migrantes turcos e sírios que vivem no Brasil iniciaram a mobilização em apoio aos compatriotas.

A prioridade inicial foi de tentar estabelecer contato com os parentes, especialmente aqueles que moram nas regiões mais afetadas pelos tremores, os mais fortes deles chegando a 7,8 graus na escala Richter. Logo em seguida, a mobilização passou para a arrecadação de recursos para apoiar os atingidos pela tragédia.

O Instituto Pelo Diálogo Intercultural, antigo Centro Cultural Brasil-Turquia, que conta com apoio da comunidade turca no Brasil, é um dos atores engajados nessa tarefa. A entidade criou uma campanha a partir do portal de financiamento coletivo Vakinha e também disponibilizou o PIX para recebimento de doações.

Instituto pelo Diálogo Intercultural
Banco Digital CORA
AG. 0001
CC: 1503963-0
PIX/CNPJ: 13.815711000166
OBS: Identificar o depósito com termo “Terremoto-Turquia”

Segundo o Instituto Pelo Diálogo Intercultural, um conselho será estabelecido para organizar e fiscalizar as doações recebidas para este fim. A transferência das arrecadações será feita para instituições civis que estão atuando nas regiões afetadas.

“Vamos publicar para que ninguém tenha dúvida que tudo que entrou foi encaminhado diretamente para as pessoas necessitadas”, reforçou Mustafa Goktepe, fundador e presidente do instituto.

Resistência e solidariedade

Cerca de 1.000 turcos vivem no Brasil atualmente, segundo estimativa da própria comunidade. Um número que já foi maior e acabou reduzido pelas perseguições que sofreu nos últimos anos a partir do governo turco.

Isso porque grande parte da comunidade turca no Brasil é ligada ou é simpatizante do movimento Hizmet (“serviço”, em turco). Iniciado na década de 1970, ele atua nas áreas de ajuda humanitária, desenvolvimento comunitário, construção da paz, diálogo intercultural e inter-religioso, mídia e principalmente educação. Seu idealizador é o clérigo Fethullah Gülen, ex-aliado e hoje considerado inimigo do atual presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, cada vez mais criticado na comunidade internacional por seus atos antidemocráticos.

Em 2013, Erdogan declarou o Hizmet como inimigo público e passou a perseguir seus integrantes e simpatizantes. No Brasil, essa pressão se fez presente em diferentes momentos no Brasil, quando o governo turco solicitou a prisão e extradição do comerciante turco naturalizado brasileiro Ali Sipahi, em 2019, depois dele chegar a São Paulo vindo de uma viagem aos Estados Unidos.

Sipahi só foi libertado quatro meses depois, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal barrar o processo de extradição.

Foi em reação contra esse tipo de perseguição que em junho de 2021, mesmo em meio à pandemia de Covid-19, a comunidade turca promoveu um protesto em São Paulo pedindo celeridade na análise dos pedidos de refúgio junto ao governo brasileiro.

Comunidade turca durante protesto em São Paulo por celeridade na avaliação de pedidos de refúgio.
(Foto: Divulgação)
Comunidade turca durante protesto em São Paulo por celeridade na avaliação de pedidos de refúgio. (Foto: Vanessa Giannellni/Divulgação)

Em 2020 o antigo Centro Cultural Brasil-Turquia mudou de nome, passando a se chamar Instituto Pelo Diálogo Intercultural, de forma a manter o propósito que já não encontrava mais a partir do governo atualmente no poder em Ancara.

Apesar das perseguições sofridas nos últimos anos, Goktepe enfatiza que agora é necessário focar no apoio às vítimas do terremoto que abalou a terra natal.

“Estamos sofrendo uma perseguição muito dura na Turquia e fora dela. Mas em momentos como este não podemos levar em consideração isso, temos de pensar na dor que as pessoas estão sentindo. Estamos sentindo todos juntos e todos devemos nos esforçar para aliviar essa dor. Vamos fazer tudo para poder arrecadar o máximo que pudermos e mandar para a Turquia”.

Ajuda à Síria

“A situação é muito complexa nas cidades afetadas pelo terremoto na Síria. A região é controlada por opositores do governo Assad, não há estrutura alguma”, explica o ativista sírio Abdulbaset Jarour, radicado no Brasil.

Natural de Aleppo, uma das cidades atingidas pelo tremor, Abdul – como é conhecido – tem mobilizado pessoas e recursos em apoio às vítimas. A exemplo da campanha promovida pelo Instituto Pelo Diálogo Intercultural, a ideia é apoiar entidades locais que estão na linha de frente das buscas e no atendimento aos sobreviventes e deslocados pela tragédia.

Doações podem serfeitas por meio da campanha criada no portal Vakinha ou pelo PIX [email protected]

Os danos gerados pelo tremor no norte da Síria se somam aos efeitos do conflito iniciado em 2011 e que levou o país a figurar entre os que mais geram refugiados e deslocados internos no mundo.

Antes do terremoto, eram cerca de 15,3 milhões de pessoas precisando de ajuda humanitária na Síria, segundo projeções da ONU. A população que buscou refúgio em outros países é estimada pela ONU em cerca de 6,8 milhões. E o destino de grande parte desses refugiados foi justamente a vizinha Turquia.

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