Objetivo é “’facilitar a identificação” dos que permanecerem no espaço Schengen além do prazo e “apoiar processo de regresso’”; novo sistema custará 64,3 milhões de euros
Por Victória Brotto
De Estrasburgo (França)
Os Estados-membros da União Europeia votarão na próxima segunda-feira (06/11), em Bruxelas (Bélgica), a criação de um banco de dados com informações dos cidadãos não-europeus que entrarem no bloco para estadias curtas (de até 90 dias, dentro do período de 180 dias). Os carimbos dos agentes de imigração deixarão de existir, e a ideia é que cada viajante tenha seu “próprio perfil”, atualizado pelos agentes.
Além de acelerar os procedimentos de controle nas fronteiras, o chamado Sistema de Entrada e Saída (SIS, na sigla em inglês) quer facilitar a identificação daqueles que excederem o período de permanência no bloco europeu determinado pela lei, os chamados “overstayers”.
De acordo com o texto (leia aqui a versão em inglês do documento), o custo de implementação do novo sistema será de 64,3 milhões de euros até 2020, quando ele entrará em funcionamento.
“É necessário um sistema mais eficiente de troca de informações, assim como uma melhor forma de integrar os sistemas já existentes de base de dados”, afirmou o Comissário para Migração da União Europeia, Dimitris Avramopoulos, em declaração após a votação em Estrasburgo. De acordo com ele, “é preciso fechar as brechas” no sistema de controle de fronteiras do bloco.
O SIS começou a ser votado na última quarta-feira (25/10) no Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), onde obteve a maioria no Comitê de Liberdade Civil, Justiça e Assuntos Internos: foram 477 votos a favor e 139 contra, além de 50 abstenções).
Sob o novo sistema, cada viajante terá computado tipo de visto, nome, dados biométricos (quatro impressões digitais e imagem facial), tipo de documento de viagem e a data e o local de entrada e de saída do bloco. De acordo com a nova legislação, quem saiu do bloco no tempo previsto terá suas informações armazenadas por três anos, já quem excedeu o tempo de permanência terá suas informações retidas por cinco anos – “a fim de apoiar a identificação e o processo de regresso”.
De acordo com o texto votado pelo Comitê de Assuntos Internos, as informações de quem também teve visto negado serão armazenadas. O SIS e o Sistema de Informações sobre Vistos da União Europeia serão integrados. Os dados poderão ser acessados pelo governo de cada estado membro apenas com autorização judicial e que seja para fins de prevenção, investigação ou detecção de atos terroristas ou outros crimes graves.
O novo banco de dados faz parte do projeto europeu de “fronteiras inteligentes”, votado há 10 anos, no ano de 2007. O projeto visa “fortalecer as fronteiras internas” da União Europeia, assim como lutar contra o terrorismo e o crime organizado.
Para o membro e relator do Comitê, o deputado português Carlos Coelho (Partido Social Democrata), o sistema é “bem-vindo”, mas cita alguns receios. “O sistema é bem-vindo. Contudo, disse diversas vezes e desde o início que tenho dúvidas sobre o valor acrescentado, sobretudo à luz dos sistemas de informação já existentes e no terreno.”
Para o deputado, o sistema detectará “quantitativamente” os chamados overstayers – que ficam além do tempo permitido na UE – mas não os identificará “qualitativamente.” “Tenho dúvidas também quanto ao seu elevado custo, tenho dúvidas quanto à sua implementação”, acrescentou o deputado em nota oficial publicada em sua página no site do Parlamento Europeu.