Grande parte do auxílio oferecido na capital paranaense vem de instituições religiosas e organizações de “primeira acolhida”
Por Debora Draghi
Em Curitiba (PR)
Em maior ou menor número, de acordo com as circunstâncias, o Brasil sempre recebe pessoas de outras nações. No entanto, o processo de integração para os migrantes pode ser árduo por conta de lacunas existentes.
O país abriu suas portas para que pessoas refugiadas e migrantes de algumas nacionalidades específicas pudessem recomeçar suas vidas. Mas em certos aspectos, há uma falta de estrutura que dificulta uma melhor integração no Brasil, atrasando um processo que interfere em uma vida melhor e que os migrantes poderiam conseguir se recursos simples estivessem disponíveis, como aulas de português, revalidação de diploma, moradia, acesso ao mercado de trabalho formal e empreendedorismo ou até mesmo informações básicas sobre seus direitos e deveres.
Mesmo assim, nos últimos anos o Brasil tem obtido avanços nas iniciativas de integração de migrantes. Grande parte desse ganho ainda vem da sociedade civil, principalmente nas áreas jurídica e social, enquanto em relação ao poder público os exemplos são mais escassos.
A “primeira acolhida” em Curitiba
Apesar dessa falha, Curitiba vem oferecendo, através de diferentes instituições, um auxílio que abrange todo o processo migratório – desde documentação e aulas de português, até o enfoque no mercado de trabalho e integração. Ao entrevistar as organizações presentes em Curitiba, pode-se entender melhor os maiores desafios, problemas e atividades, tanto para as instituições, quanto para os imigrantes.
É importante perceber como as dificuldades se nivelam quando o assunto é acolher e fornecer os primeiros cuidados aos migrantes e pessoas refugiadas que chegam na capital paranaense. Na Pastoral do Migrante, instituição da Igreja Católica, há uma grande procura em relação a documentação, direcionamento para cursos profissionalizantes, creches, escolas, revalidação de diplomas, encaminhamento para o mercado de trabalho e até mesmo o mais básico, alimentação. Simultaneamente, a Pastoral procura trabalhar a emancipação de refugiados e migrantes na sociedade, para que eles não dependam do assistencialismo por um longo período e tornem-se protagonistas na sociedade. Entretanto, para isso acontecer, é preciso que possibilidades sejam oferecidas.
Já a Cáritas regional trabalha com toda sua articulação dentro do Estado do Paraná e seus projetos são desenvolvidos em áreas específicas, e ao mesmo tempo, incluem os imigrantes e refugiados em rodas de conversas, para que eles possam perceber o próprio protagonismo dentro do espaço em que estão inseridos e a atuação deles seja valorizada.
Por outro lado, o Instituto de Reintegração do Refugiado, o Adus [que também está presente em São Paulo], realiza atividades na área de cultura, facilitação social, busca por vagas de trabalho, campanhas de conscientização e em breve, disponibilizará profissionais na área de saúde, para que imigrantes em situações emergenciais sejam atendidos gratuitamente.
Obstáculos e a “segunda acolhida”
Embora cada organização procure focar em um processo específico, há muitas condições em comum. As nacionalidades que mais procuram auxílio se assemelham em todas as organizações, embora muitos imigrantes que não se enquadram no pedido de refúgio também estão entre os que mais pedem auxílio. Para as instituições, é difícil que todas se mantenham financeiramente, que lidem com a opinião pública contrária às atividades realizadas, que trabalhem com um número limitado de vagas em cursos profissionalizantes e para que mantenham o engajamento de voluntários e muitas vezes dos próprios imigrantes nos projetos. Além disso, percebe-se também que essas instituições contam com vários voluntários para dar continuidade aos seus projetos, já que não possuem um orçamento que permita a contratação de mais pessoas.
Os obstáculos, infelizmente, também são para os migrantes, que ao chegarem em um país estranho, com cultura e idioma diferentes, passam por problemas similares. A falta de um local de acolhimento nos primeiros dias em Curitiba é um deles, algo que ainda precisa ser solucionado para poder amparar os estrangeiros em situação de maior vulnerabilidade. Além de racismo e xenofobia, os migrantes e pessoas refugiadas ainda precisam encarar os desafios de um mercado de trabalho difícil, onde nem todos estão dispostos a contratar pessoas de outras nacionalidades.
Para isso, por exemplo, há uma organização específica, o Linyon Global Workers, um negócio social voltado para a inteligência cultural, que tem como proposta mostrar a riqueza e o potencial que a diversidade oferece e ao mesmo tempo, recolocar os imigrantes no mercado de trabalho, além do projeto Escola de Integração, que dá treinamentos e capacitações focadas também na inserção no mercado de trabalho.
Curitiba também conta com a CASLA (Casa Latino Americana), fundada em 1985, que dá apoio jurídico através da atuação de advogados voluntários; a SEJU (Secretaria da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos), que, em sua estrutura, conta com o Departamento de Direitos Humanos e Cidadania (DEDIHC; e dentro dele está incluído o CERMA (Conselho Estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas do Paraná), que coloca em prática e supervisiona políticas públicas direcionadas aos direitos de imigrantes, refugiados e apátridas dentro da Administração Pública no Estado do Paraná.
Já em um ambiente acadêmico, a UFPR (Universidade Federal do Paraná), desde 2013, oferece Português para refugiados e agora expandiu esse projeto para outras seis áreas, como assistência jurídica, informática e História do Brasil para Estrangeiros.
Por fim, atuando em um segundo momento do processo migratório, O Planeta é um Só foca principalmente na integração e no convívio, oferecendo um espaço para mostrar que as portas estão abertas e que há um local de pertencimento, de sentimento de comunidade e paz, incluindo brasileiros e estrangeiros, para que haja uma troca de conhecimento, entendimento e acolhimento das diversidades.
Embora nem todas as instituições atuantes em Curitiba tenham sido citadas, é possível identificar a assistência concedida por organizações, secretarias e sociedade civil, através de contribuições mais urgentes, mas também projetos que se preocupam com o migrante para garantir que seus direitos e o bem estar sejam assegurados a longo prazo.
Para saber mais:
UFPR – projeto que auxilia imigrantes, refugiados e apátridas
Departamento de Direitos Humanos e Cidadania – DEDIHC
CERMA/PR – Conselho Estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas do Paraná