Por Pe. Mario Geremia, CS
“Os migrantes e refugiados não são um perigo, eles estão em perigo”.
(Papa Francisco)
Depois de um lindo e longo processo coletivo de construção da “Rede Migração Rio” chegamos mais uma vez a um excelente resultado que, sem dúvida, cai como semente de uma utopia real em terra boa nos corações daquelas pessoas que sonham com a cidadania universal.
No dia 25 de abril foi lançada a terceira edição da revista “A presença do Migrante no Rio de Janeiro: olhares dos imigrantes e refugiados” na qual encontramos escritos da vida real tal como ela se expressa no cotidiano das migrações. Tivemos a riqueza, a beleza, a resistência e os desafios das experiências e histórias de vida de irmãos (as) colombianos, venezuelanos, equatorianos, haitianos, sírios, africanos (Costa do Marfim, Benin e Congo).
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Em todos os escritos da revista e nas falas no seminário transparecem de forma muito clara sentimentos, realidades, situações, desafios, sonhos comuns das histórias das pessoas que migram. Tudo junto e misturado _ assim como acontece no cotidiano da vida.
Foram muito interessantes os pontos e dimensões comuns nas falas dos imigrantes e refugiados nas mesas do seminário – o que nos ajuda a pensar e agir de forma coletiva e, sobretudo, a buscar respostas num país em que tivemos uma grande conquista a construção e elaboração de uma nova lei de migrações com base ao paradigma de direitos humanos, mas que ainda tem sérios problemas em sua regulamentação e compreensão/interpretação/ aplicação no cotidiano por parte dos agentes da polícia.
Os elementos e dimensões que seguem apontam e revelam nitidamente a falta de uma política de migrações em nosso país que garanta cidadania para todos os seus residentes, tal como está definido na Constituição Brasileira.
Crédito: Coletivo Rede Migração
Assim como na vida tudo caminha junto e misturado, nas histórias dos migrantes e refugiados não podia ser diferente e em suas narrativas apareceram de forma permanente e comum as diferentes realidades: o medo, a saudade, o sonho, os planos, a esperança, a vulnerabilidade, a ilusão, os encontros e desencontros, a solidariedade, a resistência, a luta pela dignidade, a acolhida, a busca, os pesadelos, as mortes e violências nos caminhos da migração (pelos oceanos, mares, rios, desertos, e fronteiras que se transformam em verdadeiros cemitérios anônimos onde a terra e a água são a única companhia de milhares de migrantes e refugiados ali sepultados).
A dor e o sofrimento da solidão e do abandono, contudo, andam junto com a resistência como ato político, como nova consciência que nasce da situação de migração. A xenofobia e a indiferença crescente na sociedade civil, nas mídias e governos, são marcadas pela descoberta de novos contextos de muros e fronteiras que separam e dividem, mas, ao mesmo tempo, de pontes que unem, integram e acolhem.
É necessária e urgente uma política de migrações no Brasil que acolha, promova, proteja e integre a todos.
Ao enfrentar a burocracia existente nos processo de legalização os migrantes sentem que a legislação não é suficiente. Sentem também o vazio que existe entre o discurso e a prática no tema da acolhida, quando Estados e governos que abrem as portas não oferecem as condições e estruturas necessárias para uma vida normal e digna – de modo especial no momento da chegada ao país. No Brasil não é diferente. Torna-se evidente a difícil e tensa relação que existe entre os migrantes e refugiados com a Polícia Federal, o agente responsável pela sua regularização. O falso discurso da mídia sensacionalista que divulga de forma permanente, através de notícias reducionistas e tendenciosas a realidade migratória, oculta causas e consequências positivas e negativas nos países de origem, de trânsito e de destino.
A força da organização na transformação da realidade, a nova identidade e consciência que nasce no caminho da migração fortalece, sobretudo, a firme convicção de lutar por um mundo sem fronteiras em vista da cidadania universal, onde as pessoas possam circular livremente. A contradição se expressa na fabricação de armas para fortalecer o inescrupuloso negócio da guerra, do tráfico de droga e de seres humanos, para aumentar a ganância e a cobiça de poucos na concentração irracional do capital e das riquezas naturais e produzidas em detrimento da maioria dos povos e nações, destruindo a vida no planeta em todos os seus níveis de existência. Nesta falsa opção política de muitos Estados se revela a loucura e estupidez humana que sem dúvida nos levará ao caos, aos conflitos, a destruição da vida no planeta e ao aumento das migrações forçadas.
Neste seminário o caminho dos migrantes e refugiados, suas experiências, falas e histórias nos apontaram outra direção. Com autoridade moral baseada na experiência em busca de vida, os migrantes e refugiados revelaram-se uma presença profética da paz no caminho da migração forçada, na atual conjuntura do sistema neoliberal que exclui, mata e destrói a vida em todos os seus níveis de existência.
Ao mesmo tempo, os migrantes e refugiados, revelaram-se protagonistas da história e agentes sócio políticos de transformação, profetas da paz e da esperança que na condição de migrantes e de refugiados são a presença que DENUNCIA as causas injustas das migrações forçadas e todo tipo de violência e de atropelo aos direitos humanos. ANUNCIAM um mundo novo possível, diferente e necessário para todas as pessoas, no qual se garanta cidadania para todos. CELEBRAM no cotidiano da vida a resistência e a certeza de que a última palavra é da vida e jamais da morte.
O Coletivo Rede Migração Rio e a Pastoral do Migrante mais uma vez escutam no seu caminhar as palavras do grande poeta e escritor Martin Fierro: “No me importa llegar tarde, lo que me molesta es llegar solo”. E sob a proteção do Aventurado João Batista Scalabrini seguimos trabalhando na certeza de que “para o Migrante a Pátria é a terra que lhes dá o pão e a acolhida”.
O Mundo Caminha e nós não podemos parar.
Obrigado a todas as pessoas e organizações que fizeram possível mais este importante evento e pela presença de todos no seminário.
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