Por Rodrigo Borges Delfim
Eles atuam em aulas de português, assistência social, orientação jurídica, comunicação, promoção de eventos, entre outras atividades. São os voluntários, pessoas que decidem dedicar um pouco do próprio tempo para ajudar na elaboração e execução de eventos e projetos de entidades de diversas áreas de atuação. E com a temática migratória não é diferente.
Sem eles, o trabalho de muitas entidades que lidam com migrantes e refugiados não seria possível ou ficaria comprometido. Trata-se na verdade de uma grande via de mão dupla, na qual tanto os imigrantes são beneficiados pelos serviços prestados como os próprios voluntários ganham formação, ficam mais cientes da condição do imigrante, ajudando a desfazer (junto à sociedade e dentro de cada um) uma série de estereótipos que rondam essa comunidade.
Para Hanah da Silva, facilitadora social no Instituto Adus, que lida principalmente com refugiados, o voluntariado é simplesmente imprescindível. “O Adus funciona pela força dos voluntários, eles são a mão que move a instituição”. No entanto, ela lembra que é necessário um comprometimento constante por parte da pessoa. “Do voluntário espera-se envolvimento, compromisso e, acima de tudo, responsabilidade”.
Outra entidade que tem nos voluntários uma força fundamental é a Missão Paz, iniciativa ligada à ordem religiosa dos scalabrinianos e que lida há 75 anos com migrações no Brasil. Eles reforçam o time de profissionais contratados e estagiários que já atuam nos projetos da instituição. “Sem os voluntários, nosso trabalho atual não seria possível ou ficaria com alcance muito limitado. É preciso compromisso, mas dá para ver que a maioria dos voluntários daqui têm esse sentimento“, afirma o padre Paolo Parise, diretor da Missão.
Voluntários, quem são e o que buscam?
Dentre os voluntários podem ser encontradas pessoas de todas as origens e formações sociais e profissionais. Em comum, todos têm a sensibilidade desenvolvida em relação aos migrantes e o interesse em contribuir de alguma forma para uma melhor e menos atribulada adaptação ao país que serve como nova morada – temporária ou definitivamente.
“É admirável ver o ânimo, força de vontade e alegria de muitos diante de tanta novidade, mudanças e adversidades. Eu não sei se aguentaria… O idioma é uma barreira enorme, fora os hábitos e costumes. Aliás, é uma ótima maneira de conhecer culturas diferentes e treinar um idioma. E claro, ajudar”, lembra a jornalista Erika Omori, que atua como voluntária na área de comunicação do Adus.
Tania Bernuy, coordenadora do Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC), lembra de um antigo voluntário que acabou beneficiado pela experiência na entidade. “Era um estudante que prestava orientação jurídica aos imigrantes. E a experiência adquirida aqui acabou ajudando-o a conseguir uma vaga para trabalhar na ONU”.
A formação e o aprendizado com o trabalho voluntário junto a migrantes e refugiados acabam sendo consequência da vivencia com o assunto.” Já pude aprender muito, mais sobre o passo a passo para solicitar refúgio no Brasil, sobre direitos e deveres dos solicitantes, aprendi a lidar com cada caso com um olhar atencioso e mesmo um pouquinho sobre os países dos quais estas pessoas são oriundas”, explica Bárbara Cagliari Lotierzo, estudante de Relações Internacionais na USP e voluntária na Caritas de São Paulo, que acolhe e orienta refugiados e solicitantes de refúgio.
Migrantes já estabelecidos no Brasil também engrossam as fileiras dos voluntários em projetos e atividades ligados à temática. Um deles é o tradutor peruano Victor Gonzales, que desde a terra natal é envolvido com voluntariado e mantém a prática no Brasil – na Missão Paz, como conselheiro participativo n Subprefeitura de Santo Amaro e no Grupo de Apoio à Criança com Câncer (GRAAC). “Não sei se algo mudou, em especifico [pelo fato de ser voluntário], mas meu olhar sobre o mundo… saber que é possível aportar com nosso grão de areia se é que queremos ver mudanças e melhoras, já que se todos ajudamos é possível coisas maiores. Não basta esperar ou simplesmente reclamar”.
Medo em assumir?
Hanah pondera que, embora muitas pessoas tenham interesse em ser voluntários, existe a dificuldade em manter esta ou aquela pessoa em uma determinada atividade frente a tantos outros compromissos da vida cotidiana. “A maior dificuldade que encontramos é a rotatividade, seja por se tratar de um trabalho não remunerado, o que infelizmente pode gerar o descompromisso, ou pela tão aclamada falta de tempo para se dedicar a algo além do trabalho, estudo, família e outras atividades, muitos acabam não permanecendo”, explica.
Esse desafio de manter uma atividade com a qual não existe um vínculo oficial não é vista como problema para quem já está como voluntário – e estes procuram encorajar outras pessoas a também dedicarem parte do tempo por alguma causa (neste caso, a questão migratória).
Perguntada o que diria para uma pessoa interessada em ser voluntária, Carla Andressa – que atua também junto ao Adus – não economiza para encorajá-la. “Eu diria pra essa pessoa ir em frente, procurar sim uma oportunidade de ter uma experiência como essa, porque será algo inesquecível. E a gente sempre costuma achar que nós temos mais a oferecer para essas pessoas do que elas têm para conosco. Mas depois que a gente começa a interagir com elas a gente aprende tanto, que passamos a perceber que na verdade elas é que tinham muito mais para nos ensinar”.
Veja abaixo alguns depoimentos de voluntários que lidam com imigrantes, refugiados e solicitantes de refúgio
Não sei se algo mudou, em especifico, mas meu olhar sobre o mundo… saber que é possível aportar com nosso grão de areia se é que queremos ver mudanças e melhoras, já que se todos ajudamos é possível coisas maiores. Hoje às ruas que ajudei a construir no Peru estão todas asfaltadas e passam ônibus, tudo ficou urbanizado. Saber que fiz parte dessa historia significa entender que tudo é possível, mas que precisamos participar ativamente na sociedade para propiciar as mudanças que queremos ver. Não basta esperar ou simplesmente reclamar.
Victor Gonzales, peruano, tradutor, voluntário no GRAAC, na Missão Paz e como conselheiro dos imigrantes na Subprefeitura de Santo Amaro, São Paulo
Estou tentando reclamar menos e – é batido, mas é verdade – tentando agradecer mais, ajudar mais pessoas no dia a dia, e dar valor as pequenas coisas. Comparo o que eu considerava ser um baita problema com os problemas deles. Chega a ser ridículo… e é admirável ver o ânimo, força de vontade e alegria de muitos diante de tanta novidade, mudanças e adversidades. Eu não sei de aguentaria… O idioma é uma barreira enorme, fora os hábitos e costumes. Aliás, é uma ótima maneira de conhecer culturas diferentes e treinar um idioma. E claro, ajudar.
Erika Omori, jornalista e voluntária no instituto Adus
Tenho me supreendido muito nesse trabalho. Em apenas duas semanas de trabalho com crianças eu pude ver na prática que toda criança, independentemente do local onde nasceu, da cultura que absorveu, ela sempre vai ser transparente, como toda criança é. Então se você conseguir conquistá-la nos primeiros momentos que interagir com ela, se você demonstrar que gosta dela, que se preocupa com ela, ela vai te retribuir com todo amor que ela tem, e esse sentimento de gratidão é muito melhor do que qualquer muito obrigado que você possa ter ouvido em toda sua vida!
Cassia Andressa, voluntária também no Instituto Adus
Já pude aprender muito, mais sobre o passo a passo para solicitar refúgio no Brasil, sobre direitos e deveres dos solicitantes, aprendi a lidar com cada caso com um olhar atencioso e mesmo um pouquinho sobre os países dos quais estas pessoas são oriundas. É uma experiência extremamente enriquecedora, e tenho tido a oportunidade de aprender muito!
Bárbara Cagliari Lotierzo, estudante de Relações Internacionais na USP e voluntária na Caritas de São Paulo
Ótimo texto! E uma coisa que você fala é verdade, muita gente não se torna voluntário por causa do dia a dia atribulado em que vivemos. São tantas coisas, e ás vezes supérfluas, que acabamos deixando de lado tirar um tempo pra beneficiar outras pessoas, até mesmo o próximo.Eu sou uma delas, desde novinha sempre pensei em ser voluntária em hospitais com crianças. Mas nunca tive a iniciativa disso, até porque em hospitais é tudo meio burocrático. E há algum tempo, me interessei muito pelos refugiados sírios no Brasil. Sempre penso em achar uma maneira que eu possa ajudá-los, e a sensação de ficar arrumando desculpas pra não fazer é muito ruim.
Boa tarde, muito boa a matéria, me interesso em ser voluntária, por favor, como funciona? Resido no Abc Paulista. att, Alinr
[…] Comunidade peruana serve almoço para imigrantes e voluntários presentes em atividade na Missão Paz, em São Paulo. Fonte: Migramundo […]
Ola como faço pra trabalhar com vcs? vcs disponibilizam de alguma atividade com refugiados, imigrantes que eu possa contribuir? Por favor entrem em contato comigo !! Obrigada.
Oi Bruna, tudo bem? Você entrou em contato conosco pelo Facebook também, correto? Pode continuar a falar por lá!