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sexta-feira, abril 26, 2024

Xará venezuelano de Gilberto Gil é pedagogo, vive em Manaus e estuda computação

Gilberto Gil venezuelano é voluntário na Pastoral do Migrante em Manaus e trabalha como motorista de aplicativo enquanto faz cursos e se reinsere em uma nova realidade

Por Sebastião Rinaldi

“Andar com fé eu vou que a fé não costuma faiá”, canta Gilberto Gil, um dos idealizadores do Tropicalismo. Talvez o “nosso” músico não saiba que tem um homônimo de 56 anos, natural da Venezuela. Seu xará vive atualmente em Manaus com a esposa, Orietta. Suas duas filhas, Orianna e Marianna, residem em Boa Vista. E esse quarteto chegou ao País em 2017 por causa da crise político-social que assola o país vizinho.

Formado em Pedagogia, Gil era professor do Ensino Fundamental e estava prestes a concluir seu mestrado. Natural de Caracas, vivia com a família no estado de Monagas. Atualmente, trabalha como motorista de Uber e estuda ‘Programação (Ciências da Computação)’, visando uma recolocação profissional. Sua “pareja” divide seu tempo entre o voluntariado na Pastoral do Migrante (Arquidiocese de Manaus) e alguns trabalhos com costura e talentos manuais. O casal coordena uma escola de dança e música – a Escuela Sentir Venezolano – para crianças migrantes venezuelanas.

Anteriormente, Gilberto fez cursos pelo Senac, como atendimento ao público, operador de caixas e inspetor de qualidade. “Em julho de 2017, cheguei a Manaus diretamente e comecei a procurar uma quitinete e um emprego. Um amigo me ajudou nessa chegada. Achei um apartamento por 400 reais ao mês. Depois, comecei a vender coisas na rua e minha filha começou a trabalhar como ajudante em um restaurante. Em agosto, minha esposa e filha mais nova chegaram. Já estávamos mais estabelecidos. Hoje, as duas ‘meninas’ estão mais estáveis e trabalhando. Na Venezuela, nosso salário não alcançava mais do que três dias. Faltava tudo”, adianta.

Sobre a situação política, ele afirma que prefere não se posicionar claramente por não ser tão politizado, mas destaca que o chavismo se perdeu pelo caminho. “A Venezuela é um país pequeno, porém rico, com muitos recursos: petróleo, gás, ouro, minerais. Não acredito que ficou em ruínas dessa maneira. É uma questão humanitária que faz as pessoas saírem de lá”.

Vacinado com as quatro doses contra a Covid-19, Gilberto Gil também atua como voluntário na Pastoral do Migrante, ao lado de sua esposa, recebendo e direcionando pessoas que conseguem chegar do país vizinho, mesmo durante a pandemia.

Ao lado da mulher, xará venezuelano de Gilberto Gil dirige projet que apoia crianças venezuelanas em Manaus. (Foto: arquivo pessoal)

“Vocês vêm aqui para…”

Ao tentar completar essa frase, é infelizmente muito natural que se pense em algum cidadão estadunidense proferindo alguma frase de intolerância com um latino-americano (na maioria das vezes, mexicanos). Mas não! Essa expressão de nítida intolerância foi ouvida algumas vezes por Gil. Ele narra que, vez ou outra, no estacionamento onde trabalha, pessoas – em geral, embriagadas – quando vão retirar seus carros fazem insultos, alegando que “eles” vieram ao Brasil para fazer coisas erradas. No entanto, ele pontua que sua resolução frente a isso tem sido ignorar e relevar. 

Histórico

Na Venezuela, ele foi professor, trabalhou em banco e em uma empresa de eletricidade. Agora, com sua situação normalizando no Brasil, pretende conseguir algum emprego na área de programação ou informática.

Andar com fé

Até chegar, houve chão. A família de Gil fez todo esse trajeto de ônibus. “De onde eu morava, fomos até Santa Helena, fronteira com o Brasil. Eram 15 horas. Depois, fomos rumo a Pacaraima, Boa Vista e, por fim, Manaus”. Agora, Gil está feliz com a “Era nova”. O que ele quer é “A paz” e dar “Aquele abraço”. E para encerrar, uma máxima do Gil tropicalista: “meu caminho pelo mundo eu mesmo traço”.  

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