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segunda-feira, dezembro 23, 2024

Autor angolano no Brasil reúne em livro poemas inspirados na condição de negro e migrante

Fã de Cecília Meirelles, o poeta Moisés António lança novo livro no Brasil; algumas composições podem ser vistas no MigraMundo

Quem acompanha o MigraMundo provavelmente já conhece um pouco da obra de Moisés António. O escritor angolano, que vive em Curitiba, tem alguns de seus poemas publicados no site, como “Sou Imigrante”, e reaproveitados em diversas publicações didáticas. Essas e outras reflexões recentes agora fazem parte também de Grito A Poesia, seu mais novo livro.

A nova obra, que será lançada oficialmente no próximo domingo (24) pela Editora Travassos e já disponível para compra, é considerada por ele próprio como a mais importante de sua carreira. Formado em Letras – Inglês pela Universidade Agostino Neto, em Angola, Moisés deu continuidade à carreira literária em solo brasileiro e tem na condição de migrante e negro duas de suas principais inspirações.

Fã da poeta brasileira Cecília Meirelles (1901-1966), o autor angolano falou em entrevista ao MigraMundo sobre alguns dos sentimentos e processos que levaram à obra. Ele aproveitou para agradecer às pessoas que o ajudaram a tornar o livro uma realidade e celebrou o fato de conseguir dar continuidade à carreira literária longe da terra natal.

“É um enorme privilégio chegar até esse patamar, principalmente quando é algo que na sua terra de origem não deram o mínimo valor. É um mérito que as palavras por si só não conseguiriam descrever na sua íntegra, e por isso sou grato a Deus”, disse.

Leia abaixo a entrevista completa.


MigraMundo: Há quanto tempo você escreve seus poemas?  E como surgiu a Literatura em sua vida?

Moisés Antonio: Para responder a primeira pergunta, diria que eu comecei a escrever meus poemas desde 2008. Tudo começou durante uma aula de Português no 1º Ano do Ensino Médio, quando o Professor Gabriel Ngola falava-nos do género Poético na Literatura. Depois da aula, como atividade escolar, o professor Ngola recomendou que escrevêssemos um poema a cada aluno. Daí tive então o ensejo de fazer o meu primeiro texto lírico, intitulado “A Sua Beleza Mulher”. Através dele, fui jubilosamente aplaudido por colegas e pelo professor, que desde então me incentivou a continuar a escrever a partir daquela época até aos dias de hoje. Quanto ao surgimento da literatura na minha vida, posso dizer que ela vem desde os meus primeiros anos acadêmicos, enquanto ainda menino e estudante do Ensino Primário. Sempre gostei da Língua Portuguesa e da leitura em si, tanto dos gêneros narrativos como o poético lírico.

Você tem algum autor que serve de inspiração?

Para começar, admito que eu tenha vários autores que me serviram de inspiração para certos temas específicos na poesia, como é o caso de alguns Poetas e Poetisas Angolanos/as como: Antero de Abreu, através dos seus poemas de ativismo e Patriótico “Aqui não há Esperança e A Tua Voz Angola”. Tem também António Jacinto, Viriato da Cruz, Alda Lara e Maria de Lourdes Brandão – essa última eu citei no prefácio do livro, com trechos do seu poema intitulado Guerra. Existem outros vários poetas e poetisas internacionais que muito admiro, dentre as quais faço a questão de citar Cecília Meireles – sou apaixonado por seus escritos desde que eu era apenas um menino. Mas no fundo, eu sou a minha própria inspiração no mundo literário, o que faz de mim um ser singular a meu próprio estilo, marca e visão.

Quais são os temas que mais inspiram suas composições?

Os temas que mais inspiram as minhas composições poéticas estão relacionados principalmente a Imigrações e refúgios, assuntos sócio-políticos, ativismo contra as desigualdades sociais, raciais, meio ambiente. Mas também questões pessoais, como de revolta, indignação, protestos, romantismo e amor. Tudo depende do momento, ocasiões e situações comigo e ao meu redor com o ser humano em si.

Como foi o processo de busca pela Editora do seu livro, até chegar a que publicou a obra?

O processo na busca pela Editora até chegar a que publicou a obra Grito a Poesia, não foi muito difícil, pelo menos não aqui no Brasil. Eu conheci a Travassos em 2017 mais ou menos, quando escrevi o Romance “Sombra-No Coração da África Misteriosa”, cujo livro havia colocado no site Mesa do Editor, um canal de divulgações de obras de autores para editoras e agentes literários. Lembro-me, quando postei o livro lá, duas Editoras tinham se interessado no livro e queriam logo fechar um acordo comigo: porém eu priorizei a Editora Biblioteca 24Horas SP, que me apresentara uma proposta que no final não foi a melhor. Na sequência, a Travassos manteve amplo interesse na obra, que eu já não podia fechar com eles. No entanto insistiram, e eu tive que reescrever o livro que passou a conter duas partes. De Sombra, passou a ser Clarice- Em mares de rosas nas Terras Além-mar após o Inferno, que foi publicado pela Travassos Editora em 2019; E agora publico o livro Grito A Poesia, que é composto de vários textos reconhecidos e publicados em livros didáticos aqui no Brasil – como é o caso do poema Sou Imigrante, que também se encontra no site MigraMundo.

Exemplares do livro Grito A Poesia, de Moisés António, na casa do autor, em Curitiba. (Foto: arquivo pessoal)

Quais as principais dificuldades que encontrou até aqui, no processo de elaboração desse livro?

A principal dificuldade no processo de elaboração do livro foi o meio financeiro para bancar os serviços de diagramação, e toda elaboração no geral. Felizmente obtive apoio de duas anjinhas que conseguiram metade do valor através de uma vaquinha realizada por Cris Cachova Paiva, da Pastoral do Imigrante (idealizadora) e Giulia Poncio (promotora), tendo arrecadado 1000 reais junto a pessoas conhecidas e outras anônimas, das quais sou muito grato e que o Universo abençoe cada uma delas e as pague em dobro. Obrigado Cris e Giulia por esse grande desempenho e dedicação feita, que hoje veio dar a existência dessa minha que é também vossa obra, e eu serei eternamente grato! No geral, com a Editora saiu tudo em conformes, com profissionalismo, dedicação incomensurável. Amo o trabalho da Travassos Editora pela sua excelência!

Como Migrante, o que significa ser reconhecido como autor de uma obra literária?

É um enorme privilégio chegar até esse patamar, principalmente quando é algo que na sua terra de origem não deram o mínimo valor. É um mérito que as palavras por si só não conseguiriam descrever na sua íntegra, e por isso sou grato a Deus! Embora haja dificuldades para que a obra bata um recorde enorme de leitores e vendas, quando não somos ainda bem conhecidos, mas isso é um degrau que vamos alcançado de cada vez com o decorrer dos tempos. O importante é não desanimar e nem perder o foco.

Você conhece outros autores migrantes aqui no Brasil? Se sim, há algum contato com eles?

Conheço poucos autores migrantes aqui no Brasil. Mas dentre eles que ainda mantenho um elo de amizade e irmandade, é o poeta e jornalista argentino Álvaro Maximiliano Pino Coviello, que conheci no ano 2017 em um curso de capacitação para professores migrantes de línguas estrangeiras, oferecido pela UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) administrada pela professora Samira e tantas outras docentes. Álvaro sempre mantém esse elo amigável comigo tanto na escrita como na vida, pelo que me enxergou sempre como uma referência de resiliência, força e coragem, que mesmo sendo negro africano, nunca me viu baixando a cabeça, e corri sempre atrás dos meus sonhos e enfrentando meus desafios. E por isso e outros fatores, já servi como uma figura, símbolo ou peça fundamental em alguns de seus trabalhos de pesquisas e citações em um de seus poemas que fala sobre a pluralidade e diversidade na raça humana em língua espanhola.

Com o livro finalmente lançado, quais os próximos planos para sua carreira?

Com esse livro já lançado, espero de alguma forma que alcance um vasto número de leitores e que ele, não só se expanda aqui no Brasil, como também atravessa oceanos, de modos que as pessoas conheçam essa obra que fiz com muito amor, dedicação pensando no ser humano como humano, para que através da minha escrita, as pessoas reflitam, transformem-se de pessoas ruins para boas, de boas para melhores, e que o livro se conheça mundialmente. Consequentemente, tenho outros livros que estou escrevendo, mas dentre os livros poéticos esse é o mais importante! Posteriormente se Deus quiser pretendo traduzir esse e o Romance Clarice para a Língua Inglesa, e publicá-los em outros países como Inglaterra, Canadá e os EUA.

Serviço

Lançamento do livro Grito A Poesia, de Moisés António
Data e hora: Domingo, 24.out.2021, das 10h às 13h
Local: Casa do Contador de Histórias
Endereço: Rua Trajano Reis, 325, Curitiba (PR)
OBS: obrigatório o uso de máscara


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