Da política à opinião pública: o debate sobre migrações contemporâneas tem servido de pretexto para disseminação de fake news e mitos estereotipados. Foi pensando nessa situação que a Casa do Brasil de Lisboa (CBL), em Portugal, criou o projeto #MigraMyths — Desmistificando a Imigração.
Por meio de fatos e dados concretos, o objetivo da iniciativa é simples e direto: desmentir informações falsas que alimentem a rejeição a imigrantes no país.
Através de uma campanha em redes sociais, dados e informações oficiais são divulgadas como resposta ao racismo e à xenofobia.
Fomentado pelo crescimento nas sondagens de intenção de voto ao partido Chega, de extrema-direita e com discurso nacionalista, Portugal passa por um momento importante de debate sobre racismo e xenofobia.
Recentemente, Portugal prorrogou até meados de 2021 a regularização de todos os migrantes com processos correndo no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) desde antes de 18 de março. Foi nesse dia em que o governo local declarou estado de emergência por conta da pandemia do coronavírus.
Portugal e seus imigrantes
A imagem de invasores e aproveitadores de benefício social é a mais frequente entre aqueles contrários à migração em Portugal, embora os não nacionais representem apenas 5% do total dos residentes. Além disso, ao contrário do que muitos pensam, os migrantes contribuem com a Segurança Social portuguesa.
Segundo dados do Observatório das Migrações, em 2018, por exemplo, houve um saldo positivo de 651 milhões de euros entre as contribuições dos imigrantes para os cofres do Estado português.
Questões políticas, sociais e históricas fazem com que brasileiros e brasileiras enfrentem estereótipos específicos. A comunidade brasileira é a maior entre as de imigrantes em Portugal, estimada pela Casa do Brasil de Lisboa em pelo menos 378 mil pessoas.
“No caso das mulheres brasileiras, por exemplo, existe um estereótipo atribuído ao corpo e à sexualidade brasileira, que as submetem a diversas formas de xenofobia, discriminação, assédio e preconceito (…) Quanto aos homens brasileiros são [vistos como] malandros e não gostam de trabalhar” comentou Ana Paula Costa, que faz parte da direção da Casa do Brasil de Lisboa e é uma das responsáveis pelo projeto.
Segundo Costa, dados em diagnóstico inicial realizado para o projeto mostraram que tal imagem se mostra ainda muito presente no imaginário português.
Além disso, o relatório da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) indicou que a comunidade brasileira foi a terceira que mais apresentou queixas de discriminação com base em nacionalidade em 2019.
O projeto
Financiado pelo Programa de Apoio ao Associativismo Imigrante (PAAI), gerido pelo Alto Comissariado, o #MigraMyths – Desmistificando a Imigração surge da necessidade de descontruir os mitos, estereótipos e fake news relacionadas à imigração e as pessoas imigrantes em Portugal.
O projeto é dirigido a imigrantes de todas as nacionalidades, pois enfrentam preconceitos semelhantes e são alvos de estereótipos pejorativos.
“A xenofobia é um problema social que afeta todos(as) os(as) imigrantes e isto também está relacionado aos estereótipos sobre a imigração e os imigrantes em Portugal”, pontuou Costa.
Há 4 anos no país europeu, a doutoranda em Ciência Política na Universidade Nova de Lisboa descreve sua experiência enquanto imigrante como boa. “Sempre existem desafios, principalmente pelo fato de ser uma mulher brasileira e negra. Mas o meu processo migratório tem sido muito positivo”, concluiu Costa.
O projeto consiste em uma campanha de sensibilização e de disseminação de informações que contradigam mitos e fake News. Para isso, a hashtag #MigraMyths vem sendo usada em redes sociais para compartilhar conteúdo em três principais vertentes:
- informações sobre mitos e realidades sobre a imigração através de dados e fontes oficiais.
- informações positivas sobre a imigração, demonstrando a contribuição dos(as) imigrantes para Portugal
- valorização de histórias de vida de pessoas imigrantes.
Próximos passos
Para além dessa mobilização virtual, está prevista até outubro, a CBL dará início a uma segunda etapa do projeto, por meio de um ciclo de tertúlias chamado de Contra Atos Não Há Argumentos.
Nas reuniões, que poderão acontecer de maneira presencial ou online dependendo da situação da pandemia de Covid-19, serão debatidos temas relacionados ao objetivo do projeto e um seminário final para divulgação dos resultados.
“Nos debates vamos discutir fake news, mitos, estereótipos e os preconceitos na imigração aqui em Portugal e vamos trazer alguns convidados e convidadas para falar”, concluiu Costa.
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