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quinta-feira, abril 18, 2024

Campeã mundial e na Europa, seleção francesa de futebol é movida por migrantes e descendentes

Recentemente campeã da Liga das Nações com uma equipe multicultural, a França tem uma longa relação com atletas de origem migrante

Lloris; Koundé, Varane (depois Upamecano) e Kimpembe; Pavard (depois Dubois), Tchouaméni, Pogba e Theo Hernandez; Griezmann (depois Veretout); Mbappe e Benzema. Essa foi a escalação da França na final da Liga das Nações, no último dia 10 de novembro. Na partida decisiva do novo torneio europeu, os franceses bateram a Espanha de virada por 2 a 1. Mas esse texto não irá fazer uma análise tática da final e sim comentar sobre as características migratórias do selecionado francês.

Com exceção de Pavard, Dubois e Veretout, todos os demais jogadores têm alguma origem migratória em seu DNA. Lloris tem descendência espanhola e catalã, Koundé beninense, Varane martinica, Upamecano bissau-guineense, Kimpembe congolesa e haitiana, Tchouaméni camaronesa, Pogba guineense, Hernandez espanhola, Griezmann portuguesa e alemã, Mbappé camaronesa e argelina, e Benzema argelina. Isso sem falar nos reservas e em jogadores como N’Golo Kanté, Kingsley Coman e Marcus Thuram não estiveram nessa convocação por motivos de lesão ou opção técnica. Esse perfil multiétnico da seleção francesa é algo que existe há décadas, mas que vem ganhando atenção recentemente.

Pelo menos desde a Copa do Mundo de 1998, quando foi campeã mundial pela primeira vez com a equipe que ganhou o apelido de BBB (Black, Blanc e Beur – preto, branco e árabe em português), a França é sempre a equipe mais multicultural que disputa os Mundiais. O time “artificial” segundo as palavras do racista e xenofóbico líder da extrema-direita Jean Marie Le Pen, colecionou uma gangorra de emoções nestas últimas décadas.

Foi do céu em 1998 e 2000 com os títulos mundiais e europeu, ao inferno em 2010 com uma rebelião de atletas que culminou na expulsão de Nicolas Anelka da delegação e uma vexatória eliminação na fase de grupos do Mundial na África do Sul para voltar aos céus com o bicampeonato mundial na Rússia em 2018. Algo que os franceses já estão acostumados e que nas palavras do historiador Yvan Gaustaut a França é “o país que foi capaz de unir as diferenças de sua população através da vitória no futebol, mas também pode passar ao mundo a imagem que o radicalismo e xenofobia ainda estão presentes em sua sociedade”.

Mas essa relação de migrantes e descendentes com o futebol francês é algo muito mais antigo da geração de Zinedine Zidane. Na primeira Copa da história, no Uruguai em 1930, o capitão da seleção francesa era um pied-noire nascido na Argélia chamado Alexandre Villaplane. Nesta mesma década outros pioneiros abriram portas para outras minorias. O magrebino Abdelkader Ben Bouali, nascido na Argélia, foi o primeiro atleta de origem árabe a vestir a camisa dos Bleus e o franco-guianense Raoul Diagne Raoul Diagne o primeiro negro a atuar pela equipe.

E essa história continuou nos anos seguintes até chegarmos ao estágio atual. Grandes ídolos da história e do passado francês como Just Fontaine, Raymond Kopa, Marius Trésor, Jean Tigana e Michel Platini são migrantes ou descendentes que apenas reforçam essa longa relação de migração para a França que teve diversas ondas entre o fim do século 19 e os tempos atuais.

Segundo estatísticas mais recentes do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (INSEE), o IBGE da França responsável por colher dados econômicos e sociais, existem 6,2 milhões de migrantes vivendo no país e e pouco mais de 3 milhões descendentes nascidos em solo francês. Números que mostram como a sociedade francesa, embora ainda seja majoritariamente branca e cristã, concentra uma população multicultural principalmente nas grandes cidades.

O elenco campeão e multicultural da Liga das Nações de 2021 e bicampeão mundial em 2018 é um reflexo destes fluxos migratórios para a França no decorrer do século 20. Neste período chegaram ao país, migrantes vindos principalmente das antigas colônias do Império Francês na África, Ásia e Américas. E esses cidadãos estabeleceram-se em território francês e hoje seus filhos e netos, nascidos em solo europeu compõem não só o time de futebol, como a multicultural sociedade francesa.

E como o futebol é apenas mais um reflexo da sociedade não é nenhuma surpresa vermos cada vez mais uma seleção francesa multicultural e dando espaço aos migrantes e seus descendentes.

Para complementar a leitura, confira um artigo meu sobre a história de migrantes e descendentes na seleção francesa: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/fulia/article/view/14023.

Sobre o autor

Guilherme Freitas é jornalista, mestre em Estudos Culturais, doutorando em Mudança Social e Participação Política na USP e pesquisador sobre fluxos migratórios no esporte.


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