Mais da metade das mortes foram no Mediterrâneo, considerada a rota mais letal do planeta; reduzir tal cifra é um dos objetivos do Pacto Global para Migração
Por Rodrigo Veronezi
Em São Paulo (SP)
Pelo menos 30.510 pessoas morreram em migrações irregulares de 2014 a 2018, sendo mais da metade delas no mar Mediterrâneo. Os dados são do Missing Migrants Project (Projeto Migrantes Desaparecidos, em tradução livre), da OIM (Organização Internacional para as Migrações), divulgados na última sexta-feira (11).
Quase metade do total de fatalidades nesses cinco anos (pelo menos 14.795 homens, mulheres e crianças) foi registrada na rota do Mediterrâneo Central, entre o Norte da África e a Itália – quando somadas as outras duas rotas mediterrâneas, próximas à Grécia e Espanha, respectivamente, o número chega a 17.644. Os dados ratificam a alcunha do Mediterrâneo de “rota migratória mais mortífera do planeta“.
Os dados do Missing Migrants Project são compilados desde 2014 pela equipe da OIM baseada no Centro de Análise de Dados de Migração Global, mas as informações vêm de uma variedade fontes, algumas das quais não são oficiais. A organização crê que os dados reais podem ser ainda maiores, pela falta de fontes oficiais de informação sobre mortes durante migrações e à consequente falta de detalhes sobre a maioria dessas fatalidades durante movimentos migratórios.
Outras rotas mortíferas
A rota mediterrânea não é a única a fazer vítimas mundo afora. A África vem em segundo lugar na lista, com 6.629 óbitos – especialmente na região norte do continente, dominada pelo deserto do Saara. Em maio de 2017, o MigraMundo destacou o trabalho da ONG italiana Medici Per Diritto Umani, que elaborou um mapa interativo das principais rotas existentes entre cidades africanas e os portos no Mediterrâneo.
Na Ásia, onde os dados também são escassos, foram registradas as mortes de mais de 2,9 mil pessoas em fluxos migratórios irregulares, incluindo 2.191 no Sudeste Asiático e 531 no Oriente Médio. Em seguida aparecem as Américas – 2.959 indivíduos , sendo mais de 60% deles mortos na tentativa de atravessar a fronteira México-Estados Unidos.
“Embora muitos (analistas) se concentrem no Mediterrâneo, a verdade é que pessoas morrem em rotas migratórias em todo o mundo”, aponta
o diretor do Centro de Análise de Dados de Migração Global da OIM (GMDAC), Frank Laczko.
Ainda de acordo com o projeto da OIM, as principais causas de mortes
apontam para os meios de transportes perigosos e para as condições do meio ambiente que os migrantes encontram quando viajam irregularmente. Estão inclusas nesse grupo situações como mortes por afogamento, desidratação, exaustão, doenças adquiridas durante o trajeto, entre outras. Em certos casos é impossível identificar a causa da morte do migrante.
“A migração irregular coloca riscos significativos para os que realizam tais jornadas, e vias legais seguras são urgentemente necessárias para que menos pessoas recorram a essa opção (a migração irregular)”, afirmou Laczko.
O Missing Migrants Project iniciou suas atividades em 2014 – poucos meses antes, em outubro de 2013, um grande naufrágio matou 366 migrantes próximo à ilha italiana de Lampedusa.
A partir desse episódio foi lançado ainda o relatório Fatal Journeys (Jornadas Fatais, em tradução livre), também pela OIM, que destrincha as rotas migratórias mais letais. A edição mais recente desse material está disponível em inglês para download gratuito no site do Missing Migrants Project.
Pacto Global para a Migração
Buscar saídas para reduzir essas cifras é um dos objetivos do Pacto Global para a Migração, firmado em dezembro passado por 164 países durante encontro em Marrakech (Marrocos), no dia 10, e ratificado por 152 na Assembleia Geral da ONU, na semana seguinte. A partir de 23 recomendações feitas à comunidade internacional, sem caráter vinculante, propõe a promoção de uma “migração ordenada, regular e segura”.
O Brasil fez parte do clube de países que aderiram ao acordo nas duas oportunidades, mas o governo Bolsonaro – que assumiu em 1º de janeiro – anunciou no último dia 8 de janeiro a retirada do país do acordo.
Desde 2000, segundo as Nações Unidas, pelo menos 60 mil migrantes morreram na tentativa de entrar em outro país.