Por Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro*
O esporte é uma atividade social que tem um papel importante na integração do imigrante. No caso do Brasil, é comum vermos nos meios de comunicação que os jogadores de futebol que saem daqui procuram encontrar seus “eldorados” de trabalho, renda e pé-de-meia – que nem sempre conseguem, é claro. Assim, do ponto de vista do futebol, somos tentados a compreender que, em sendo os melhores, qualquer restrição feita a eles é desnecessária e de certa forma incompreensível, pois em sendo os melhores, é natural que os melhores jogadores de futebol possam exercer suas atividades profissionais.
Mas pensemos de forma oposta: será que somos flexíveis e tolerantes com os imigrantes que escolhem nosso País para exercerem suas atividades profissionais no esporte?
Ao longo de mais de 15 anos de publicação sobre a temática esporte e imigração na área acadêmica, venho escrevendo sobre o fluxo migratório de esportista que saindo daqui ou aqui chegando, encontram dificuldade para trabalhar no alto nível de rendimento esportivo.
Seja para atuarem por um clube, e de forma mais problemática, para atuarem em equipes nacionais, o que sabemos é que atletas carregam consigo a desconfiança, e o temor de que os que aqui chegam estarão, em pouco tempo, ocupando o espaço de atletas brasileiros.
Contraditório, não?
Esporte e nacionalismo
Há casos no atletismo, no vôlei e, claro, no futebol. No atletismo a presença de nossos irmãos africanos em corrida de rua no Brasil – sobretudo os quenianos –, é usada como motivo para os maus resultados de atletas nacionais, com o argumento que esses atrapalham a renovação de nossos atletas.
Outro caso é o do vôlei; como o exemplo de Yoandy Leal, atleta cubano que se naturalizou brasileiro, mas que sofreu resistência para integrar a seleção nacional desse esporte, com a justificativa que o voleibol brasileiro não precisava de um estrangeiro na seleção.
Há ainda do caso de Diego Costa que de forma contrária se naturalizou espanhol em 2014, e preferiu jogar pela seleção espanhola, mesmo que tivesse a opção de atuar há época pela equipe de Felipão.
Estes são apenas alguns exemplos que estudos sobre esporte e migração em que a complexidade do tema esbarra em discursos apaixonados, mas que quase sempre o guarda-chuva do nacionalismo esconde proteção de mercado, interesses comerciais e claro, direito à livre circulação de atletas.
Sobre o autor
Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro é docente do Mestrado Profissional em Gestão do Trabalho da Universidade Santa Úrsula/RJ e Coordenador do Curso de Bacharelado em Educação Física. Tem publicado dezenas de artigos acadêmicos sobre esporte com interfaces na migração, inclusão social e empreendedorismo
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