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segunda-feira, dezembro 23, 2024

Estudo global revela que 60% dos deslocados internos preferem não voltar aos locais de origem

Edição deste ano do relatório Progress, da OIM, aponta que, apesar dos deslocamentos serem muitas vezes tratados de forma uniforme, as preferências das populações afetadas variam amplamente, exigindo uma abordagem mais centrada nas pessoas

Por Dominique Maia

Embora haja uma ênfase no retorno às comunidades de origem quando se fala em deslocamentos forçados, um estudo recente traz uma perspectiva diferente: o da preferência dos deslocados internos por buscar integração ao local de destino depois de um certo período. É o que mostra a segunda edição do relatório “Periodic Global Report on the State of Solutions to Internal Displacement (Progress), elaborado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), em parceria com a Universidade de Georgetown.

Lançado no último dia 17 de dezembro de 2024, o documento apresenta uma análise abrangente das intenções e preferências de pessoas deslocadas internamente (PDIs) em busca de soluções duradouras para suas condições de deslocamento.

A Diretora Geral Adjunta de Operações da OIM, Ugochi Daniels, destacou que “parceiros humanitários e de desenvolvimento frequentemente lutam para identificar e medir soluções para deslocamento interno”. Embora a OIM tenha coletado dados sobre pessoas deslocadas internamente ao longo de duas décadas, ainda persistia a necessidade de uma base de evidências orientada a soluções práticas. Nesse cenário, o Progress é apresentado como uma iniciativa voltada para preencher essa lacuna.

Acesse o relatório Progress 2024 na íntegra

Novas descobertas do Progress 2024

De acordo com os dados do relatório, o contexto global de deslocamentos internos permanece desafiador, com um aumento significativo no número de pessoas nessa condição: de 71,1 milhões em 2022 para 75,9 milhões em 2023. O Progress 2024 aponta que, apesar dos deslocamentos serem muitas vezes tratados de forma uniforme, as preferências das populações afetadas variam amplamente, exigindo uma abordagem mais centrada nas pessoas. Além disso, os deslocamentos são impulsionados principalmente por conflitos, violência e desastres naturais.

Entre as principais descobertas do estudo, destaca-se que 60% dos deslocados internos preferem permanecer em seus locais de deslocamento, contrariando a tendência histórica de ênfase no retorno às comunidades de origem. Essa preferência reflete a busca por segurança, estabilidade e acesso a oportunidades de sustento, elementos frequentemente ausentes nas regiões de origem. A duração do deslocamento também influencia as soluções escolhidas: após cinco anos de deslocamento, a maioria das pessoas deslocadas por desastres opta pela integração local.

Outro dado relevante é que menos de 5% dos deslocados internos manifestam intenção de se reinstalar em outra localidade do país. Este achado sublinha a necessidade de políticas que reconheçam e priorizem soluções baseadas na integração local. O Progress 2024 também aponta para disparidades nas experiências de deslocamento, como o impacto das múltiplas deslocações enfrentadas por 40,8% dos entrevistados, fator que fragiliza a estabilidade alcançada.

A segurança é citada como o principal fator de influência nas decisões de solução, seguida pela disponibilidade de meios de subsistência e pelos laços sociais. Em muitos casos, a percepção de insegurança nas regiões de origem impede o retorno, enquanto a falta de oportunidades econômicas dificulta tanto a integração quanto o reassentamento. Esses dados reforçam a urgência de programas que combinem apoio à segurança, à subsistência e à participação comunitária.

Recomendações do Progress

O relatório também oferece recomendações para governos e parceiros humanitários, incluindo a necessidade de mudança para a integração local e o envolvimento ativo dos deslocados internos no planejamento de soluções. O documento sugere a formulação de políticas públicas mais adaptadas para melhoria dos resultados, considerando as causas do deslocamento e as vulnerabilidades associadas.

De acordo com a Dra. Elizabeth Ferris, diretora do Instituto para o Estudo da Migração Internacional da Escola de Serviço Exterior da Universidade de Georgetown, a colaboração com a OIM tem se mostrado uma oportunidade ímpar. A diretora declarou esperar que “essas descobertas ajudem as partes interessadas a entender melhor o que as pessoas deslocadas querem e as orientem em direção a soluções sustentáveis.”

Com base na análise do Progress 2024, espera-se que o futuro das soluções para deslocados internos seja moldado por abordagens mais personalizadas e informadas por dados. Ao colocar as pessoas deslocadas no centro do planejamento, o relatório abre caminho para um tratamento mais humano e eficaz desta questão global urgente.


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