O escritor tanzaniano Abdulzarak Gurnah, de 73 anos, se tornou na última quinta-feira o mais novo agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura. Na justificativa para o escolhido de 2021, o comitê da premiação citou a favor dele “a rigorosa e compassiva investigação sobre os efeitos do colonialismo e os destinos dos refugiados na lacuna entre culturas e continentes”.
O deslocamento é algo que está presente na vida do escritor desde cedo. Nascido em 1948 na ilha de Zanzibar, que pertence à Tanzânia, é de etnia árabe, minoritária no país.
Aos 18 anos, teve de fugir para o Reino Unido em razão de perseguições ao seu grupo étnico. Se tornou professor de Inglês e Literaturas Pós-Coloniais na Universidade de Kent, onde se aposentou há pouco tempo e continua residindo em solo britânico.
Imigrantes merecem compaixão
Além de abordar as migrações e suas questões de forma poética, o escritor também se posiciona a respeito das políticas empreendidas por países europeus acerca do tema. Em entrevista à agência Reuters após o anúncio do prêmio, Gurnah disse que a Europa deveria acolher os imigrantes com compaixão, ao invés de oferecer arame farpado. E chamou as política migratórias das principais potências europeias – como o Reino Unido – de mesquinhas.
“Parece uma tremenda surpresa para eles que pessoas vindas de lugares difíceis iriam querer vir a um país que é próspero. Por que estariam surpresos? Quem não iria querer vir a um país que é mais próspero? Existe uma espécie de mesquinharia nesta reação”.
O escritor prossegue, expressando espanto com a determinação e a coragem daqueles que viajam milhares de quilômetros para fugir dos próprios países, almejando uma vida nova. “Isto, de certa forma, é formulado como se fosse imoral, você sabe que eles usam a frase ‘imigrante econômico’, como se ser um imigrante econômico fosse algum tipo de crime. Por que não?”
Por fim, ele faz uma remissão a um passado não muito distante em dimensões históricas, no qual os europeus se espalharam pelo mundo. “Ao longo dos séculos, milhões de europeus deixaram suas casas precisamente por esta razão e invadiram o mundo precisamente por esta razão”.
Movimento e itinerância
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Elena Brugioni, professora do Departamento de Teoria Literária da Unicamp, vai um pouco além da definição apresentada pelo Nobel para a concessão do prêmio. “Mais que a migração, o fio condutor da obra de Gurnah é a ideia de viagem, de movimento, de itinerância”
O tanzaniano já lançou 10 romances – todos inéditos no Brasil – como Paradise (1994), que foi indicado ao Booker Prize e ao Whitebread Prize. Outros títulos conhecidos são By the sea (2001), Desertion (2015) e os mais recentes Gravel heart (2017) e Afterlives (2020), elogiados pela crítica.
Sobre o livro mais recente, Anders Olsson, membro da academia, explicou como em seu “magnífico último livro ele se afasta das descrições estereotipadas e abre nosso olhar a uma África culturalmente diversa, pouco conhecida em outras partes do mundo”.
Embora tenha o suaíli como língua materna, o novo Nobel publica suas obras em inglês e não tem nenhum livro publicado no Brasil.
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