Criado pela fotojornalista espanhola Griselda San Martín, o documentário mostra interações entre famílias separadas pela fronteira entre Tijuana (México) e San Diego (EUA)
Por Rodrigo Borges Delfim
Tradução para o português: Márcia Passoni
Fotos: Griselda San Martin
English version: click here
Sim, ao contrário do que Donald Trump diz, já existe um muro separando os Estados Unidos e o México. Ele cobre cerca de 1.000 km dos 3.200 km de fronteira entre os dois países e começou a ser erguido a partir do governo de Bill Clinton (1993-2000).
Além de já existir, há um trecho dessa barreira que é coberto por um parque binacional (o Friendship Park, ou Parque de la Amistad, em espanhol), onde pessoas dos dois lados podem interagir umas com as outras – apesar das severas restrições.
Mostrar a existência dessa barreira física – mas também psicológica e social – e conscientizar sobre seus efeitos é o objetivo do projeto The Wall, desenvolvido pela fotojornalista espanhola Griselda San Martín entre 2015 e 2016 na área do Friendship Park.
“Há pessoas neste país que ignoram o fato de que já existe um muro. Quero mostrar a elas como é este muro, e o seu significado para as pessoas afetadas por ele”, afirma a fotojornalista.
Em entrevista exclusiva ao MigraMundo, Griselda conta sobre o desenvolvimento do projeto e mostra que Trump, na verdade, já conseguiu construir um tipo de muro, que divide a sociedade dos EUA. E as fotos abaixo trazem um pouco das histórias afetadas pela barreira já existente.
MigraMundo: Como você começou a trabalhar com o tema das migrações?
Griselda San Martín: Foi na Faculdade de Jornalismo (2011-2013) que eu comecei a me aprofundar nos assuntos que iriam despertar meu interesse na questão migratória. Focando nos assuntos de identidade cultural e minorias étnicas, eu me familiarizei com as consequências trazidas pelas políticas migratórias durante minha primeira viagem de pesquisas para a região da fronteira entre Tijuana e San Diego, em 2013.
Quanto tempo você levou para desenvolver o projeto “The Wall”?
Após concluir a graduação no Internacional Center of Photography em Nova York em 2015, eu voltei para a fronteira e passei um ano trabalhando em um documentário social, procurando histórias de deportação, separação, deslocamentos e violação de direitos humanos. The Wall é um dos projetos de longo prazo que eu desenvolvi de setembro de 2015 até agosto de 2016.
Você teve algum tipo de patrocinador para criar o projeto?
Não, foi um projeto autofinanciado.
Qual a sua opinião sobre o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump?
O novo clima político dos Estados Unidos é preocupante. O presidente Donald Trump tem dado sinais claros de que planeja realmente fazer o que prometeu durante sua campanha. Durante sua primeira semana como presidente, ele assinou várias ordens executivas que devem afetar muito a alguns grupos minoritários. Em relação à questão migratória, ele quer deportar milhões de imigrantes indocumentados, renegociar o NAFTA (Sigla em inglês para: Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), banir refugiados de certos países, e construir um muro ao longo da fronteira do Sul, fazendo com que o México pague por isso. Algumas dessas coisas não são novidades. Obama deportou 2,5 milhões de imigrantes e já existe um muro que ocupa um terço da fronteira entre os Estados Unidos e o México. Ele poderia, ou agora pode construir ou aumentar este muro, mas ele já construiu um muro que divide o povo dos Estados Unidos. E ele parece se importar apenas com aqueles que votaram nele. De alguma forma, é evidente que a imigração está sendo erroneamente culpada pelos problemas econômicos deste país. E algumas minorias sentirão as consequências dessa percepção.
Que tipos de dificuldades você encontrou durante o projeto?
O Friendship Park, que é a parte da fronteira com muro que eu fotografei e onde as famílias se encontram, fica aberto somente aos sábados e domingos, por algumas poucas horas. Isso significa que eu contava apenas com essas poucas horas semanais para trabalhar no projeto, e precisava voltar lá por muitas vezes. Algumas vezes, as condições climáticas não eram favoráveis. Algumas vezes, as pessoas não queriam ser fotografadas (mas devo dizer aqui que na maior parte das vezes, estavam de acordo). No lado do muro que fica para o México, o parque é aberto. Mas no lado dos Estados Unidos, há uma segunda cerca e a área é controlada pela patrulha de fronteira. Eu não era autorizada a usar microfones no lado dos Estados Unidos e o período autorizado para fotografar e filmar era muito limitado. Eu precisava pedir permissão com antecedência.
Em sua opinião, que tipo de legado o projeto “The Wall” deve deixar?
Meu objetivo é mostrar as consequências das políticas migratórias para a humanidade. A separação de famílias. Há pessoas neste país que ignoram o fato de que já existe um muro. Quero mostrar a elas como é este muro, e o seu significado para as pessoas afetadas por ele.
Você tem planos para outro projeto relacionado à migração?
Sim. Já estou trabalhando em um projeto com imigrantes hispânicos, que vivem nos Estados Unidos, como suas vidas são agora, e de que forma serão afetados pelo novo governo.
Falando em migração, qual o significado dela para você?
Migração para mim é sacrifício. Pessoas que deixam tudo para trás em busca de um futuro melhor para elas e para seus filhos.
Sobre o projeto The Wall
“The Wall” é um documentário sobre famílias que se encontram dos dois lados da cerca na fronteira entre Tijuana e San Diego, no Friendship Park, em um momento de crescimento das tensões políticas xenofóbicas. O parque é o único lugar de encontro binacional ao longo das 2.000 milhas (cerca de 3.200 km) de fronteira que separam os Estados Unidos do México.
Quando o parque foi inaugurado, em 1971, a cerca se constituía apenas de fios de arame farpado. Hoje, um muro de metal maciço, que já foi reforçado por diversas vezes, separa os dois países. Ele se estende até a praia, alongando-se por quase 100 metros em direção ao Oceano Pacífico. O acesso para tocar o muro no lado dos Estados Unidos é limitado a uma pequena área, e famílias se apoiam na cerca, na tentativa de ver seus entes queridos através da malha de aço, que é tecida tão firmemente que eles mal podem tocar as pontas dos dedos. Em uma pequena área do parque, o espaço entre as barras de metal permitiria às famílias até mesmo se abraçarem, mas a Patrulha da Fronteira no lado dos Estados Unidos está sempre vigilante e os visitantes tem que ficar alguns passos longe da cerca, e qualquer contato físico é estritamente proibido.
Além de servir como um local de encontro para as famílias, e por causa do significado histórico e da localização estratégica do parque, eventos sociais como casamentos e sweet sixteens (o equivalente à festa de quinze anos no Brasil), assim como encontros binacionais, são mantidos periodicamente para demonstrar e aumentar a conscientização para causas sociais.
“The Wall” analisa essas interações através da fronteira em um momento de crescimento do clima político xenofóbico, onde práticas de controle de fronteira estão remodelando espaços públicos, sob uma lógica de detenção e contenção. O grande e “belo” muro que alguns políticos prometeram construir, na verdade já existe. Mas apesar da cerca de metal maciço e da supervisão militarizada, para o amor não há fronteiras.
[…] anunciou que pretende seguir com seu plano de construir um muro ainda mais extenso do qual já existe para isolar completamente a fronteira entre Estados Unidos e […]
[…] anunciou que pretende seguir com seu plano de construir um muro ainda mais extenso do qual já existe para isolar completamente a fronteira entre Estados Unidos e […]
[…] Griselda San Martin, sobre o projeto The Wall, que fez no Friendship Park, na fronteira entre México e EUA – leia mais […]
Na fronteira com o México um ambiente de apartheid. Na outra fronteira ao norte o trigo binacional americano canadense revela união de forças.
[…] e centro-americanos pressionam sobre a fronteira entre Guatemala e México ou sobre a fronteira México e Estados Unidos, tentando alcançar o Eldorado norte-americano. E ainda quando os venezuelanos, cada vez em maior […]