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sexta-feira, abril 19, 2024

Na França, enfermeira sérvia pede à primeira-dama regularização para trabalhar contra Covid-19

Há quatro anos residente na França e sem documentos após seguidas negativas aos pedidos de asilo, Esma Mahdi quer contribuir com o esforço de combate ao coronavírus

Em Estrasburgo (França)

A enfermeira Esma Mahdi, 35 anos, sérvia residente na França há quatro anos, porém sem regularização, resolveu escrever um e-mail à esposa do presidente da República francesa, Brigitte Macron no último dia 7 de abril.

O motivo? Pedir autorização da primeira dama para trabalhar na luta contra a pandemia de coronavírus (Covid- 19). O MigraMundo conversou com Esma por telefone.

Com 128 mil casos confirmados e 24 mil mortos, além de hospitais em saturação, a França vive hoje o que o marido de Brigitte, o chefe do Estado francês Emmanuel Macron, chamou de “guerra sanitária.”

A região do Grand-Est, onde está Estrasburgo, foi a segunda mais impactada pela epidemia — depois da região Ile de France, onde fica a capital, Paris. Os hospitais ficaram quase lotados, e dezenas de pacientes tiveram que ser transportados de trem para a Alemanha.

‘Quero ajudar o país que me ajudou’

Inquieta com a situação e com experiência na área de saúde, Esma decidiu procurar trabalho como enfermeira para ajudar na luta contra o vírus.

“Eu tenho dez anos de experiência como enfermeira e como fisioterapeuta, eu posso ajudar e eu gostaria de ajudar esse país que tanto me ajudou”, afirmou ela, que contatou dois dos principais hospitais de Estrasburgo e uma casa de repouso.

Todos lhe perguntaram se ela poderia começar no dia seguinte a trabalhar. Porém, ao saberem que ela não tem documentos, não deram mais retorno.

“Eu vi no Facebook que todos que quisessem entrar em contato com a Presidência, com Brigitte Macron ou com Emmanuel Macron, poderiam escrever uma mensagem”, conta ela. “Eu decidi escrever para Brigitte, pedindo que ela me autorizasse a trabalhar nessa epidemia.”

No site do Palácio do Eliseu, um formulário é disponibilizado online para aqueles que queiram entrar em contato com a primeira dama ou com o presidente. Ao informar seus dados pessoais e motivo do contato, a pessoa recebe uma mensagem automática confirmando o recebimento.

Em mensagem enviada pelo site do Palacio do Eliseu enfermeira conta à primeira-dama que dois hospitais a aceitaram, mas que devido à falta de documentos, ela não pode começar a trabalhar. (Foto: Esma Mahdi/Arquivo Pessoal)

Esma mostrou ao MigraMundo a resposta que obteve: “Você entrou em contato com a presidência da República, por favor clique no link para confirmar a sua mensagem. Nós entraremos em contato no melhor prazo”, afirma a mensagem recebida no último dia 9 de abril, antes da Páscoa.

“Eu não tive mais nenhuma resposta até agora, talvez seja por causa da Páscoa”, afirma Esma.

Veja abaixo a tradução livre para o português da mensagem enviada à primeira-dama francesa:

Bom dia, senhora Brigitte Macron, eu lhe escrevo porque eu gostaria de trabalhar na minha profissão como enfermeira, mas eu não posso porque desde que eu cheguei à Estrasburgo, há mais de quatro anos,  eu vivo com a minha família sem ter uma situação estável: eu espero até hoje a regularização no trinbunal. Eu tenho um diploma universitário de enfermeira, mas é um diploma sérvio. Atualmente, eu trabalho como voluntária na escola de meu filho.

Com muito respeito pela senhora, espero que a senhora possa me dar um retorno positivo.

Quatro anos de respostas negativas

Após ter saído da Sérvia por conta da discriminação sofrida por seu filho, que nasceu com problema motor, ela o filho e o marido vieram para a França, onde pediram asilo.

O pedido, no entanto, foi negado. Esma então pediu um título de residência por motivo de saúde, alegando que o seu filho, com então quatro anos, precisava de tratamento que não existia no país natal.

Na época, o filho já tinha sido operado da mão duas vezes na França. Esse pedido também foi negado.

Atualmente, ela e a família, após viveram por quatro meses em um quarto em um hotel, estão alojados em uma residência social por uma associação que acompanha migrantes na cidade de Estrasburgo. A família entrou com um pedido para serem regularizados no tribunal de Nancy (cidade próxima à Estrasburgo).

Mobilização política

Esma não é a única imigrante indocumentada com desejo de ajudar a França, apesar das negativas quanto aos pedidos de asilo.

Também no último dia 9, um grupo de 117 parlamentares da Assembleia Nacional (o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil), pediu por carta ao primeiro-ministro, Edouard Phillipe, a regularização de todos os imigrantes indocumentados em solo francês.

Na carta, os deputados e deputadas (leia aqui na íntegra, em francês) citam o exemplo de Portugal, que regularizou os imigrantes com pedidos de residência pendentes como uma das formas de ajudar no combate à pandemia.

Os parlamentares defendem a ideia de que, uma vez regularizados, os migrantes estariam mais protegidos contra o vírus e teriam mais facilmente acesso à saúde e à moradia. Assim, não só eles, mas a população local como um todo também seria protegida.

Um dos signatários da carta, o deputado francês François-Michel Lambert, gravou um vídeo no Facebook no qual afirmou que “grande número de mensagens de pessoas angustiadas, em situação precária que tinham dificuldades durante a epidemia de coronavírus .”

O deputado diz que as mensagens também vêm de migrantes que querem servir “e ser úteis à França nesse momento de epidemia.”

https://www.facebook.com/watch/?v=315319409435121

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