Peça baseada em obra de Zygmunt Bauman fica em cartaz até 3 de março em São Paulo e já levou o tema para centros culturais da periferia
Por Rodrigo Borges Delfim
Em São Paulo (SP)
A temática do refúgio e das migrações tem inspirado produções artísticas em diversos meios. E com o teatro não tem sido diferente – pelo contrário, tem procurado utilizar os mecanismos que dispõe para dar sua contribuição às reflexões e ações que a questão migratória pede atualmente.
A mais recente contribuição vinda dos palcos em São Paulo está na peça Nomes para Furacões, criada pelo Grupo Pandora de Teatro, atualmente em cartaz no Complexo Cultural Funarte, próximo ao metrô Santa Cecília (veja mais informações no serviço ao final do texto).
O espetáculo conta a história de Alice, que tenta salvar o pai e a si própria da destruição causada pela guerra em um país indeterminado. Ele propõe um olhar crítico sobre as raízes da crise humanitária que tem fomentado tantos deslocamentos, a brutalidade da guerra e o despotismo gerado por uma vida sem esperanças.
O título evoca a prática de nomear algo que esta além do que é entendido como humano, uma necessidade de humanizar algo que vai além da compreensão – como a crise humanitária expressada pela situação vivida por refugiados e demais migrantes forçados no mundo.
“Em um looping temporal é trabalhado no espetáculo as dificuldades e impossibilidade na busca por um refúgio”, comenta a equipe do Grupo Pandora, em entrevista conjunta ao MigraMundo.
Com texto e direção de Lucas Vitorino, “Nomes para Furacões” foi criada a partir do pensamento do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) na obra “Estranhos à nossa porta (2017)” e de amplo estudo do grupo sobre a temática dos deslocamentos humanos. Algumas dessas referências complementares são o dramaturgo romeno-francês Matei Visniec (narrativa onírica, surrealista e flertando com o teatro do absurdo), o universo de “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll e inspiração em filmes como “Nascidos para Matar”, “Apocalypse Now” e “Tangerines”.
O Pandora considera a peça como um divisor de águas sobre a consciência de cada um do grupo sobre o real significado da palavra “refúgio”. “Enquanto artistas nosso dever socialmente é refletir o nosso tempo e esse é nosso cenário atual. Quando falamos de crise humanitária, é preciso ter a sensibilidade de olhar para essa questão na sua totalidade, olhar para os conflitos, compreendê-los, olhar para os agravantes e, principalmente, para todas essas pessoas que em meio à guerra buscam firmemente por um novo começo”.
Da periferia para o centro
O espetáculo estreou em julho de 2017 na Ocupação Artística Canhoba, no bairro de Perus, onde fica a sede do grupo. De lá, circulou por outros centros culturais da periferia paulistana ao longo do último ano. Desde 12 de janeiro o espetáculo está no Complexo Cultural Funarte SP, onde vai estender sua temporada de 16 de fevereiro a 3 de março – sempre às sextas e sábados.
Segundo a Pandora, esse giro por outros centros culturais e a chegada ao centro de São Paulo foram possíveis a partir de parcerias com outros grupos teatrais e com a ocupação de equipamentos públicos.
“Tal estratégia busca se apartar do circuito comercial de teatro da cidade podendo, desta forma, amenizar os custos da produção (locação de espaço) para poder oferecer ingressos a preços populares e atingir um número cada vez maior de espectadores”, explica.
Outras produções
Além de “Nomes Para Furacões”, outras companhias teatrais em São Paulo trabalharam a temática das migrações a seu modo, recentemente.
Entre elas é possível destacar quatro, todas acompanhadas pelo MigraMundo: os espetáculos “São Paulo Refúgio” (Performatron, 2015/2016), “Cidade Vodu” (Teatro de Narradores, 2016), e as performance/intervenções “Refúgio – ou como fixar raízes no concreto” e “Tempo Suspenso“, ambas da Cia Artesãos do Corpo, entre 2015 e 2017.
Serviço
Nomes para Furacões
Produção: Grupo Pandora de Teatro
Datas e horários: sextas e sábados, às 20h30, até 03/03/2018
Local: Complexo Cultural Funarte – Sala Carlos Miranda
Endereço: Alameda Nothmann, 1058, Campos Elíseos, São Paulo (SP) – próximo à estação Santa Cecília do metrô
Entrada: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia) – pagamento somente em dinheiro
Duração: 90 min
Classificação indicativa: a partir de 12 anos
Lotação: 70 lugares – reservas podem ser feitas pelo e-mail [email protected]