Antipetismo se expandiu e polarização política levou mais brasileiros às urnas também fora do país, segundo pesquisador
Por Rodrigo Veronezi
Em São Paulo (SP)
Apesar das falas controversas de Jair Bolsonaro sobre imigrantes, o atual presidente do Brasil contou com apoio massivo dos brasileiros no exterior na eleição de 2018. Se dependesse apenas da votação desse grupo, o militar reformado do PSL ganharia com folga já no primeiro turno (61%), contra 18% de Fernando Haddad (PT) e 8% de Ciro Gomes (PDT).
De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), os eleitores mo exterior depositaram 403.932 votos válidos no primeiro turno da eleição de 2018, mais que o triplo do verificado em 2014 (132.624 votos).
No segundo turno, Bolsonaro manteve larga dianteira sobre o petista no exterior (71% a 29%), embora com um comparecimento às urnas bem menor se comparada ao turno anterior (um total de 212.046 votos).
Estimativas do Ministério das Relações Exteriores projetam que pelo menos 3 milhões de brasileiros residam fora do país – um número bem superior ao número indicado de imigrantes que vivem em solo brasileiro. O número considera tanto os que estão em situação regular como os indocumentados nos diferentes países.
Força do antipetismo
“O antipetismo, tanto no Brasil como aqui [no exterior], mobilizou a população”, aponta Alvaro Lima, diretor de Pesquisa da Prefeitura de Boston e estudioso da diáspora brasileira. A cada eleição presidencial, ele compila os dados do TSE sobre como votaram os brasileiros que vivem fora do país.
As informações estão disponíveis no portal Digaai, que busca documentar a produção cultural da diáspora brasileira e reforçar a identidade cultural do imigrante brasileiro. Lima é um dos fundadores e responsáveis por manter o portal e fez o mesmo estudo sobre o eleitorado brasileiro nas eleições de 2010 e 2014.
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Um ponto que chama a atenção do pesquisador é como a perda de apoio do PT também junto aos brasileiros que vivem fora do país vem se acentuando ao longo das últimas eleições.
“Quando comparamos com eleições passadas, há uma perda gradativa da influência do PT no exterior, em particular na Europa, África e Oriente Médio. Uma transição que vai da hegemonia com o Lula, perdendo um pouco de influência coma Dilma, dando lugar à hegemonia do PSDB que já tinha forte influência na América Latina, Ásia e Oceania, até desaguar na eleição de 2018 com o Bolsonaro ganhando as eleições em todos os continentes com margens imensas”.
Das capitais europeias que tiveram pontos de recepção de votos, Haddad venceu em Paris (França), Berlim (Alemanha) e Tallin (Estônia). Bolsonaro levou a melhor em quase todas as outras – exceção a Belgrado (Sérvia), onde o petista e o capitão reformado empataram.
Na região de Boston, onde vive Lima e na qual está a maior concentração de brasileiros vivendo nos Estados Unidos, Bolsonaro obteve mais de 80% dos votos. Outro cenário parecido é verificado junto aos brasileiros no Japão, onde Bolsonaro abocanhou 89% do eleitorado.
Ainda durante a pré-campanha presidencial, em fevereiro de 2018, Bolsonaro fez uma visita ao Japão, na qual foi recebido com entusiasmo pela comunidade imigrante brasileira – apoio que se fez presente nas urnas.
Além da polarização que marcou o debate eleitoral na corrida presidencial em 2018, Lima também vê no perfil do brasileiro que emigra um fator que explica a preferência por um candidato conservador como Bolsonaro – assim como a perda de influência do PT.
“Ela [a comunidade imigrante brasileira] é bastante conservadora no que diz respeito aos aspectos sociais. Tem um perfil de classe média e se assemelha a classe média brasileira nas suas posições econômicas e, claro, ela, na sua maioria vem do Sudeste brasileiro e se assemelha à politica desta região”.
Votação além da Presidência?
Importante lembrar que os brasileiros no exterior votam somente para presidente da República. Até existe uma proposta, feita em 2007 pelo então senador Cristovam Buarque (atualmente PPS-DF) que cria representação dos brasileiros emigrados no Congresso. O projeto, no entanto, requer uma emenda constitucional – para a qual é necessário o apoio de ao menos 308 dos 513 deputados federais brasileiros.
“Acho viável e necessária [essa representação do brasileiro no exterior no Congresso], mas necessita de uma grande mobilização da população brasileira no entendimento da importância do imigrante brasileiro para o próprio pais”, ressalta Lima.
O pesquisador, no entanto, descarta que tal mobilização possa surgir no cenário atual brasileiro. “Dada a recente visita do atual presidente [Bolsonaro] aos Estados Unidos e suas declarações, assim como as do seu filho [Eduardo Bolsonaro], os imigrantes são vistos como uma vergonha.”