Por Jorge Monteiro
Colaboração para o MigraMundo
A temporada 2011-12 da NBA, a liga de basquete dos EUA, foi um marco para Jeremy Lin. De uma mera terceira ou quarta opção se tornou a principal estrela do New York Knicks, franquia mais valiosa da liga (US$ 1,4 bilhões, segundo a Forbes), e recebeu elogios públicos de personalidades como Woody Allen, Spike Lee e até do presidente Barack Obama (que também adora jogar basquete).
Mas para sabermos qual impacto isso ocasionou para ele (que acaba de assinar contrato com o Los Angeles Lakers) e como suportou toda essa carga, é preciso conhecer a sua história – de superação, como a de muitos migrantes e descendentes, e que ainda recebe objeções devido à origem do jogador.
De Harvard para os Knicks
Jeremy Shu-How Lin nasceu em Palo Alto, Califórnia, em 23 de agosto de 1988. Seus pais são de Taiwan e a vida acadêmica foi conquistada com muito esforço: Lin se formou em Economia na conceituada Universidade de Harvard, mas que no basquete universitário é apenas secundária (ela cedeu para a NBA apenas 3 jogadores em toda a história, ao contrário dos 8 presidentes dos EUA que a instituição já formou).
De Harvard, tentou a sorte nas ligas de baixa qualidade do basquete americano até chegar à NBA em 2010 assinando um contrato com o Golden State Warriors. Ele atuou poucas vezes pelo time até que, no ano seguinte, aceitou um “singelo” salário de US$ 760 mil/ano para jogar no Knicks, onde a princípio também foi reserva. No entanto, em meio às lesões das estrelas do time (Amare Stoudemire e Carmelo Anthony) e séries de derrotas,
recebeu uma chance do técnico Mike D’antoni no quinteto titular no duelo contra o New Jersey Nets. E então veio a virada: nesse jogo, o armador fez 25 pontos e 7 assistências e levou o Knicks à vitória. Outras grandes partida se seguiram até que, na quarta delas como titular, veio à explosão mundial: 38 pontos e 7 assistências contra o poderoso Los Angeles Lakers, da estrela Kobe Bryant. Com isso nasceu o apelido “Linsanity” (Linsanidade, em tradução livre), que ilustrava o grande talento de Jeremy.
A sua vida mudou da noite para o dia: virou capa da revista Time, teve a sua camisa como a segunda mais vendida da NBA naquela temporada (só perdendo para Derrick Rose, do Chicago Bulls) e o seu salário anual foi aumentado em 12 vezes (para US$ 9 milhões/ano), mas começou a sofrer criticas quanto à sua capacidade técnica e também ocasionou um entrevero diplomático entre Taiwan e China.
Origem importa?
Até a década de 1960 a NBA era dominada por jogadores brancos – proporção que se inverteu com o tempo e, na atualidade, 80% dos atletas são negros (fonte livro Tabu, de John Entine). E Lin, como parte da minoria, teve de ouvir opiniões contrárias ao seu talento. Floyd Mayweather Jr, supercampeão do boxe mundial, causou polêmica com o seguinte comentário no Twitter. “Jeremy Lin é um bom jogador, mas toda essa campanha publicitária é porque ele é asiático, jogadores negros fazem o que ele faz toda a noite e não tem o mesmo reconhecimento”.
A maior emissora de esportes do mundo, a ESPN, publicou em sua versão online uma manchete nada espirituosa sobre Lin, intitulada “Chink in the armor” (chinês em armadura, tradução livre). O termo “chink” é considerado ofensivo para os chineses nos EUA. A emissora prontamente demitiu o autor da chamada.
China x Taiwan x EUA
Como já relatado, Lin tem a sua origem em Taiwan – e os embates com a China (que a considera uma província rebelde) são conhecidos em todo o mundo. O caso do jogador foi mais uma mostra dessa disputa: ambos os países reclamam sua origem, porque o bisavô de Lin era chinês de Zheijang. Mas com a dificuldade da política chinesa o mesmo se mudou para Taiwan, onde criou toda a família.
Outra dificuldade de relacionamento que a China possui com o jogador é a religião: Lin é cristão fervoroso (religião minoritária no país asiático) e já afirmou que depois que encerrar a carreira pretende se tornar pastor. Ele também já recusou convites para as seleções de Taiwan e China porque deseja integrar a seleção dos EUA.
Lin acabou de fechar contrato para jogar no Los Angeles Lakers por um ano pelo salário de US$ 15 milhões de dólares, depois de uma temporada mediana – com 12 pontos e 4 assistências de média por jogo. Mas a rica história do armador, admirador do churrasco brasileiro e de jogos de computador, ainda tem muitos capítulos a serem inscritos.
Provavelmente Lin terá de lidar com novas barreiras e objeções a serem superadas, tanto pela grande exposição que recebe como pela própria origem. Ele, no entanto, já é mais um dos incontáveis exemplos de que talento e habilidades desconhecem fronteiras, origens ou classes sociais.