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sexta-feira, abril 19, 2024

Peça Boa Noite Boa Vista completa trilogia sobre migração com histórias de venezuelanos em Roraima

“Nós, os recém-chegados, representamos a força de viver de nossos antepassados, para agregar no solo onde chegamos, mas isso somente se mantivermos a nossa identidade”

Por Lívia Major

No palco, um ator. Nas mãos, um diário de bordo. Nas palavras, histórias de vida. E um convite ao público: embarcar em uma jornada pelas narrativas de refugiados que desembarcam no Brasil buscando nada além de sobrevivência. Esta é a proposta da peça “Boa Noite Boa Vista”, estrelada pelo ator e autor Eduardo Mossri e dirigida por Antonio Januzelli que estreia no Sesc Pompeia, em São Paulo, no dia 17 de janeiro.

O trabalho é uma continuidade de uma trilogia de solos teatrais que tratam de temas como a migração, a multiculturalidade e a valorização dos Direitos Humanos. A sequência é composta por Boa Noite Boa Vista e pelos bem-sucedidos monólogos “Ivan e os Cachorros” (2012), da inglesa Hattie Naylor, e “Cartas Libanesas” (2015), do paulista José Eduardo Vendramini, que foram apresentados em diversos festivais no Brasil e no exterior e concorreram a prêmios como Shell, APCA e Aplauso Brasil.

A dramaturgia surgiu da experiência vivida pelo próprio Mossri, que é neto de migrantes libaneses. “Eu tinha o desejo de pesquisar a minha ancestralidade, saber mais sobre meus antepassados, o motivo pelos quais meus avós vieram para o Brasil e, a partir desse resgate familiar, percebi características que se relacionavam não só com a minha aldeia, mas com os migrantes de uma forma geral”.

Experiência com venezuelanos em Roraima

Dos palcos, veio um convite para que Mossri atuasse na novela “Órfãos da Terra” (2019), da TV Globo, que abordava especificamente o refúgio. Inspirado a conhecer mais sobre o assunto, no ano seguinte o ator viajou para Roraima como voluntário do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados do Brasil e conheceu de perto a vida de refugiados, em sua maioria venezuelanos, que deixaram a terra-natal fugindo da grave crise socioeconômica e política enfrentada pelo país nos últimos anos.

“A experiência na fronteira foi bastante impactante porque tive contato com as pessoas no momento da chegada e pude conhecer seus medos, angústias, sonhos, desejos, buscas. Por isso, essa pesquisa continuada vem do desejo de sensibilizar o olhar dos nacionais para com os migrantes, tentando tirar qualquer tipo de preconceito que tão frequentemente é colocado sobre a palavra ‘refugiado’”, afirma o ator.

A partir das histórias colhidas, Mossri e Januzelli passaram três anos trabalhando no chamado “laboratório do ator”, uma técnica em que o profissional traz um tema de interesse e o roteiro é construído conjuntamente nos ensaios. Durante toda a viagem, Mossri manteve um diário de bordo que se tornou o fio condutor da narrativa.

“Eu registrava minhas sensações, minhas experiências e transformei essas histórias em contos criativos, dramáticos e poéticos. Ao mesmo tempo, apresento dados das Nações Unidas para contextualizar esse recorte vivenciado em Boa Vista. Um ponto muito forte, por exemplo, é pensar que mais da metade da população em situação de refúgio é composta por crianças”.

O monólogo também é uma celebração pelos 75 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que serão completados no final de 2023. Boa Noite Boa Vista fica em cartaz de 17 de janeiro a 17 de fevereiro, no Sesc Pompeia. As apresentações acontecem de terça a sexta, às 20h30 (em 25 de janeiro a sessão será às 17h30) e os ingressos custam entre R$ 9 e R$ 30.

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