Pontífice diz que a tarefa pode não ser fácil, mas que a Igreja não pode fugir da responsabilidade de compreender e colaborar com os migrantes
Por Rodrigo Borges Delfim
Em São Paulo (SP)
Em homilia focada no Dia do Migrante e do Refugiado, lembrado neste domingo (14) pela Igreja Católica, o papa Francisco procurou encorajar os fiéis a superarem o medo e o receio em relação ao outro e a se abrirem para conhecê-lo.
“O seu convite ‘Vinde ver!’ é hoje dirigido a todos nós, comunidades locais e recém-chegados. É um convite a superar os nossos medos para poder ir ao encontro do outro, para o acolher, conhecer e reconhecer. É um convite que oferece a oportunidade de se fazer próximo do outro para ver onde e como vive”, disse o Papa, aproveitando o Evangelho do dia, no qual Jesus convida os discípulos a ver onde vive.
Francisco ponderou que não é uma tarefa fácil fazer essa abertura em relação ao outro (no caso, o migrante, independente do motivo que o levou a se deslocar) e que as dúvidas e medos são normais para os seres humanos. No entanto, ressaltou que o problema é outro.
“O pecado é deixar que estes medos determinem as nossas respostas, condicionem as nossas escolhas, comprometam o respeito e a generosidade, alimentem o ódio e a recusa. O pecado é renunciar ao encontro com o outro, com o diverso, com o próximo, que de fato é uma ocasião privilegiada de encontro com o Senhor. ”
A missa deste domingo no Vaticano foi acompanhada por 9.000 fiéis de diferentes nacionalidades, incluindo migrantes e refugiados. A animação ficou por conta do coral Hope, da cidade italiana de Turim, e que na ocasião estava composto por diversos migrantes.
Lembrado desde 1913 pela Igreja Católica, o Dia do Migrante e do Refugiado tem um destaque maior sob o pontificado de Francisco, dada a importância que tem destinado aos migrantes desde que assumiu o trono de Pedro, em 2013.
Além dessa data, lembrada pela Igreja Católica sempre no mês de janeiro, a ONU lembra o Dia Internacional do Migrante em 18 de dezembro, e o Dia do Refugiado em 20 de junho.
Importância e desafios crescentes
Em mensagem elaborada especialmente para a edição 2018, divulgada ainda em agosto do ano passado, o papa disse que a Igreja Católica tem como responsabilidade tomar parte em relação à temática migratória e colaborar tanto na acolhida como na busca de respostas para garantir segurança e dignidade para os que se deslocam.
“Trata-se de uma grande responsabilidade que a Igreja deseja partilhar com todos os crentes e os homens e mulheres de boa vontade, que são chamados a dar resposta aos numerosos desafios colocados pelas migrações contemporâneas com generosidade, prontidão, sabedoria e clarividência, cada qual segundo as suas possibilidades”.
A mensagem completa pode ser lida aqui.
Para dividir essa tarefa com os demais fiéis, ainda em 2017 a Igreja Católica, por meio da Cáritas Internacional, lançou a campanha “Compartilhe a Viagem” (Share the Journey, em inglês). Nela, as pessoas são convidadas a compartilhar experiências com os migrantes, proporcionando uma viagem para os dois lados (em suma, se colocar no lugar e se aproximar do outro).
Oportunidades para realizar esse exercício não vão faltar. No último dia 11 de janeiro, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que o mundo deve se preparar para “movimentos migratórios maciços“.
“Urge que os Estados-membros determinem uma estratégia referente aos grandes deslocamentos de migrantes. Há sobreposições evidentes entre este desafio e os do pacto mundial sobre migração”. Ele, inclusive, já chefiou o ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados.
Enquanto o mundo não toma providências amplas, as mortes de migrantes prosseguem mundo afora. De acordo com o ACNUR, cerca de 160 morreram durante tentativa de chegar à Europa por meio da travessia do mar Mediterrâneo na última semana.
Com informações do Vatican News e ONU