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domingo, dezembro 22, 2024

Refugiados compartilham experiências em série de palestras em São Paulo

Atividade é inspirada na campanha Compartilhe a Viagem, lançada pela Caritas Internacional em 2017 e visa aproximar refugiados e solicitantes de refúgio do restante da sociedade

Por Amanda Louise
Em São Paulo (SP)

O que acontece no país para que as pessoas sejam obrigadas a se deslocar ou se refugiar em outras partes do mundo? No intuito de levar esse conhecimento à população e, por consequência, sensibilizá-las quanto aos refugiados e imigrantes, que o Centro de Referência para Refugiados da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo promove a “Jornadas Caritas: histórias em refúgio”, com série de palestras gratuitas realizadas por refugiados em diferentes Universidades da capital. A atividade acontece mensalmente, em seis encontros, no âmbito da campanha “Compartilhe a Viagem”, visando a aproximação de imigrantes e refugiados das comunidades locais.

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A atividade foi proposta para que os próprios refugiados contassem o porquê precisar sair do seu país. Em cada evento é apresentado uma história relacionada com os critérios que fundamentam a Lei do Refúgio:  perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas e grave ou generalizada violação de direitos humanos.

Faculdade de Direito da USP recebeu a segunda edição das Jornadas Caritas: histórias em refúgio.
Crédito: Antônia Souza

Cada mês, num ciclo de seis palestras, um refugiado é convidado a falar sobre o que acontece em sua terra natal e a experiência do deslocamento forçado. O primeiro encontro aconteceu dia 20 de junho na UNIFAI (Centro Universitário Assunção), com o depoimento de Prosper Dinganga, da República Democrática do Congo, no qual narrou sua trajetória com perseguições políticas.

A coordenadora do Centro de Referência para Refugiados, Maria Cristina Morelli, diz que o Jornadas Caritas é uma forma das pessoas conhecerem o que acontece nessas nações, diferente de ver fotos e fazer contextualizações sobre o que aconteceu no país. Além de esperar que se sensibilizem.

“Na perspectiva de que a gente abra os braços e receba os imigrantes, e que as pessoas, mais ainda, abram os braços. E aquelas que ainda não abriram, abram e recebam os imigrantes, especialmente no Brasil e em São Paulo”.

Maria Cristina enfatiza que o projeto tem os objetivos traçados pela campanha mundial da Caritas Internacional, Compartilhe a Viagem, onde a intenção é aumentar os espaços e as trocas de experiências.

Perseguição religiosa

Na noite de 15 de agosto foi a vez do auditório da Faculdade de Direito do Largo São Francisco receber o evento. O convidado da vez foi o iraquiano Jamal Jaber Mohammed.

Por meio de intérprete, o artista plástico falou aos presentes sobre a perseguição religiosa no Iraque, e do problema político-religioso que só agrava a situação das minorias no país. Minorias que, segundo Jamal, fazem parte da construção social do Iraque, mas que foram massacradas, obrigando-as a se deslocarem e migrar, desde o estabelecimento do governo iraquiano. Entre essas minorias, pontuou os cristãos, que foram – e ainda são – perseguidos e assassinados desde a formação do Iraque, numa campanha violenta para abraçar o Islamismo.

Sobre perseguição, disse que “é o uso de poder ou autoridade por parte de determinado grupo que busca se consolidar às custas do enfraquecimento e marginalização de outro grupo ou grupos. Ocorre discriminação entre eles, tendo como base planos traçados ou atos organizados. Organizados pelos país ou por organizações de grupos políticos ou milícias que têm apoio do governo. E é considerado um crime contra a humanidade na medida que ocorrem em tempos de paz”.

O artista plástico iraquiano Jamal Jaber Mohammed, convidado para fala sobre sua história durante o Jornadas Caritas.
Crédito: Antônia Souza

Questionado sobre os grupos de perseguição e se acredita na melhora da situação do Iraque, na questão das perseguições das minorias, enfatizou que o problema é estrutural, com conflitos até mesmo dentro do parlamento. E pelo interesse dos países vizinhos de que o Iraque seja enfraquecido, “e não só” pelas nações que fazem fronteira, na continuidade dos conflitos, não é esperançoso.

O próximo encontro acontece nesta quarta (12), às 19h, na Fecap (Fundação Álvares Penteado). Ele terá a participação do casal de venezuelanos Marifer Vargas e Carlos Escalona, que falarão das conexões de suas trajetórias com a situação da Venezuela – clique aqui para mais informações.

Um outro encontro já está agendado para o próximo dia 10 de outubro, no Tuca, o teatro da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Refugiados no Brasil

Até 2017, o Brasil já havia reconhecido um total de 10.145 refugiados. No entanto, no ano passado o país tinha de fato 5.134 pessoas vivendo como refugiados, de acordo com o Conare (Comitê Nacional para Refugiados), em Brasilia. O órgão, vinculado à SNJ (Secretaria Nacional de Justiça), do Ministério da Justiça, é o responsável por analisar os pedidos de refúgio feitos no país.

No entanto, de acordo com a SNJ, o Conare ainda possui uma fila de 86.007 solicitações em trâmite. Essa situação é creditada a limitações na estrutura do comitê, que tem apenas 13 profissionais dedicados diretamente à análise das solicitações.

Só em 2017, de acordo com o relatório, um total de 33.866 pessoas solicitaram o reconhecimento da condição de refugiado no Brasil. Os venezuelanos lideram a lista, com 17.865 pedidos; em seguida, aparecem Cuba (2.373), Haiti (2.362) e Angola (2.036).

Essa e outras informações estão disponíveis no relatório Refúgio em Números, divulgado em abril deste ano pelo Ministério da Justiça – acesse aqui.

Jornadas Caritas: histórias em refúgio (3ª edição)
Data e hora: 12 de setembro de 2018, a partir das 19h
Local: Auditório da Fundação Álvares Penteado (Fecap) – Campus Liberdade: Av. da Liberdade, 532, São Paulo – próximo à estação Liberdade do metrô
Palestrantes: Marifer Vargas e Carlos Escalona (Venezuela); Mediação: William T L da Rosa (advogado de Proteção da Caritas)
Entrada: gratuita
Mais informações: evento no Facebook

2 COMENTÁRIOS

  1. Os alunos e professores da EE.Dr.Benedito de Lima Tucunduva , em Carapicuiba, São Paulo estão trabalhando com o projeto de Mediação e Linguagem – Maria , no qual discute a valorização da mulher em sociedade a partir da leitura da obra Eu sou Malala, de Yousafzai Malala. Eu gostaria de fazer uma palestra com refugiados para que os alunos realmente se sensibilizem e conheçam as verdades,sofrimentos e preconceitos que essas pessoas passam em busca de seus objetivos. Por favor, como faço para participar de uma dessas palestras organizadas por vocês? Seria possível uma visita na escola? Qual a faixa etária das pessoas que assistem as palestras?.
    Desde já agradeço ,

    • Olá Marlene,
      O MigraMundo não faz essa mediação junto aos refugiados, é um site jornalístico sobre a temática migratória – dessa forma, acaba divulgando muitas das iniciativas promovidas por instituições que fazem essa mediação junto a migrantes e refugiados.
      Para buscar refugiados para palestras, sugerimos que você procure instituições como Missão Paz, BibliASPA, Cáritas, Abraço Cultural, Migraflix, Adus, entre outras, que realizam esse trabalho. Caso queria uma palestra do MigraMundo sobre o trabalho de comunicação feito em relação às migrações, por favor nos escreva para o e-mail [email protected]

      Saudações,
      Equipe MigraMundo

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