Trabalho do fotógrafo Chico Max fica em cartaz no Museu da Imigração, em São Paulo, até 31 de março
Por Rodrigo Veronezi
Em São Paulo (SP)
Em setembro de 2018 o fotógrafo Chico Max topou um novo desafio na carreira. Depois de retratar os imigrantes que passam pela Missão Paz e as mulheres migrantes que atuam no setor têxtil de São Paulo, ele partiu para as cidades de Boa Vista e Pacaraima, em Roraima, para registrar imagens de famílias venezuelanas que buscam retomar suas vidas no Brasil.
Assim nasceu a exposição “La Jornada – A resiliência do povo venezuelano em busca de refúgio no Brasil”, inaugurada no último dia 8 de fevereiro no Museu da Imigração, em São Paulo. Fruto de uma parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal de Roraima (UFRR) e o Ministério Público do Trabalho (MPT), ela fica em cartaz no Museu até 31 de março
A crise humanitária que atinge a Venezuela desde 2015 já levou à saída de ao menos 3 milhões de pessoas para outros países, segundo as Nações Unidas. O Brasil é o sétimo principal destino (cerca de 86 mil), depois de Colômbia, Peru, Equador, Argentina, Chile e Panamá.
Além das adversidades na terra natal, os venezuelanos lidam com desafios adicionais em solo brasileiro, que incluem o idioma (falam espanhol), preconceitos, dificuldades para acessar o mercado de trabalho e até a polarização política que envolve o governo venezuelano.
Nas 20 fotos que integram a exposição, Chico Max procurou trazer um olhar mais humano sobre esse que é o principal movimento migratório no país na atualidade. Os registros apresentam pessoas, profissão e sonhos, proporcionando uma reflexão sobre um fenômeno que é mais complexo e amplo na sociedade venezuelana do que se imagina em princípio – são populações indígenas, pedreiros, contadores, engenheiros e até um juiz federal que decidiram tentar a sorte no vizinho ao sul do país.
“Quando você está em campo não tem como não se emocionar com as histórias. A palavra resiliência não está à toa no título da exposição”, resume Chico.
A abertura da mostra fez parte do Programa de Seminário do Observatório das Migrações em São Paulo, que contou também com mesa redonda e lançamentos de livros sobre a migração venezuelana.
Outros trabalhos
A nova exposição representa ainda a continuidade de um trabalho iniciado em 2014, quando retratou imigrantes que recorrem à Missão Paz, em São Paulo, em busca de acolhida e orientação. Esse projeto deu origem à mostra Somos Todos (I)Migrantes, que estreou no Museu da Imagem e do Som (MIS) em novembro de 2015 e rodou por diferentes cidades brasileiras nos meses seguintes.
“Entrei nesse mundo da migração através dessa exposição [Somos Todos I(Migrantes)]. Dali vieram todas as outras”, afirma Chico.
O outro trabalho diretamente ligado à temática migratória desenvolvido por Chico foi a exposição Costurando Dignidade, na qual trouxe retratos de mulheres que já foram exploradas em oficinas de costura – a maioria delas, bolivianas. A mostra fez parte da programação do seminário
“Não Somos Escravos da Moda”, promovido pelo Ministério Público do Trabalho em São Paulo, em outubro passado.
Além dessas exposições, Chico foi o responsável por captar as imagens para a campanha Juntas Impactamos, que destaca a presença feminina em setores e movimentos da sociedade civil que atuam contra o trabalho escravo e na promoção de condições dignas de trabalho.