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terça-feira, abril 30, 2024

Sudão e Palestina enfrentam as maiores crises humanitárias da atualidade, aponta IRC

Oito das dez piores crises em curso estão no continente africano, de acordo com o Emergency Watchlist da IRC. Ao todo, o relatório analisa vinte países em crises humanitárias, que respondem por 75% dos indivíduos que estão sob deslocamento forçado no mundo

Um relatório recente da ONG Internacional Rescue Comitee (IRC) cita as crises humanitárias em curso no mundo com maior potencial de se agravarem, bem como suas repercussões e possíveis caminhos para enfrentamento. O deslocamento forçado interno ou para países vizinhos é um dos efeitos gerados por tais situações.

Nada menos que oito das dez crises humanitárias em curso que correm o risco de se agravarem ainda mais ocorrem em países do continente africano. O pódio dessa nada honrosa lista é ocupado por Sudão, Palestina e Sudão do Sul. Em seguida, aparecem Burkina Faso, Myanmar, Mali, Somália, Níger, Etiópia e Republica Democrática do Congo. O relatório completo pode ser acessado por meio deste link.

Ao todo, 20 países são listados no relatório, intitulado “Emergency Watchlist”. Mesmo considerando esse maior grupo, a África ainda responde por mais da metade deles (11 no total). Também são analisadas no documento as situações de República Centro-Africana, Afeganistão, Chade, Equador, Haiti, Iêmen, Líbano, Nigéria, Síria e Ucrânia.

O documento cita que atualmente há 299,4 milhões de pessoas que necessitam de ajuda humanitária no mundo, sendo que 86% delas (258 milhões) são justamente dos países listados pela IRC. Além disso, 75% dos indivíduos que estão sob deslocamento forçado no mundo são oriundos de um dos locais mencionados pela entidade.

Crises no Sudão e Palestina

O Sudão, que desde abril de 2023 vivencia um conflito armado interno, já liderava a lista na edição anterior. Ao longo do último ano, a situação se agravou a aponto do país se tornar recordista em deslocamento forçado interno no mundo. Segundo dados da ONU, são cerca de 9,05 milhões de pessoas nessa condição, representando cerca de 13% de todas as IDPs globalmente.

Os palestinos, por sua vez, vivem desde outubro passado na Faixa de Gaza uma situação de conflito derivada da resposta israelense aos ataques promovidos pelo grupo terrorista Hamas contra cidades no sul de Israel, no dia 7 daquele mês. A ação militar de Tel Aviv sobre o território já deslocou nada menos que 90% de uma população de 2,2 milhões de pessoas. A cidade de Rafah, localidade mais ao sul de Gaza, já concentra 1,5 milhão de pessoas e está sob ataques aéreos. Além disso, 28 mil pessoas (a maioria mulheres e crianças) já morreram desde o início dos combates, segundo informações de autoridades locais.

“É impossível discutir as necessidades humanitárias em todo o mundo hoje sem pensar no conflito em Gaza e Israel. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer dos desafios massivos, e crescentes, globalmente. É digno de nota que, ao contrário de qualquer ano anterior, 8 dos 10 principais países estão na África e que, pelo segundo ano consecutivo, um país africano – desta vez, o Sudão – lidera a lista. Esta lista descreve os fatores que impulsionam esses desafios, os mitos que distorcem a ação e as soluções tangíveis necessárias”, aponta trecho do relatório.

De olho na América Latina

A América Latina é citada no relatório a partir de Equador e Haiti. De acordo com a IRC, as crises enfrentadas por ambos devem impulsionar movimentos de migração forçada no continente americano neste ano.

O Equador vive um cenário de explosão da violência, fruto da disputa de poder entre grupos criminosos, que se soma à instabilidade política que já imperava no país. A IRC cita um aumento de 220% na taxa de homicídios no país entre 2020 e 2022, que ainda viu um incremento de 75% desse crime em 2023 na comparação com o ano anterior.

O Haiti, por sua vez, enfrenta uma crise generalizada e contínua. O país ainda vivencia efeitos dos terremotos de 2010 e 2021, está sem Parlamento ativo em razão da expiração dos mandatos dos que foram eleitos na última eleição (2016). E há uma crise de legitimidade em torno do atual presidente, Ariel Henry, que chegou ao cargo após o assassinato do então mandatário, Jovenel Moise, em 2021. Além disso, gangues controlam cerca de 80% da capital, Porto Príncipe, e disputam território entre si, espalhando terror e provocando deslcoamentos forçados da população.

“As crises no Haiti e no Equador estão criando um efeito dominó em toda a região. No entanto, à medida que os conflitos se intensificam ao redor do mundo, outras prioridades desviam a atenção. Entretanto, esses países não são os únicos lugares enfrentando riscos: muitas famílias em toda a América Latina e no Caribe enfrentam diariamente ameaças à sua segurança e lutam para suprir suas necessidades mais básicas”, analisa Julio Rank Wright, vice-presidente regional da IRC para a América Latina.

Citando dados do governo do Panamá, a IRC apontou que mais de 57 mil equatorianos e 46 mil haitianos atravessaram a perigosa região de selva de Darién, que separa a Colômbia e o Panamá.

Em ambos os casos, o deslocamento forçado dentro do país e a migração para o exterior são alternativas buscadas pelos cidadãos. Os Estados Unidos permanecem como destino mais buscado, mesmo com a dificuldade cada vez maior de se cruzar a fronteira com o México.

Mitos, fatos e propostas

O relatório da IRC traz uma sessão na qual contrapõe mitos em geral associados a questões humanitárias a fatos concretos.

“A comunidade internacional deve saber como responder efetivamente ao impacto humano das crises nos países da Emergency Watchlist até agora, mesmo que não possa resolver as causas fundamentais. No entanto, um conjunto de mitos se consolidou no discurso político e midiático sobre essas crises. Como resultado, os tomadores de decisão nesses órgãos estão recorrendo às soluções erradas”.

A partir dessa constatação, a entidade lista seis medidas a serem tomadas pela comunidade internacional como forma de responder às crises em curso e seus efeitos:

  • Salvar vidas por meio do investimento em ações de combate e de mitigação dos efeitos de ações climáticas;
  • Combater a pobreza extrema e os impulsionadores econômicos das crescentes necessidades humanitárias;
  • Priorizar a igualdade de gênero na resposta a crises e transferir poder e recursos para organizações lideradas por mulheres;
  • Promover a prosperidade compartilhada, aumentando a ajuda humanitária e lidando com a crise da dívida dessas nações;
  • Apoiar e proteger pessoas em deslocamento forçado;
  • Combater a impunidade e reforçar o Direito Internacional Humanitário

“A experiência do IRC demonstra que, com abordagens adequadas, podemos mudar a vida das comunidades mesmo nas crises mais complexas. Construir sobre esse sucesso requer aceitar que as instituições e ferramentas tradicionais projetadas para apoiar os mais pobres do mundo não acompanharam as mudanças descritas neste relatório”, completa o documento da entidade.

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