A Praça Cívica Ulisses Guimarães, no centro de São Paulo, foi o palco da terceira edição paulistana do Carnaval Andino Yunza, tradicional festa da comunidade peruana, no último sábado (05). Nela, foi possível conhecer manifestações culturais de todas as regiões peruanas (do litoral às áreas andinas), especialmente artesanato, dança, música e comidas típicas. E, claro, serviu como ponto de encontro não apenas dos peruanos residentes em São Paulo, mas de simpatizantes das demandas migrantes e de representantes de outras comunidades.
Tania Bernuy, diretora-executiva do Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC) e uma das organizadoras da Yunza, destacou a importância do evento como uma forma de o imigrante ser visto também na sua porção cultural. “Um dos eixos de atuação do CDHIC é de valorização das culturas dos imigrantes – não apenas como sujeitos de direitos sociais, mas também de direitos culturais. Isso é muito importante para a integração social dentro da cidade, que as pessoas não nos vejam apenas como trabalhadores, mas também como pessoas dotadas de cultura”.
A abertura da Yunza foi feita em quéchua e espanhol, dialogando com duas das línguas faladas pelos presentes ao evento. No restante do dia, uma série de apresentações musicais e de dança agitou o palco montado em frente ao Museu Catavento, antiga sede da Prefeitura de São Paulo, chamando o público a interagir.
O evento foi organizado pelo CDHIC e pela Associação Latino-Americana de Arte e Cultura Andina (ALAC), além de contar com o apoio do Consulado Geral do Peru em São Paulo e da Prefeitura da capital, por meio de duas secretarias – Coordenação de Políticas para Imigrantes da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania e de Coordenação das Subprefeituras.
A comunidade peruana aproveitou ainda para reivindicar o reconhecimento da Yunza como atividade do Calendário Oficial da Cidade – conquista obtida recentemente pela Alasitas, da comunidade boliviana, e que abre um precedente para lá de positivo para esta e outras festividades dos imigrantes na maior metrópole brasileira.
“O que a Prefeitura faz é nada mais que a sua obrigação de se abrir a cidade e apoiar todas as atividades para que haja uma integração fundamental que deve ser coroada, um dia, pelo direito ao voto imigrante. Não existe cidadania se o imigrante não tiver direito ao voto”, disse Rogério Sottili, secretário de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura.
Uma conquista pelo estômago
“Quero matar a saudade da comida peruana, principalmente de ceviche”, diz o estudante de análise de sistemas David Romero, 23, que mora no Brasil há seis anos e tinha acabado de chegar à festa. E a culinária de fato era uma atração à parte na Yunza.
Diversos restaurantes peruanos já estabelecidos em São Paulo montaram barracas no evento, trazendo pratos e guloseimas de todas as regiões do país vizinho. Entre eles está a pachamanca, tradicional receita do tempo do tempo do Império Inca que consiste em um cozido de diferentes tipos de carne e legumes. O mais curioso é que parte da preparação acontece em um buraco cavado na terra (o próprio nome, em quéchua, significa “pote de terra”). O método até pode causar certa desconfiança a princípio, mas que termina imediatamente após experimentar o prato – simplesmente delicioso.
Rocio Kitsutani, que mora há 16 anos no Brasil, conta que o público brasileiro aprecia a culinária peruana e destaca tal reconhecimento em uma cidade que é referência internacional em gastronomia. “A recepção do público brasileiro é muito boa, as pessoas querem experimentar e gostam. E São Paulo, que é uma das grandes cidades gastronômicas do mundo, está muito na atualidade nesse quesito e sabe que a culinária peruana está inovando e se redescobrindo”.
Com colaboração de Stephane Sena
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