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sexta-feira, novembro 22, 2024

Após apelo internacional, jogador de futebol refugiado é libertado na Tailândia

Barenita retornou à Austrália, onde vive como refugiado

Por Mathias Boni
Em Porto Alegre (RS)

O barenita Hakeem Al-Araibi, jogador de futebol com status de refugiado que estava preso na Tailândia, com riscos de ser extraditado de volta ao seu país de origem, foi libertado pelo governo local e já retornou à Austrália.

Sua soltura se deu após o Bahrein, seu país natal, retirar seu pedido de extradição, após uma grande mobilização internacional em torno da libertação, que incluiu a hashtag #FreeHakeem nas redes sociais. Ao total, Al-Araibi passou 77 dias preso na Tailândia, após uma viagem para passar a lua de mel no país com sua esposa.

Al Araibi e seu irmão, que está preso no Bahrein, chegaram a participar de protestos contra o governo do país em 2011, na esteira das mobilizações da chamada Primavera Árabe. Eles creditam a esse fato a perseguição que passaram a sofrer desde então. Condenado à revelia em 2014 por ter vandalizado uma delegacia de polícia durante protesto, o jogador – que nega a acusação – resolveu sair do país e pedir proteção internacional, concedida pela Austrália.

Campanha internacional

O caso de Hakeem Al-Araibi teve essa repentina reviravolta em razão da grande mobilização internacional que gerou, inclusive com o lançamento de uma campanha internacional exigindo sua soltura.

A campanha envolveu a Fifa, federação que gerencia o futebol em nível mundial, o COI (Comitê Olímpico Internacional), e representantes de 14 países, bem como da União Europeia, sendo liderada pelo antigo capitão da seleção australiana de futebol, Craig Foster, e Allan McKinnon, embaixador australiano.

Foster chegou a sugerir que a Tailândia e o Bahrein fossem expulsos das competições esportivas internacionais por conta da detenção do jogador.

Até membros do time de futebol infantil tailandês Javalis Selvagens, que ficaram presos em uma caverna no país no ano passado, pediram publicamente a soltura do jogador.

No âmbito institucional, os esforços pela soltura do refugiado bareinita ficaram a cargo do Primeiro Ministro australiano, Scott Morrison, e da Ministra de Relações Exteriores do país, Marise Payne. A Austrália estava extremamente incomodada com a detenção de Al-Araibi, pois o jogador de futebol era um refugiado oficialmente reconhecido pelo país da Oceania, tendo inclusive recebido anuência das autoridades migratórias locais para sua viagem à Tailândia.

Por esta razão, a detenção de Al-Araibi no país do sudeste asiático, da perspectiva da Austrália, denotava um certo desprestígio da força política internacional do país, que envolveu suas maiores autoridades nacionais para resolver esta questão o mais rápido possível.

Na última quarta-feira (6), o Governo Federal tailandês havia se manifestado através de uma declaração oficial do Ministro de Relações Exteriores do país, Don Pramudwinai. O Ministro afirmara que seu país esperava que Austrália e Bahrein tivessem a boa vontade de trabalhar juntos, para encontrar uma solução satisfatória a todos os lados envolvidos na questão.

Na ocasião, ele afirmou que “a Tailândia não ganha nada mantendo o Sr. Hakeem em custódia, mas o país se encontra no meio desse caso. Como um país soberano, que tem suas obrigações e compromissos legais com a comunidade internacional, não temos outra opção a não ser cooperar de acordo com a lei e sugerir que os dois países, ambos bons amigos entre si e da Tailândia, possam conversar e achar uma solução apropriada”.

O crescimento da mobilização internacional ao longo da semana passada fez com que o Ministro das Relações Exteriores tailandês fizesse uma visita ao Príncipe do Bahrein, Salman bin Hamad Al Khalifa, no domingo passado. Oficialmente, o Ministro da Tailândia afirmou que os motivos da viagem foram “a discussão da relação bilateral entre Bahrein e Tailândia em áreas de interesse mútuo”. No dia seguinte, no entanto, o Bahrein retirou o pedido de extradição, e Hakeem Al-Araibi foi finalmente libertado pelo governo tailandês. O irmão de Hakeem Al-Araibi, porém, continua preso no Bahrein, perseguido por sua posição política contrária ao domínio da família real barenita no país.

Apesar do engajamento pela libertação de Al -Araibi, o governo australiano mantém uma politica restritiva e polêmica em relação aos refugiados. O país mantém centros de detenção de migrantes em locais como a ilha Natal (que pertence à Austrália) e em outros países da Oceania, como Manus (pertencente à Papua-Nova Guiné) e Nauru.

Centro de detenção em Nauru, utilizado para refugiados que tentaram entrar na Austrália. Crédito: N. Wright/ACNUDH

A Austrália também é um dos países que abandonaram o Pacto Global para a Migração. O governo alega que o acordo poderia encorajar a entrada ilegal de imigrantes, colocando em xeque a política australiana de combate ao tráfico de pessoas”.

Entenda o caso

Desde cedo, Hakeem Al-Araibi frequentou as seleções de base do seu país, mas a sua promissora carreira – e a sua vida – começariam a sofrer ameaças em 2012. Durante aquele ano, enquanto ainda era jogador do clube Al-Shabab, ele foi surpreendido por uma abordagem policial enquanto caminhava na rua, e acabou sendo levado preso. A acusação oficial era de que ele e seu irmão haviam vandalizado uma delegacia de polícia, fato que o jogador nega absolutamente. Ele afirma que estava jogando futebol na hora do ocorrido o qual ele estava sendo acusado, e há de fato imagens que comprovam essa sua alegação, pois o jogo em que ele estava jogando estava sendo transmitido pela televisão. Mesmo com a comprovação, Hakeem ainda ficou três meses preso, só saindo mediante o pagamento de fiança. Durante o período, ele afirma que foi torturado por diversas vezes.

Essa perseguição que Al-Araibi sofre, ele acredita, começou em 2011. No contexto da primavera árabe, o seu irmão participou de protestos que criticavam o governo do Bahrein e exigiam mais democracia no país – uma monarquia constitucional onde o primeiro-ministro e todos os membros do governo são parte da família real. Passado o período das manifestações, o governo começou a perseguir e retaliar os seus críticos. Acrescenta-se a isso o fato de que o jogador e sua família serem muçulmanos xiitas, minoria no Bahrein em relação aos muçulmanos sunitas, religião da dinastia que governa o país, a família Al-Khalifa, e também das classes dominantes.

Em 2014, enquanto estava no Qatar servindo à sua seleção nacional, Hakeem foi informado de que ele e seu irmão haviam sido condenados a dez anos de prisão em razão das acusações de vandalizar a delegacia de polícia. A condenação, à sua revelia, foi baseada em uma confissão coagida de seu irmão, obtida sob sua tortura enquanto ele já estava detido.

Então com 20 anos, Hakeem tomou a difícil decisão que todo migrante forçado tenta evitar ao máximo, mas acaba sendo obrigado a tomar: ele não tinha mais outra opção a não ser buscar proteção em outro país, para assegurar seus direitos humanos fundamentais, pois esses direitos não estavam mais garantidos em seu país de origem.

Com informações de The Guardian, BBC e Global Voices

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