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segunda-feira, dezembro 30, 2024

Cara do Mundo: Documentário traz narrativas de imigrantes e refugiados em SP

Com a ideia de conhecer o mundo sem sair de São Paulo, jovens produtores descobrem um globo sem fronteiras e humano

Por Amanda Louise
Em São Paulo (SP)

Como estamos recebendo os imigrantes e refugiados? É nesse questionamento que o público é convidado a prestigiar o documentário “Cara do Mundo”, produzido por ex-alunos da Escola de Jornalismo – iniciativa da agência Énóis Inteligência Jovem, que traz narrativas de imigrantes e refugiados que vivem na cidade de São Paulo.

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Oito jovens, à época da produção com idade entre 18 e 24 anos, residentes de diferentes cantos da capital paulista, imergiram no cotidiano de oito pessoas de distintas nacionalidades no intuito de conhecer o mundo por meio de imigrantes e refugiados; para entender as dificuldades, expectativas e relações formadas com o Brasil.

Produzido em meados de 2016, os produtores buscaram personagens que retratassem as peças que constroem a metrópole. “No começo procuramos órgãos e instituições que ajudavam refugiados e imigrantes. Mandamos e-mail para saber se essas pessoas poderiam ser a nossa ponte”, explica Evelyn Oliveira, de 25 anos, uma das envolvidas na construção do documentário. Ela enfatiza a burocracia das organizações nas mediações dos contatos, por nem todo imigrante e refugiado querer se pronunciar. “A ponte, na verdade, não estava dando a ajuda que a gente estava precisando. E aí, começamos a ir a campo. Foi nessa que encontramos todos os personagens”, complementa.

Equipe do documentário “Cara do Mundo”, sobre imigrantes e refugiados em São Paulo.
Crédito: Divulgação

Aos poucos, encontraram alguns dos integrantes da cosmópole: sírio, senegalês, boliviano, chinês, haitiano, malinês e japonês. Entre eles, a cantora moçambicana Lenna Bahule. Erradicada no Brasil desde 2012, Lenna expõe em fala no filme que só soube o que era racismo quando chegou no país.

Se para conhecer as multiculturas presentes em São Paulo basta umas voltas por bairros como o Bom Retiro e Liberdade, ou mesmo uma visita em eventos como a Festa do Imigrante, é com o documentário “Cara do Mundo” que se percebe como é ser um imigrante e refugiado na cidade. Da decisão de deixar a terra natal ao choque de costumes e luta pelo espaço para manter as próprias tradições.

A cantora moçambicana Lenna Bahule, radicada no Brasil e uma das personagens do doc. Cara do Mundo.
Crédito: Divulgação

O que era para ser somente uma forma de percorrer o mundo com toda diversidade cultural dentro da capital, os exploradores ganharam mais que um filme excepcionalmente bem construído: o entendimento sobre empatia. Mary Silva, de 22 anos, foi uma delas: “A gente se conheceu e conheceu o outro, ampliando nossa rede e potencial de conhecer e olhar o outro”, aponta.

Para Evelyn Oliveira, o experimento também valeu para construir a crítica da bolha social que não permite o contato com essas pessoas: “a gente vive aqui, temos os nossos amigos e acabamos trocando só com quem está muito próximo e tem coisas em comum. E quem está distante, a gente se fecha e evita ao máximo, acha que essas pessoas não têm nada a acrescentar na nossa vida”.

Pessoas de diferentes partes do mundo vivem em São Paulo. Doc. foi atrás de algumas delas.
Crédito: Divulgação

Foi o modelo de narrativa escolhida para o documentário que intensificou o contato com os imigrantes e refugiados. Saíram de trás das câmeras e passaram a ser protagonistas da própria história desenvolvida.

“Percebi que com a ideia do doc, estava pensando muito em lugar, viajar o mundo e conhecer lugares. Aí a gente começou a falar com as pessoas, vi que não importa aonde você vá, qual parte do globo esteja, são pessoas como eu e você. É como se eu tivesse indo um pouco para a realidade dela, não só o lugar, mas como pessoa”, clarifica Tiago Luan, famoso entre os colegas como Tuiuiú, de 23 anos.

Com a experiência adquirida com o filme, questiona como ele se portaria no lugar do outro, na mesma situação de precisar emigrar para outro país. Ainda ressalta o fato de pessoas viverem em países que estão em guerra: “Devemos parar de pensar nos lugares só como propriedade e olhar mais para o outro como pessoa.”

De acordo com publicação da página oficial do filme, o documentário já foi assistido por mais de 300 pessoas em salas de cinema, inclusive no Circuito Spcine, desde que estreou em abril deste ano.

Na noite do último dia 13 de junho, o malinês Adama Konate foi prestigiar à derradeira exibição do filme antes da divulgação em plataformas de vídeo. Konate mora no Brasil há cinco anos e é um dos personagens que têm a história contada pelo documentário. Ativista, foi membro do Conselho Municipal de Imigrantes (CMI) no biênio de 2017/2018, e hoje palestra sobre a imigração. Aceitou participar do documentário pela importância de ajudar o próximo, principalmente pelo trabalho com os imigrantes. “Gostei de participar do projeto, gosto dessas coisas, não só para mim. A importância de dar as mãos e um ajudar o outro”.

O malinês Adama Konate, um dos personagens do documentário.
Crédito: Divulgação

Independente do motivo que fizeram os imigrantes e refugiados saírem do país de origem, como mostra o documentário, é no Brasil que eles encontram espaço para ser quem são, para tentar melhorar as condições financeiras ou, como declara Konate no filme, “é no Brasil que encontramos paz”.

Especialmente neste mês de junho, onde a temática acerca dos refugiados vem sendo discutida diante dos novos dados do relatório Tendências Globais (Global Trends), os produtores disponibilizaram o filme para fomentar o debate e lembrar o Dia Internacional do Refugiado (20/06) e Dia do Imigrante (25/06).

Imigrantes e refugiados de diferentes nacionalidades estão presentes na população paulistana. Documentário foi atrás dessas pessoas e suas histórias.
Crédito: Divulgação

Documentário: “Cara do Mundo”
Direção: Raphael Erichsen com Carolina Serrano, Agnis Freitas, Ariane Assunção, Evelyn Oliveira, Tiago Luan, Maryane Silva e Vinícius Cordeiro.
Produção: Brasil, 2016.

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