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quarta-feira, janeiro 8, 2025

Como ficam os refugiados sírios pelo mundo com o fim do regime da família Assad

Mais uma vez os refugiados sírios vivem incerteza em âmbito global, tanto quanto ao status de proteção recebido mundo afora quanto a uma possível volta a um país cujo destino ainda é uma incógnita

Por André Gabay Piai

Há exatamente um mês, mais exatamente em 8 de dezembro de 2024, milhares de sírios comemoraram a queda de Bashar al-Assad após avanço de tropas de oposição para a capital, Damasco. Quantos aos refugiados sírios presentes na Europa, manifestações foram convocadas em diversas cidades pelo continente em aceno ao fim de uma era. Se por um lado a queda da ditadura – cuja duração foi de 54 anos – simboliza a renovação das esperanças quanto ao destino do país, por outro lado, o fim do regime desenha um futuro incerto para os sírios que buscam refúgio no continente europeu, cada vez mais marcado pela ascensão da extrema direita e pelo discurso de rechaço às migrações. 

Assim, os novos desdobramentos da guerra civil na Síria trazem novamente à baila a questão dos refugiados, amplamente acolhidos em países vizinhos – como é o caso da Turquia e do Líbano – e pelos países-membros da União Europeia. Estima-se que os anos de guerra tenham gerado 6 milhões de refugiados sírios pelo mundo, dentre os quais, pelo menos 1 milhão está na Europa.

Apesar de celebrada por alguns líderes europeus, a queda do regime de Bashar al-Assad suscitou múltiplas questões acerca dos refugiados sírios no continente. No contexto de uma fase política bastante instável e delicada, somada à ascensão da extrema-direita nos principais países do europeus, as principais potências do continente buscam responder qual será o destino dos pedidos de asilo político feitos por cidadãos sírios. Quantos aos cidadãos sírios já reconhecidos refugiados, estes se perguntam se é seguro voltar à Síria. 

O forte clima anti-imigrante, cada vez mais presente no cotidiano político do continente, faz com que a situação dos refugiados sírios seja, novamente, instrumentalizada. Não à toa, o endurecimento dos discursos de alguns candidatos angariará mais votos à extrema direita. Neste contexto, diversos líderes políticos têm se perguntado se a proteção de cidadãos sírios ainda é legítima, na medida em que a razão pela qual eles fugiram de seu país – a ditadura e a guerra civil – já não está mais presente. 

Mais uma vez, o destino dos sírios é mergulhado em incerteza, dado que agora terão de conviver com a possibilidade – real ou eleitoreira – de ter sua proteção revogada e, consequentemente, ter de voltar a um país cujo destino ainda é incerto, dado o caráter recente das mudanças. 

Dadas as atuais circunstâncias, países como Alemanha, Itália e França suspenderam a análise de pedidos de asilo político de cidadãos sírios indefinidamente. A França e a Alemanha enfrentam, neste momento, uma forte instabilidade política em nível interno, com a extrema direita à espreita do poder. A Itália já é, desde 2022, governada pela extrema direita. Essa decisão foi tomada por alguns países europeus menos de 24 horas após a queda de Assad. 

Na Alemanha, onde eleições antecipadas foram convocadas, o debate acerca das migrações é um tema central ao pleito. Não raramente, as campanhas políticas são compostas de promessas de expulsão em massa de estrangeiros indocumentados e punições severas à imigração irregular. O envio de refugiados de volta à Síria já faz parte dos debates político e jurídico na Europa.   

Por fim, apesar de a queda do regime de Bashar al-Assad representar o fim de uma era na Síria, não se pode esperar, de imediato, que a situação no país volte ao normal após mais de 50 anos de ditadura. Entretanto, um desdobramento político tão radical abrirá, sem dúvidas, caminho para uma reavaliação da gravidade da situação na Síria e, por consequência, levará à reavaliação da proteção concedida aos refugiados da guerra civil. 


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