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sábado, novembro 9, 2024

Fluxo de refugiados nas fronteiras da Europa diminui mais de 50% em três anos

Para especialistas, decisões políticas e “adaptação do fluxo migratório” estão entre as causas da redução

Por Victória Brotto
De Estrasburgo (França)
Atualizado em 14/08/18, às 11h48

O número de requerentes de asilo que chegam à Europa caiu 53,55% no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2017.  É o que mostram os números divulgados pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) e da Eurostat, órgão europeu de pesquisa e estatística.

De acordo com a Eurostat (veja aqui a tabela, em inglês), instituição de pesquisa e divulgação de dados da União Europeia, os 28 Estados-membros da União Europeia receberam em 2015 1.322.844 requerentes de asilo. Em 2016, o número baixou para 1.260.908 e, um ano depois, em 2017, ele foi para 708.583.

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Somente via Mar Mediterrâneo, a OIM mostra uma baixa de 17.9%  nas travessias de refugiados em relação a três anos atrás.  Em 2015, o órgão registrou 1.030.475 pessoas chegando a países como Itália, Grécia e Espanha.  No ano seguinte, 2016, foram 392.929. E em 2017, 186.768. Ou seja, 852 mil pessoas (17.9%) a menos decidiram cruzar o Mediterrâneo para chegar à costa de países europeus no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2017.

Ao contrário do que o senso comum leva a crer, número de refugiados chegando à Europa diminui ano a ano desde 2015.
Crédito: ACNUR

De acordo com o porta-voz da OIM, Ryan Schroeder, esta diminuição se deve a fatores como um maior controle policial em países como Turquia e Líbia. “Em 2015, as  travessias via rota oriental do Mediterrâneo, por exemplo, diminuiu drasticamente após o acordo fechado entre a Turquia e a UE que decorreu de um maior controle da Turquia da sua costa”, explicou, por e-mail.  “Em julho de 2017, os números começaram a baixar também na rota central depois de operações das autoridades líbias trazendo migrantes de volta para a Líbia”, acrescentou. “Na primeira metade de 2018, para cada três migrantes que tentam a travessia via Líbia, um é pego e levado de volta”.

Questionado se baixa pode ser uma tendência para os próximos anos, o porta-voz da OIM afirmou “ser impossível de prever”, mas que os números continuarão “mais baixos do que os de 2015-2016”.

Para o especialista em migrações, Gonzalo Fanjul, cofundador do site espanhol porCausa e coeditor do blog 35 Milliones, do jornal El País, esta baixa é, na verdade, “uma adaptação por parte do fluxo de refugiados”. Perguntado pelo MigraMundo se esta adaptação era resultado das decisões políticas da UE de restringir o acesso às fronteiras, como fez a Itália, ele afirmou que “em parte.”

“Creio sim que a decisão de fechar a rota central do Mediterrâneo recusando barcos de resgates influenciou nessa adaptação de fluxo, bem como os acordos com a Turquia e a decisão do Marrocos de segurar os migrantes passando por seu território controlando as fronteiras depois que fechou um acordo de 55 bilhões de euros com a UE”.

Mas o que impressiona Fanjul é o fato da UE estar se “desmoronando” diante da questão. “Muitas outras regiões do mundo têm lidado com desafios humanitários muito piores, muito mais complexos e não desmoronaram como a União Europeia está desmoronando hoje diante da questão migratória”.

Mais de 270 refugiados são resgatados próximos à costa espanhola.
Crédito: F. Malavolta/ACNUR

Em artigo publicado em julho no portal Foreign Policy, Fanjul afirmou que “prioridades fora de lugar” estariam “distorcendo a moral da Europa e mudando as suas políticas a níveis nunca antes vistos.”

Para a OIM, tal “desmoronamento” se deve à “ausência de um sistema de migração integrado na Europa, de solidariedade e de responsabilidades compartilhadas”. “Alguns políticos continuam a diluir a questão migratória para ganho político, criando pânico para então poderem justificar suas medidas restritivas”, afirma Schroder.

Para Smaïn Laacher, sociólogo, professor de sociologia da Universidade de Estrasburgo, na França, e autor  do livro  “Acreditar no inacreditável: um sociólogo na Corte Nacional do Direito de Asilo” (Gallimard, 2018),  existe o problema na questão migratória é o de acolher.

“Quando os políticos dizem crise, eles querem dizer que há um problema. E qual é o problema? O de acolher. A migração não existe sem essa problemática, o acolher é substancial nos movimentos migratórios (…) e foi sempre um grande desafio para sociedades organizadas se posicionarem sobre a hospitalidade e a acolhida de movimentos migratórios”.

Fluxo migratório de refugiados

Um fluxo de milhões de pessoas migrou dentro da África, Oriente Médio e também em direção à Europa a partir de 2015 – fluxo este conhecido como segunda grande vaga migratória do século. Situações como a guerra na Síria e a crise de fome na região africana do Sahel obrigaram milhões de pessoas a fugir de seus países.

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), de cinco pessoas forçadas a se deslocar internacionalmente, quatro se refugiam em países vizinhos. “Existe uma ideia de que a maioria dos refugiados está abrigada no Norte do globo. Mas os números mostram o contrário: 85% das pessoas que fogem se refugiam em países em desenvolvimento, países estes extremamente pobres e que recebem pouco suporte para cuidar dessa população”, afirmou a agência em relatório sobre refúgio em junho deste ano, o Global Trends (Tendências Globais, na tradução para o português).

Ou seja, deste total, 15% – ou 1 pessoa dentre 4 – decide tomar rotas maiores e mais perigosas para se abrigar em regiões distantes, como a União Europeia, por exemplo.

“A falta de uma rota adequada e legal para refugiados chegarem à Europa é algo grave. Uma rota possibilitada por vistos humanitários, ou vistos temporários de trabalho, de estudos– e que não sejam somente para pessoas altamente qualificadas, mas para médios e pequenos trabalhadores.  Quando não há uma rota oficial e legal para migrar, as pessoas não têm outra opção que tomar vias irregulares, apelando para coiotes, que ganham cada vez mais dinheiro”, afirmou o porta-voz da OIM. “Nós acreditamos que a migração pode ser gerida, regulada e pode ser feita de uma maneira mais segura e ordeira”, acrescentou.

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