Coletivos de brasileiros que residem no exterior estão se organizando para fomentar a participação cidadã e política da comunidade, mesmo distante fisicamente da terra natal. E um dos frutos desse esforço deu origem à Frente Vota Brasil, de olho inicialmente nas eleições de 2022 – que incluem a definição do próximo presidente da República, o único cargo para o qual essa comunidade pode votar.
Lançada oficialmente na última segunda-feira, a iniciativa chega num contexto de expansão da comunidade brasileira expatriada. Dados do Ministério das Relações Exteriores apontam que cerca de 4,2 milhões de brasileiros residem no exterior. O número real, no entanto, é bem maior, já que não leva em conta pessoas em situação indocumentada e brasileiros que possuem uma outra nacionalidade.
Para Myriam Marques, que reside em Nova York e integra o coletivo DDB (sigla para Defend Democracy in Brazil), uma das organizações da Frente Vota Brasil, viver no exterior não deve significar uma renúncia à participação política e cidadã em relação ao país.
“Para nós, imigrantes, não é porque estamos longe que não temos que participar da nossa política. Nosso voto e nossa opinião são importantes. Com nosso trabalho duro aqui, movemos a economia de cidades inteiras, promovemos para nossas famílias a economia local de onde estão”.
Cidadania e defesa da democracia
Além do crescimento da comunidade brasileira no exterior, a mobilização ocorre também em um momento no qual o própria democracia é questionada por representantes do meio político e por certos setores da sociedade. Dessa forma, a frente também visa valorizar o processo democrático.
Esses aspectos foram ressaltados no evento de lançamento da rede por Maria Dantas, que entrou para a história ao ser eleita deputada pela Catalunha para o Parlamento espanhol, em 2019, que pediu ainda uma maior compreensão da migração brasileira para o exterior.
“A migração é algo muito sério e que o brasileiro precisa começar a discutir. Especialmente nestes dois últimos anos o Brasil vive um forte processo de emigração. E precisamos ir às urnas para redemocratizar o Brasil. A demcoracia precisa ser regada a cada dia, especialmente agora que há uma desconfiança em relação à cultura democrática”.
A Frente Vota Brasil 2022 vai desenvolver uma série de ações, como a criação de comitês regionais para incentivar o engajamento cívico das brasileiras e dos brasileiros. Também vai ser colocada em curso uma campanha de educação e informação para incentivar a participação da comunidade brasileira nas urnas em outubro de 2022. Apesar do desafio que representa a mobilização dessa comunidade, o sentimento é de otimismo.
“Já temos dez Comitês espalhados nas regiões onde estão os Consulados brasileiros. A expectitava de participação é grande. Para tal estamos focando na defesa da democrcaia no Brasil, a realização das eleições e o respetio aos resultados do pleito qualquer seja o vencedor. Estamos também focando nas questões práticas que afetam a vida do imigrante brasileiro”, comentou o economista Álvaro Lima, que trabalha na Prefeitura de Boston (EUA) e também integra a Frente, além de ser pesquisador da diáspora brasileira.
Oportunidade de mudança
De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), os eleitores brasileiros no exterior depositaram 403.932 votos válidos no primeiro turno da eleição de 2018, mais que o triplo do verificado em 2014 (132.624 votos). No segundo turno, foram 212.046 votos. Com o crescimento da comunidade expatriada, há espaço para que essa participação também cresça.
Nos dois turnos de 2018 a comunidade brasileira no exterior apoiou de forma massiva o então candidato Jair Bolsonaro, que acabou eleito. Foram 61% dos votos válidos no primeiro turno e 71% no segundo turno, em um movimento marcado pelo sentimento de aversão ao PT, assim como ocorreu no cenário nacional.
Já nos primeiros meses do governo Bolsonaro, diante de ações como a saída do Brasil do Pacto Global para a Migração e de falas depraciativas sobre brasileiros que chegam sem documentação aos Estados Unidos, a comunidade brasileira mostrou certa divisão.
Para Myriam, a próxima eleição pode ajudar a mudar a imagem negativa que foi sendo construída em torno do país nos últimos anos. Um dos efeitos imediatos dessa situação foi a dificuldade que estudantes brasileiros de pós-graduação encontraram para ingressar em universidades europeias, em razão do descontrole que a pandemia de Covid-19 alcançou no país até o avanço da vacinação frear os índices de contaminação. O Brasil ainda é o terceiro país no mundo com maior número de casos (21,7 milhões) e o segundo em mortes (606 mil) em razão do vírus, de acordo com a Universidade Johns Hopkins, referência no acompanhamento da pandemia.
“Morando no exterior , pudemos ver o total desgaste da imagem e das opiniões sobre nosso país. As eleições de 2022, se se configurarem como as pesquisas mostram agora, serão fundamentais para que o Brasil volte a ser um exemplo de país que se preocupa com a maioria do povo brasileiro: o que tem a cara da pobreza, da dificuldade, da exclusão, da fome, do trabalho em apps sem direito, do COVID pegado no ônibus. A campanha eleitoral é uma oportunidade também educativa para nossa comunidade”.
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