Instituição tem feito estudos sobre a temática migratória no Brasil, incluindo o que analisou as reações à Lei de Migração nas redes sociais
Por Rodrigo Borges Delfim
Em São Paulo (SP)
O debate em torno da Lei de Migração, acompanhado desde os primeiros passos pelo MigraMundo, ganhou novos contornos com o fim da tramitação no Congresso e a sanção presidencial com vetos, especialmente nas redes sociais.
Esse movimento foi analisado em um estudo recente da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV (DAPP/FGV), a partir de 60,5 mil citações sobre o tema entre os dias 17 de abril e 25 de maio – que coincidem com a véspera da aprovação pelo Senado e a data da sanção da nova lei. O relatório completo pode ser acessado neste link.
Nas redes sociais imperou o discurso de ódio em relação à proposta e ao fenômeno migratório, com destaque para os apelos ao presidente, Michel Temer, que vetasse a Lei de Migração. De acordo com essa corrente, a proposta promoveria uma entrada massiva de “terroristas, comunistas e traficantes”. As mais usadas foram as hashtags #vetatemer (22,6 mil), #migracaoveta (1,9 mil), #migracaonao (1,3 mil) e #vetamigracaotemer (1,3 mil).
Já as postagens favoráveis à Lei de Migração, de acordo com o estudo, se concentram em criticar a posição dos que se opõem, argumentando-se que há incoerência com a realidade. A hashtag #MigrarÉdireito, que foi a mais empregada entre os grupos de apoio aos migrantes, não aparece entre as mais compartilhadas no Twitter.
Embora o discurso negativo em torno da Lei nas redes sociais já fosse esperado pelo DAPP, o que surpreendeu a equipe no estudo foi a citação ao terrorismo islâmico entre os principais argumentos dos opositores da lei, uma vez que o país não possui casos desse tipo.
“Parece mais fácil mobilizar usuários das redes em repúdio a essa causa do que em favor da migração. Esse tema ainda é muito pouco debatido no Brasil, e a escassa discussão carece de maior reflexão sobre os potenciais efeitos da migração para o país”, apontou a equipe da DAPP/FGV em entrevista ao MigraMundo.
Os dois dias que mais concentraram menções à Lei de Migração, de acordo com o estudo, foram em 19 de abril (um dia depois da aprovação da lei no Senado) e 15 de maio (véspera da terceira manifestação em repúdio à lei), após os incidentes de violência registrados em protesto anterior, de 2 de maio.
A DAPP pondera que o estudo não tem como objetivo debater as causas da rejeição à Lei, que teriam que ser investigadas por outras abordagens. Mas por meio da DAPP, a FGV tem produzido outros estudos focados em imigração como vetor estratégico do desenvolvimento, que podem ser consultados no site da Diretoria.
O mais recente deles, lançado na última quarta-feira (21), debate como a nova Lei de Migração pode ajudar na inserção dos migrantes no mercado de trabalho e pode ser consultado por meio deste link.
“A Lei de Migração é mais um passo importante para avanços no tratamento da questão migratória no Brasil, como sugerem estudos da FGV/DAPP sobre o papel da imigração como vetor do desenvolvimento. Os avanços da lei incluem a eliminação de discriminações contra imigrantes, a facilitação da regularização migratória e a não criminalização da migração”, conclui a equipe da DAPP.
A diretoria, o entanto, não deixou de criticar alguns dos vetos presidenciais, como a remoção da definição de migrante, da livre circulação dos povos indígenas em terras tradicionalmente ocupadas (Art. 1º), e da permissão para imigrantes exercerem cargos públicos. “Esses elementos demonstram que as oportunidades que a imigração oferece ao desenvolvimento ainda devem ser debatidas no Brasil”.