Por Dominique Maia
A rota migratória do Mar Mediterrâneo não é a única via marítima na qual migrantes de diferentes origens arriscam as próprias vidas. Outros locais pelo mundo também têm registrado grande movimentação e vítimas, evidenciando desafios de ordem global e local na governaça das migrações e na garantia de dignidade para as pessoas em deslocamento.
Em junho de 2024, um barco que transportava migrantes naufragou na costa do Iêmen, país no sul da Península Arábica, resultando na perda de pelo menos 49 vidas, enquanto outras 150 pessoas permanecem desaparecidas. Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), a embarcação levava mais de 260 migrantes, a maioria vindos da Somália e da Etiópia, em uma tentativa de alcançar os países do Golfo Pérsico.
O naufrágio ocorreu próximo ao ponto de Alghareef, na província de Shabwah, durante uma viagem de aproximadamente 320 quilômetros (200 milhas), ocorrida no dia 10 de junho. Conforme relatos de sobreviventes, o barco partiu de Bosaso, na Somália, por volta das 3h da manhã no dia 09 de junho, transportando 115 somalis e 145 etíopes, incluindo aproximadamente 90 mulheres. Entre as vítimas estavam 31 mulheres e seis crianças, conforme informado pela OIM.
Segundo Mohammedali Abunajela, porta-voz da OIM, essa tragédia evidencia a necessidade urgente de cooperação para enfrentar os desafios críticos da migração e garantir a segurança dos migrantes nessas rotas.
Entre os 71 sobreviventes, oito foram transferidos para um hospital para tratamento de lesões graves, enquanto os outros 63 receberam primeiros socorros no local, incluindo atendimento médico e curativos em uma unidade móvel de saúde. Além disso, psicólogos da OIM estão fornecendo suporte em saúde mental para 38 pessoas.
Entre os desafios enfrentados pela agência da ONU, destaca-se a escassez de barcos de patrulha operacionais para a busca e resgate, à medida que mais corpos são encontrados ao longo da costa. Além disso, a comunidade local tem colaborado nos esforços de recuperação e sepultamento dos falecidos em Ayn-Bamaabed.
Guerra Civil no Iêmen intensifica crise humanitária para migrantes
Apesar da prolongada guerra civil no Iêmen, o fluxo de migrantes africanos para a região triplicou entre 2021 e 2023, aumentando de cerca de 27 mil para mais de 90 mil anualmente, como apontado anteriormente pela OIM. Atualmente, estima-se que cerca de 380 mil migrantes estejam no Iêmen, utilizando-o como ponto de passagem para tentar alcançar os países do Golfo Pérsico em busca de oportunidades de trabalho.
Esses migrantes, em sua maioria provenientes do Chifre da África, enfrentam viagens arriscadas pelo Mar Vermelho, buscando escapar de conflitos, desastres naturais e condições de pobreza em suas regiões de origem. Tragédias anteriores, como os naufrágios recentes ocorridos na costa do Djibouti, ilustram os perigos enfrentados por aqueles que buscam melhores condições de vida através dessa rota migratória.
A situação de migrantes no Iêmen é ainda mais desafiadora devido à guerra civil que assola o país há uma década, exacerbando as dificuldades enfrentadas por aqueles que conseguem alcançar o território iemenita.
O objetivo final para muitos desses migrantes é alcançar países mais prósperos, como Arábia Saudita e outros países do Golfo, onde esperam encontrar oportunidades de trabalho, especialmente nos setores de construção civil ou serviços domésticos.
Em agosto de 2023, a Human Rights Watch acusou os guardas de fronteira sauditas de estarem envolvidos na morte de centenas de migrantes etíopes que tentavam atravessar a fronteira do Iêmen para a Arábia Saudita entre março de 2022 e junho de 2023. Em resposta, Riad refutou as conclusões do relatório da ONG, argumentando que estas não se baseavam em fontes confiáveis.
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Perigos da migração irregular na rota migratória pelo Iêmen em direção ao Golfo Pérsico
Nos últimos anos, a rota migratória que se estende do Chifre da África até os países do Golfo tem se destacado como uma das mais perigosas e movimentadas do mundo, registrando um alto número de incidentes fatais. De acordo com dados recentes da OIM, ao longo da última década foram documentadas 1.860 mortes e desaparecimentos de migrantes ao longo desta rota, dos quais 480 foram atribuídos a afogamentos.
A maioria dos migrantes que seguem essa rota não têm outra opção senão recorrer a viagens por rotas irregulares, muitas vezes tendo que confiar suas vidas a contrabandistas para facilitar sua travessia. A ausência de rotas seguras agrava ainda mais os desafios enfrentados por essas pessoas, colocando-as em condições extremas enquanto buscam segurança e melhores condições de vida.
O fluxo contínuo de migrantes ao longo desta rota sublinha os desafios enfrentados por migrantes e refugiados, expondo-os a perigos físicos e legais ao longo da jornada migratória. As autoridades internacionais e os governos envolvidos têm sido desafiados a lidar com essa complexa questão, buscando soluções que garantam a segurança e os direitos dos migrantes, ao mesmo tempo em que abordam as causas profundas que impulsionam esses movimentos populacionais.