Apesar de expressar amor pelo Brasil e pelos brasileiros, o refugiado sírio Mohammad Ali tem enfrentado poucas e boas para se manter no país onde vive há quatro anos.
Até 30 de abril de 2021, o advogado e cozinheiro de formação tinha uma barraca batizada de “Salgado do Sírio” no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Nesse dia, ele afirmou que guardas civis o abordaram com truculência pela falta da licença para poder trabalhar na rua.
O vídeo com a abordagem sofrida por Mohammad foi publicado em suas redes sociais. Nele, é possível ver que pelo menos quatro guardas civis o imobilizaram no chão e o algemaram, sob protestos de pessoas ao redor.
Em seguida, ele foi colocado em uma van, que o levou à delegacia, de onde foi liberado horas depois. Desde então, não conseguiu retomar a atividade, porque seu equipamento foi quebrado durante a ação.
“Eu amo o Brasil e os brasileiros, e ninguém merece isso. Tem pessoas que pagam propina e conseguem tudo o que querem, enquanto outros trabalham duro e sofrem”, desabafou, em conversa com o MigraMundo.
Sem licença, sem trabalho e sem renda
Mohammad contou que tenta obter a licença para trabalhar na rua desde março de 2018, data do protocolo de solicitação da licença junto à Prefeitura do Rio. Mas até o momento a autorização não foi concedida. O sírio disse ainda que exibiu o documento aos agentes, mas foi ignorado.
“Já saíram várias licenças depois que eu pedi, e a minha até agora não saiu”, ressaltou.
Sem o ganha-pão, ele vive em um quartinho e tem sua renda no momento apenas a partir do auxílio emergencial, programa criado pelo governo federal para atender pessoas em situação de vulnerabilidade econômica. No entanto, o benefício pode ser encerrado neste mês de novembro, o que torna a situação de Mohammad ainda mais incerta.
“Só Deus que sabe”, afirmou o ambulante, sobre como tem conseguido se manter sem poder preparar e vender os salgados.
O que diz a gestão municipal
Questionada pelo MigraMundo, a Guarda Municipal do Rio informou que o sírio não possuia autorização para atuar no local e resistiu a abordagem dos fiscais da Seop (Secretaria Municipal de Ordem Pública do Rio), tendo puxado os produtos apreendidos das mãos dos agentes. E que a atuação dos agentes foi em apoio e para assegurar a integridade física dos fiscais.
Já a Seop informou que está analisando três processos em nome do ambulante referente a comercialização de produtos no bairro da Tijuca. Ainda de acordo com a secretaria, no último dia 29 saiu um despacho autorizando a atividade, com ressalva relacionada à localização, pois há um decreto municipal que impede o assentamento de barracas no trecho da Rua Conde de Bonfim, onde o homem costumava atuar.
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