Por Pe. Alfredo J. Gonçalves
Neste dia de 1º de Maio, comemoramos o Dia Mundial dos Trabalhadores e Trabalhadoras; em 28 de abril, celebramos o Dia Mundial da Educação; e na data de 25 de junho, no Brasil, celebramos o Dia Nacional do Migrante. Três datas complementares e intrinsecamente ligadas.
O trinômio trabalho-educação-migração, com efeito, faz parte integrante da existência de cada um de nós e de toda a humanidade. Teoricamente, a educação/estudo leva a uma melhor inserção no mercado de trabalho em particular e na sociedade em geral. Já o mundo do trabalho, por seu turno, pressupõe trabalhadores e trabalhadoras devidamente preparados, capacitados, qualificados. Qualquer emprego hoje requer formação adequada, ao passo que a educação abre novas portas para uma contribuição na específica na economia e nas relações sociais que vamos tecendo ao longo da existência. Trabalho e educação, por outro lado, estão no pano-de-fundo de não poucos movimentos migratórios. A busca de vida nova em novo lugar envolve sempre o estudo e o emprego.
Com razão, muitos pais encaminham seus filhos para a escola e a universidade “para que eles não tenham que passar por aquilo que nós passamos”. O que muitas vezes significa que os filhos não tenham que passar pela dramática travessia da migração. Uma formação sólida e robusta constitui o caminho mais seguro para a chamada “mobilidade social”, isto é, a elevação do nível de vida. E inversamente, a falta de estudo e/ou de qualificação especializada deixa muitos jovens pela metade da estrada. E com o risco de cair nos becos sem saída do abandono, das ruas e praças, do consumo viciado de álcool, da prostituição precoce, das drogas ou de tragédias ainda mais graves. A mobilidade social, por sua vez, com frequência exige mobilidade humana, geográfico-territorial, transferência da terra natal a um outro país ou região.
Divórcio do trinômio trabalho-educação-migração
Resulta que, de algumas décadas até os dias de hoje, na história recente de muitos países (o Brasil incluído), o trinômio trabalho-educação-migração vem sofrendo um divórcio cada vez mais acentuado. Grande parte de estudantes recém-formados não encontram emprego e colocação na área para a qual se prepararam. Por outro lado, determinadas vagas na oferta de trabalho contemporânea deixam de ser preenchidas, precisamente por falta de uma capacitação específica no ramo solicitado. Daí a migração considerável e persistente de mão-de-obra especializada, ou de cérebros, como se costuma dizer.
Nas últimas cinco décadas, podemos dizer assim, quantas profissões desapareceram do mercado de trabalho e quantas outras foram criadas? Essa pergunta puxa pelo fio da meada: como acompanhar, e minimamente se preparar para tais mudanças vertiginosas no campo trabalhista da produção? Como acompanhar a evolução técnica e científica? Interrogações dessa natureza bombardeiam, simultaneamente, o mundo do trabalho, o mundo acadêmico e o mundo da mobilidade humana. Quantos países, em sua população trabalhadora, se revela descompassado com os avanços tecnológicos recentes e cada vez mais acelerados.
O resultado mais imediato, convém não esquecer, consiste em constatar que uma série de bons profissionais acaba por aceitar determinados serviços e encargos que pouco ou nada têm a ver com sua escolha, sua opção primeira, seus desejos e aspirações ou, se quisermos, sua vocação.
Paradoxo e enigma
O paradoxo se mantém estridente: muitos profissionais indevidamente qualificados, por uma parte, e, por outra, uma porção de vagas à espera de trabalhadores adestrados para novas áreas de especialização recente e quase desconhecidas. O enigma pode ser visto, justamente, pelo enfoque da mobilidade humana: quantos jovens apenas diplomados migram para o exterior em busca de novas oportunidades, enquanto algumas empresas não conseguem encontrar profissionais para os postos inovadores, que vão surgindo com a velocidade dos tempos contemporâneos!
No decorrer do século passado, uma série de instituições públicas de educação técnico-profissional – no Brasil lembramos, o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e o SESC (Serviço Social do Comércio) – contribuíram para a inserção no mercado de trabalho. Com a revolução da informática, a fase mecânica foi superada pela fase eletrônica, associada ao uso massivo da Internet. Aí está o desafio: como preparar os jovens para as exigências de tamanha mudança? Como redesenhar os programas desse ensino técnico-profissional, sem deixar de lado a área das ciências sociais e humanas? Mais do que nunca, o desemprego, o subemprego e o trabalho informal estão a exigir respostas urgentes e necessárias para o “desenvolvimento integral como novo nome da paz” (Populorum Progressio).
Sobre o autor
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs, é vice-presidente do SPM (Serviço Pastoral dos Migrantes)
Ótimo texto! tres áreas que devem estar sempre integradas!