Participantes pediram olhar mais humano sobre os migrantes e ações de combate à discriminações e xenofobia
Por Rodrigo Borges Delfim
Em São Paulo
Dezenas de entidades católicas ligadas ao atendimento e orientação de imigrantes em São Paulo e representantes de diferentes nacionalidades participaram de um ato neste domingo (29) no centro de São Paulo pelo Dia Mundial do Migrante e do Refugiado.
Cerca de cem pessoas saíram em caminhada da Praça da Sé, marco zero da capital paulista, até a Igreja Nossa Senhora da Paz, ponto de referência para migrantes na cidade, onde o ato terminou com uma missa – organizada pelas comunidades latinas que frequentam a paróquia.
Para este ano o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado – que chegou à sua 105ª edição – teve “Não se trata apenas de migrantes” como tema. Escolhido pelo Papa Francisco, o tema reflete preocupação por todos os habitantes das periferias existenciais, nas quais se encontram muitos dos migrantes (leia aqui a mensagem especial do Pontífice para a data).
Evocando o papa Francisco, o padre Antenor Dalla Vecchia lembrou que os migrantes são pessoas constituídas de dignidade e pediu sensibilidade da sociedade civil em relação à temática migratória.
“Que tenhamos sensibilidade em relação aos migrantes. Este é um dia especial, de encontro. E, conclamamos uma sociedade mais fraterna, mais humana. Não podemos aceitar mais a discriminação e o sentimento de ódio. Somos gente, temos coração e alma, que devem ser cuidados, as políticas não podem ser só para alguns. Quando nos congregamos, nos fortalecemos mais e mais”, disse o sacerdote durante a homilia da missa.
“É o egoísmo, o fechamento do nosso coração que causam tanto sofrimento. E que os cristãos abram seus corações e deem esse testemunho, de que a discriminação, a injustiça levam à morte de tantos filhos e filhas de Deus”, completou o bispo auxiliar de São Paulo Dom Eduardo Vieira, que presidiu a celebração.
A missa contou com leituras, orações e cânticos em espanhol, português, inglês e francês, contemplando os idiomas falados e compreendidos pelos fiéis presentes.
Ao final, foi servido um almoço – como é costume entre as comunidades latinas no último domingo de cada mês na paróquia. Para setembro a tarefa coube à comunidade paraguaia.
Dia de honra e de coragem
Durante o evento, participantes enfatizaram a necessidade de um olhar mais humano e sensível sobre as migrações e os migrantes, independente da origem, motivo do deslocamento ou status legal no país. E também cobraram das autoridades ações que visem a garantia de direitos de migrantes no país – previstos tanto na Lei de Migração como na Constituição Federal.
“É um dia de honra e de coragem [Dia Mundial do Migrante e do Refugiado]. [O Brasil] É um lugar que ajudamos a construir, onde podemos reconstruir nossas vidas”, comenta a venezuelana Marifer Vargas, uma das participantes do ato.
O evento também buscou encorajar os participantes a lutarem por políticas públicas para as populações migrantes e sua aplicação na prática. Também foi feito repúdio contra manifestações recentes de xenofobia e violência contra migrantes, como a morte de dois músicos bolivianos que ensaiavam em uma praça na zona norte de São Paulo, em agosto passado.
“Quem silencia sobre a xenofobia também é cúmplice dessa situação”, emendou o haitiano Keder Lafortuné, que integra o Conselho Municipal de Imigrantes, em funcionamento em São Paulo desde outubro de 2017.
Sobre a data
Celebrado pela Igreja Católica desde 1914, o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado a partir deste ano passa a ser lembrado sempre no último domingo de setembro – antes era em janeiro.
A mudança de data se deve aos pedidos de várias Conferências Episcopais, atendido pelo papa Francisco.
Durante seu pontificado, Francisco tem dado atenção especial à questão migratória. Em 2017, junto com a Cáritas Internacional, lançou a campanha “Compartilhe a Viagem”, que visa encorajar os católicos a se colocarem no lugar daqueles que se deslocam mundo afora.
Por meio da chamada “Cultura do encontro”, o papa tenta mudar a mentalidade em relação ao imigrante e ao refugiado – ainda muito marcada por atos de ódio e intolerância – nos países aonde costumam chegar em busca de proteção e de uma vida melhor.
Marcando as celebrações do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado deste ano, o Pontífice inaugurou uma escultura no Vaticano para homenagear as pessoas que buscaram – e ainda buscam – melhores condições de vida por meio de travessias.
“Esta escultura, em bronze e argila, retrata um grupo de migrantes de várias culturas e diferentes períodos históricos. Eu desejei essa obra artística aqui na Praça São Pedro, para que recorde a todos o desafio evangélico da acolhida”, disse Francisco, evocando um trecho de um dos livros do Novo Testamento, a Carta de São Paulo aos Hebreus. “Não vos esqueçais da hospitalidade, pela qual alguns, sem o saberem, hospedaram anjos.” (Heb 13,2)
Além da data promovida pela Igreja Católica, há o Dia Mundial do Refugiado (20 de junho) e o Dia Internacional do Migrante (18 de dezembro), ambas instituídas pela ONU. No Brasil tem ainda o Dia Nacional do Migrante, lembrado todo 25 de junho.